Presidente da OAB defende investigação sobre revelações contra Geisel
Memorando da CIA ao então presidente dos Estados Unidos, Henry Kissinger, afirma que general tinha conhecimento sobre execuções sumárias de presos políticos
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cláudio Lamachia, defendeu nesta sexta-feira uma investigação sobre as revelações de que o general Ernesto Geisel, presidente do Brasil entre 1974 e 1979, durante a ditadura militar, tinha ciência e orientou a execução de opositores do regime.
“É necessário investigar para que a sociedade conheça a verdade. É preciso jogar luz sobre os fatos obscuros do passado para que eles não se repitam jamais”, afirmou Lamachia em nota.
A descoberta foi feita a partir de um memorando interno do então diretor da CIA, Willian Colby, ao presidente americano Henry Kissinger. Trata-se de um dos milhares de documentos da relação dos Estados Unidos com a América do Sul entre 1969 e 1976 mantidos em confidencialidade por mais de quatro décadas e que, desde dezembro de 2015, estão disponíveis para consulta pública no portal do Escritório de História do Departamento de Estado.
De acordo com o memorando, Geisel foi avisado sobre “métodos extralegais” utilizados contra “subversivos perigosos” em uma conversa com o então diretor do Centro de Inteligência do Exército (CIE), o general e futuro presidente João Baptista Figueiredo, e os também generais Confúcio Avelino e Milton Tavares. Ciente de que 104 pessoas haviam sido submetidas a esses “métodos”, a execução sumária, o presidente autorizou a continuidade.
Para o presidente da OAB, a divulgação desses documentos é “um fato novo extremamente grave à discussão sobre o período”. No entendimento de especialistas ouvidos por VEJA, as novas revelações podem aumentar a pressão pela revisão da Lei da Anistia.
“O Supremo tem que retirar de seus arquivos empoeirados as ações que digam respeito ao interesse do povo brasileiro e parar de discutir aspectos políticos e mesquinharias para dar holofote a cada um de algum de seus ministros. Mesmo que seja para manter sua posição, mas que julgue o que esta lá”, afirmou Gilson Dipp, ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e primeiro coordenador da Comissão Nacional da Verdade (CNV).