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Polêmica com tarifaço de Trump impõe teste de fogo a Tarcísio e mais nomes da oposição

A ameaça contra as exportações brasileiras atinge diretamente estados comandados por presidenciáveis

Por Bruno Caniato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Heitor Mazzoco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Laísa Dall'Agnol Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 19 jul 2025, 08h00

Donald Trump mal havia começado sua guerra com o Brasil, no dia 7 de julho, ao postar “Deixem Bolsonaro em paz!” e já recebeu um endosso entusiasmado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). “Com a palavra, o presidente Donald Trump: Jair Bolsonaro deve ser julgado somente pelo povo brasileiro, durante as eleições”, escreveu. Dois dias depois, quando o americano anunciou o tarifaço, Tarcísio optou por explorar o episódio politicamente ao apontar o dedo para Lula. “Colocou sua ideologia acima da economia”, disparou. Menos de 24 horas depois, bombardeado por acusação semelhante (priorizar o alinhamento ideológico com Bolsonaro em vez da defesa dos setores produtivos do estado, o mais afetado pela medida), ele mudou o discurso. Chamou o tarifaço de “deletério”, foi a Brasília dizer a Bolsonaro que iria priorizar os interesses paulistas, reuniu empresários e trocou farpas com Eduardo Bolsonaro, que não aceita outra negociação que não seja o perdão a seu pai. A movimentação errática, sob fogo cerrado nos bastidores e nas redes sociais, mostrou que o principal nome da direita para enfrentar Lula em 2026 é até aqui um dos mais chamuscados pela bomba jogada por Trump.

arte pesquisa

A despeito dos movimentos erráticos dos últimos dias, o governador paulista segue sendo o candidato de oposição mais viável para 2026. Lula ganhou pontos graças aos acontecimentos recentes, enquanto Tarcísio oscilou negativamente, conforme mostra a pesquisa Quaest feita entre os dias 10 e 14 de julho. Em maio, o governador tinha 40% das intenções de voto, contra 41% do presidente, mas caiu para 37%, enquanto o petista manteve o percentual. O movimento foi parecido com o de Bolsonaro, que saiu de um empate numérico (41% a 41%) para uma desvantagem de 37% a 43%. Nenhum outro governador que pleiteia disputar o Planalto — Romeu Zema (Minas Gerais), Ratinho Junior (Paraná) e Ronaldo Caiado (Goiás) — teve uma variação significativa entre os levantamentos.

Tarcísio, porém, não foi o único a ser encurralado pelo tarifaço. A ameaça contra as exportações brasileiras atinge diretamente estados comandados por presidenciáveis. Ronaldo Caiado (União Brasil), que governa Goiás, um dos corações do agronegócio, também optou inicialmente por atacar Lula, mas a publicação repercutiu mal nas redes e o goiano está em silêncio sobre o tema desde então. Postura semelhante teve Romeu Zema (Novo). Após declarar que os brasileiros pagariam “a conta do Lula, da Janja e do STF”, o mineiro, também à frente de um estado muito ameaçado, amenizou o tom e disse que, a despeito da “motivação política” do julgamento contra Bolsonaro e da suposta perseguição judicial à direita, a manobra de Trump seria uma tentativa “errada e injusta” de resolver o problema. Já Ratinho Junior (PSD), do Paraná, valeu-se da feliz coincidência de estar em férias — até quinta 17, havia passado ileso pelo embate.

NO ALVO - Protesto na Paulista: boné pró-Trump virou munição da oposição
NO ALVO - Protesto na Paulista: boné pró-Trump virou munição da oposição (Heitor Mazzoco/.)
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O impacto do tarifaço na percepção eleitoral, mesmo que se amplie, pode não durar até a votação. O cientista político Rubens Figueiredo, diretor do instituto de pesquisa política Cepac, avalia que a opinião pública será o farol para o discurso dos governadores nos próximos meses, mas há dúvidas sobre o potencial de a guerra tarifária efetivamente “virar votos” nos estados. “O eleitor bolsonarista mais radical culpa Lula e acredita que a manobra foi uma grande vitória articulada por Eduardo”, afirma. Especialistas ressaltam que o surto de apoio ao governo federal pode se revelar um “fogo de palha”, caso a gestão Lula não seja capaz de negociar uma solução diplomática que evite o prejuízo direto no bolso dos brasileiros — o que vale para todos os presidenciáveis. “Não adianta só bater em Lula ou Trump. Os governadores terão que negociar com representantes comerciais dos EUA e garantir resultados econômicos para mostrar na campanha em 2026”, aponta Juan Carlos Arruda, cientista político e diretor-­geral do Ranking dos Políticos.

