Último Mês: Veja por apenas 4,00/mês
Continua após publicidade

Por que Doria terá de seguir ao lado do ‘inimigo’ Araújo na saga eleitoral

O candidato afastou da coordenação de sua campanha o presidente do PSDB, mas sabe que ele terá papel decisivo por causa da posição que ocupa na sigla

Por Bruno Ribeiro Atualizado em 4 jun 2024, 12h12 - Publicado em 23 abr 2022, 08h00
OBSTÁCULO - Araújo: cacique atua contra e ainda tem a palavra final sobre divisão das verbas de campanha -
OBSTÁCULO – Araújo: cacique atua contra e ainda tem a palavra final sobre divisão das verbas de campanha – (Iwi Onodera/UOL/Folhapress/.)

O PSDB encolheu consideravelmente no plano nacional depois do fiasco de Geraldo Alckmin nas eleições de 2018, mas a direção do partido parece não ter aprendido a lição, tanto é que vem acelerando quase que definitivamente rumo ao abismo no pleito deste ano. Trata-se de um impressionante caso de suicídio político movido a vaidades e disputas de poder entre seus caciques. Ao vencer as prévias dos tucanos no fim em outubro, João Doria ganhou o direito de encabeçar a chapa da sigla e, de forma oficial, portanto, virou a esperança da legenda para reconquistar o Palácio do Planalto depois de quase duas décadas. Mal começou a batalha para tentar se viabilizar à sucessão de Jair Bolsonaro, Doria vem perdendo mais tempo no esforço de tentar preservar sua posição de candidato do que em conquistar votos dos eleitores, em meio a um ninho de traições e de desconfianças dentro do PSDB.

Boa parte desse fogo amigo é disparada pelo presidente do partido, Bruno Araújo. Nos bastidores, ele já era considerado o principal inimigo íntimo de Doria e o racha se oficializou no último dia 15, quando o ex-governador o afastou da coordenação de sua campanha. Os dois já não se bicavam havia muito tempo, desde que o grupo de Doria tentou um desastrado movimento em 2019 para tomar o comando nacional do PSDB das mãos do próprio Araújo. Nas prévias do ano passado, o presidente tucano deu o troco, trabalhando firme a favor do governador gaúcho Eduardo Leite, que acabou derrotado, mas até hoje sonha em virar o jogo. Apesar desse histórico pouco amigável, o vencedor das prévias convidou Araújo para coordenar sua campanha presidencial, em um gesto que buscava o apaziguamento interno da sigla. “Esse foi um dos maiores erros políticos da carreira de Doria”, afirma um tucano próximo ao ex-governador paulista. De fato, como se viu, a estratégia de boa vizinhança não funcionou. Araújo aceitou a função meio que a contragosto, mas em pouquíssimo tempo a relação se deteriorou de vez.

ESTRATÉGIA - Doria: sem confiar em Araújo, ele negociará a aliança com União Brasil e MDB pessoalmente -
ESTRATÉGIA - Doria: sem confiar em Araújo, ele negociará a aliança com União Brasil e MDB pessoalmente – (Governo do Estado de São Paulo/.)

Em meio a dificuldades iniciais de uma caminhada que começa com Doria tendo 2% das intenções de voto e mais de 60% de rejeição nas pesquisas, o presidente do PSDB se mostrou um coordenador apático e continuou dando apoio indisfarçável às tentativas de Leite de driblar as prévias e viabilizar sua candidatura. Mas a gota d’água dessa relação conflituosa se deu quando chegaram aos ouvidos de Doria críticas feitas a ele por Araújo em encontros privados. Na tarde do último dia 14, o ex-governador foi informado por um amigo que Araújo esteve no restaurante Nino Cucina, no Itaim Bibi, em São Paulo, com Leite e o ex-prefeito de Porto Alegre Nelson Marchezan Jr. A conversa do trio teria girado ao redor de encontrar formas de fazer um dos aliados de Doria fora do PSDB, o presidente do MDB, Baleia Rossi, embarcar no projeto de Leite. Com toda a razão, Doria se sentiu traído, chamou os auxiliares mais próximos e, no dia seguinte, anunciou o afastamento de Araújo — que foi comentado com um irônico “ufa” pelo presidente tucano nas redes sociais.

Continua após a publicidade

Araújo confirmou a reunião, mas disse que o almoço foi para convencer o gaúcho a arrefecer sua tentativa de se candidatar à Presidência. Mesmo derrotado, Leite continua a operar nos bastidores e tem o apoio do deputado Aécio Neves (MG), adversário feroz de Doria que, desde o término da votação, tem pressionado Araújo a intervir no resultado para favorecer seu protegido. O presidente do partido resiste à pressão por entender que um “golpe” dificilmente poderia ser explicado ao eleitorado tucano, mas também não assume o seu papel de líder e conciliador. Resultado; o PSDB permanece esfacelado e, a pouco mais de cinco meses da eleição, mostra-se frágil.

Por que Doria terá de seguir ao lado do ‘inimigo’ Araújo na saga eleitoral
CONCHAVO - Aécio Neves e Leite, com Paulinho da Força: tentativa de “tapetão” – (@dep_paulinho/Twitter)

Araújo e Doria voltaram a se falar já no sábado seguinte à demissão. Ambos sabem que, independentemente de ocupar ou não cargo na campanha, Araújo tem um papel a ser exercido por causa de sua posição na legenda: é ele quem decidirá como os recursos dos fundos partidário e eleitoral serão distribuídos neste ano. Além disso, será com ele que MDB e União Brasil deverão acertar uma coligação — e quem serão os nomes da chapa que pode ser a última esperança do centro para enfrentar os favoritos Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro.

Continua após a publicidade

Enquanto isso, Doria vai atuando no sentido de reduzir danos a seu projeto. Passou a última semana gravando propagandas partidárias que serão exibidas na TV a partir do dia 26. Uma das mensagens que sua equipe quer mostrar ao país é que o ex-governador paulista veio de uma família de baianos e que venceu na vida graças à obstinação e ao trabalho. Em paralelo, a ordem no comitê tucano foi submergir o pré-candidato e retirar a sua imagem do noticiário, tida como desgastada. Doria viajou a Brasília e à Bahia no começo do mês, mas nos últimos dias preferiu reuniões fechadas. Encontrou o ex-presidente Michel Temer e conversou com Leite. Na próxima semana, vai se envolver diretamente nas negociações com Baleia Rossi, Simone Tebet e Luciano Bivar para tratar da tríplice aliança da terceira via — a ideia é definir um nome até 17 de maio. Araújo também participará, como dirigente do PSDB. Será um inimigo íntimo com quem Doria terá de trabalhar se quiser chegar à eleição. Para uma candidatura que já enfrenta muitas dificuldades, é apenas mais uma.

Publicado em VEJA de 27 de abril de 2022, edição nº 2786

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

1 Mês por 4,00

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.