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Ricupero: Bolsonaro isola o Brasil com aula de antidiplomacia na ONU

Ex-embaixador nos Estados Unidos disse que discurso na Assembleia Geral afastará investidores por ter consolidado a fama do presidente como 'vilão global'

Por Edoardo Ghirotto
Atualizado em 24 set 2019, 16h03 - Publicado em 24 set 2019, 15h38

Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda e embaixador nos Estados Unidos em dois períodos (1974-1977 e 1991-1993), viu com preocupação os ataques que o presidente Jair Bolsonaro disparou em seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU). Para Ricupero, a fala de Bolsonaro consolidou a fama do Brasil como o novo ‘vilão global’ e afugentará empresas que buscam estabilidade para fazer investimentos de longo prazo.

“Falo como um diplomata profissional. Um discurso tão belicoso quanto o de Bolsonaro é quase uma aula de antidiplomacia. Além de ter acentuado o lado negativo ao falar do meio ambiente, ele hostilizou muita gente no Brasil e no exterior. E atacou a própria ONU. Pensava que ele não conseguiria agravar o seu problema de imagem, mas confirmou o que o público externo mais temia: o fato de ser uma pessoa sem abertura nenhuma para a diplomacia”, afirmou Ricupero.

Bolsonaro falou por 31 minutos na ONU e abriu frentes de ataques severos contra governos de esquerda no Brasil, a atitude da França diante dos incêndios na Amazônia e até mesmo o cacique caiapó Raoni Metuktire, uma das principais vozes contra as políticas indigenista e ambiental da sua gestão. Também tratou de temas que marcaram sua eleição para presidente, como a oposição ao Foro de São Paulo e à vinda de médicos cubanos para trabalhar no país.

O ex-embaixador disse não ter se surpreendido com a retórica empregada por Bolsonaro. “Ele foi coerente com quem ele é”, declarou. “Eu já imaginava que ele falaria algo para os seus apoiadores mais intransigentes. Ele pensa que corre um perigo maior no Brasil do que lá fora. Existe uma postura imediatista em sua fala e que não abrange um cálculo externo.”

Para Ricupero, o Brasil atraiu o desprezo que a comunidade internacional nutria anteriormente pelo presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte. O chefe de estado asiático ficou conhecido por ofender autoridades e empreender uma guerra às drogas que acarretou na morte de milhares de pessoas.

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“Hoje, o Brasil assumiu o papel de vilão global. Essa fama era do Duterte, mas ele se apagou muito e só vinha chamando a atenção por sua guerra às drogas. Não havia em torno dele um tema como a questão da Amazônia, que mobiliza as preocupações internacionais”, afirmou.

Ricupero entende que o Brasil pagará um preço elevado por ter optado pela via da confrontação. “Nenhuma empresa transnacional que prioriza boas práticas ambientais fará grandes investimentos no Brasil após esse discurso. Países isolados também têm dificuldades para se eleger para postos internacionais. Se o Brasil se envolver em problemas com outro país, verá que não tem amigos na busca por soluções. Sem contar que os acordos de livre-comércio, inclusive o do Mercosul com a União Europeia, ficarão hibernados por um longo tempo”, disse.

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