O grande dilema dos adversários de Lula segue sendo a dependência do bolsonarismo. Sem a bênção do ex-pre­sidente, quase ninguém acredita hoje que algum candidato consiga se viabilizar. Tarcísio, o herdeiro natural do capitão, é o que vive sob maior pressão. O entrevero entre o filho Zero Três e o principal nome elegível da direita para 2026 escalou durante a semana e fez até Bolsonaro intervir. “Hoje foi botada uma pedra em cima. Conversei com Eduardo e conversei com o Tarcísio. E está tudo pacificado. O Tarcísio é um tremendo de um gestor, nada de crítica para ele. Se tiver, é por telefone, pessoal”, disse o ex-presidente na terça 15. Um dia depois, Eduardo anunciou a paz.

PAZ - Eduardo Bolsonaro em igreja de San José, na Califórnia: armistício com Tarcísio anunciado após intervenção do pai
PAZ - Eduardo Bolsonaro em igreja de San José, na Califórnia: armistício com Tarcísio anunciado após intervenção do pai (@BolsonaroSP/X)
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O bolsonarismo raiz reconhece em Tarcísio a melhor opção, mas ainda não confia totalmente na fidelidade dele aos credos do grupo, sobretudo na questão de manter a plataforma bélica em relação ao STF. Se há críticas de aliados a respeito do comportamento do governador, também há muitas sobre o modus operandi de Eduardo. Um político da cúpula do PL e próximo a Bolsonaro disse a VEJA que o filho autoexilado “estava fazendo tudo da cabeça dele” e “não estava atendendo nem às ligações do próprio pai”. Um outro aliado disse que a desconfiança de Eduardo com Tarcísio era crescente e vinha desde maio, quando o governador liderou uma comitiva ao evento Brazilian Week, em Nova York, e não o convidou, mesmo morando nos EUA. O pano de fundo é que os dois podem ser rivais na definição do candidato presidencial da direita. Eduardo, curiosamente, não perdeu pontos: o placar contra Lula, que era de 44% a 34% para o petista em maio, agora é de 43% a 33%.

MUDANÇA - Zema: questionado, passou a chamar de “injusta” a ação de Trump
MUDANÇA - Zema: questionado, passou a chamar de “injusta” a ação de Trump (Dirceu Aurelio/Agência Minas/.)

A movimentação de Tarcísio envolve também a preocupação com a sua reeleição no estado, caso não concorra ao Planalto. Ao receber empresários na terça 15, ele deixou de lado a política nacional e focou sua preocupação como representante do povo paulista ao falar que iria negociar com governadores e senadores americanos uma tentativa de fazer Trump desistir do tarifaço. A reunião ocorreu no mesmo dia em que o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) fazia um encontro com o mesmo propósito em Brasília. Em ato recente na Avenida Paulista, cartazes de Tarcísio usando o boné com a inscrição “Make America Great Again” (Faça a América grande de novo), slogan de Trump, foram usados à exaustão — a imagem, provavelmente, voltará com força na campanha eleitoral.

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A SALVO - Ratinho Junior: em férias, o paranaense ficou fora de polêmicas
A SALVO - Ratinho Junior: em férias, o paranaense ficou fora de polêmicas (Alf Ribeiro/Fotoarena/.)

Quem acompanha tudo com alguma discrição, mas muita preocupação, é o Centrão. Partidos do grupo têm como prioridade viabilizar a candidatura presidencial de Tarcísio em 2026. Com o capitão inelegível e na iminência de ser condenado no processo do golpe, o grupo não quer ver o seu potencial candidato carbonizado eleitoralmente por conta de confusões criadas pelo núcleo duro do bolsonarismo. “Tarcísio odeia ser chamado de extremista. Por isso está tentando essa imagem de conciliador, de político que conversa, sabe articular”, diz um aliado. Embora tenha sido eleito graças a Bolsonaro, Tarcísio também dialoga bem com o eleitorado de centro. Ele não pode se mostrar subserviente a Bolsonaro, tampouco mostrar ingratidão ao ex-presidente — uma equação bastante complicada, diga-se. No meio da grande confusão da direita, algumas alas começaram a ressuscitar até o sonho da chamada terceira via, ou seja, uma candidatura de direita sem vínculo direto ao bolsonarismo. O alento para a oposição é que o saldo dos últimos dias não altera substancialmente o cenário para 2026, que deve ser o de um embate duro com Lula. Mesmo se entrar dividida na campanha, a direita acredita que o nome do grupo que chegar ao segundo turno vai aglutinar todas essas forças contra o petista, com chances reais de vitória. Esse jogo ainda está apenas no começo.

Publicado em VEJA de 18 de julho de 2025, edição nº 2953

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