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Por ‘repúdio à violência’, Tarcísio Meira foi vigiado pela ditadura

Ator foi citado em mais de uma dezena de arquivos do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI)

Por Hugo Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 14 ago 2021, 12h54

Tarcísio Meira, que morreu na quinta-feira, 12, vítima de Covid-19, foi monitorado por muitos anos pelo extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) e pela Polícia Federal, depois de criticar  a violência policial durante manifestações contra a ditadura. O nome dele aparece em mais de uma dezena de dossiês.

Em 4 de outubro de 1978, durante o governo do general Ernesto Geisel, a agência do SNI em Porto Alegre produziu um relatório confidencial no qual Tarcísio Meira era o principal personagem. O documento detalhava a atuação da Associação Profissional dos Artistas e Técnicos de Espetáculos do Rio Grande do Sul. Nele, os arapongas informavam que um fato grave ocorrera após a apresentação de uma peça de teatro que tinha Tarcísio Meira e Glória Menezes como protagonistas: o ator leu um manifesto.

Na nota, a Associação dos Artistas denunciava  agressões com “socos e cacetadas” da polícia durante o ato em favor da anistia — violência que refletia “o  clima de insegurança em que vive o povo brasileiro, tolhido do exercício da livre expressão e de um mínimo de liberdade concedido a todo ser humano”.

Na época, os agentes da ditadura enxergavam ameaças comunistas em qualquer tipo de manifestação.  “O tal manifesto de conteúdo político-ideológico contrário ao regime do país, contém ‘repúdio às violências policiais’ ocorridas em 5 de setembro de 78, durante manifestação pública em favor da anistia”, dizia a agência do SNI.

Por conta disso, Tarcísio Meira foi autuado e multado pelo Serviço de Censura e Diversões Públicas, da Superintendência da Polícia Federal em Porto Alegre, “por alteração de programação”.  O ator foi obrigado a prestar depoimento e explicou que a  a manifestação foi contra a ” política do regime militar”, e não contra a figura do presidente da República. “No aspecto pessoal, o ator em questão revelou ter simpatia pelo presidente Ernesto Geisel”, relatou o SNI.

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Tarcísio Meira
Tarcísio: repúdio à violência policial (Reprodução/Reprodução)

Os dossiês produzido pelo serviço de informações guardam diversas fotografias de Tarcísio Meira, muitas delas pela amizade e por trabalhos ao lado do ator Mário Lago, que era um marxista declarado. Em uma das imagens que estão no arquivo do SNI aparecem Tarcísio, Mário e Glória. Atrás da foto está escrito “Cavalo de Aço (TV Globo)”, uma referência à novela de 1973, na qual os três atores atuaram juntos.

Tarcísio foi monitorado pelos militares até no início do governo de José Sarney. Em 1986, já durante o governo Sarney, um  documento encontrado nos arquivos da inteligência do governo federal trata sobre eleições em São Paulo. Um dos  trechos enumera prováveis candidatos à Constituinte. Tarcísio aparece na lista como opção do PL.

Em 1991, o ator foi protagonista de uma novela chamada “Araponga”, na qual interpretava um detetive que trabalhava para a Polícia Federal, que tinha prestado serviços à ditadura militar, e que queria reativar o SNI.

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