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PF cita ex-deputado Brazão como possível mandante da morte de Marielle

Inquérito apura tentativa de ex-integrante do MDB de desviar o foco da apuração; em agosto de 2018, VEJA revelou que emedebistas estavam sendo investigados

Por Da Redação Atualizado em 20 mar 2019, 20h57 - Publicado em 20 mar 2019, 19h36

O ex-deputado estadual Domingos Brazão (ex-MDB) é citado como um dos “possíveis mandantes” do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) em inquérito da Polícia Federal que investiga se houve obstrução à Justiça na apuração do crime, ocorrido em março de 2018.

A informação foi revelada pelo portal UOL. A PF também investiga o trabalho da Polícia Civil no caso, em meio a suspeitas de que haveria ações para desviar o foco da força-tarefa. De acordo com o portal, até o momento pesava contra Brazão a suspeita de plantar uma testemunha para incriminar o vereador Marcelo Siciliano (PHS).

Em maio do ano passado, o policial Rodrigo Jorge Ferreira foi à polícia contar que havia entreouvido em um restaurante uma conversa em que Siciliano e Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando de Curicica, chefe miliciano na Zona Oeste carioca, planejavam o assassinato de Marielle por causa da atuação dela em áreas de influência deles. Os dois negaram; a certa altura, Orlando acusou a Polícia Civil de tentar tirar dele uma confissão por meio de ameaças. Em fevereiro, Ferreira voltou atrás, disse que tinha inventado tudo e reforçou a tese de que havia interessados em atrapalhar a investigação.

Desde novembro a PF faz uma “investigação da investigação” do caso Marielle para saber de quem partiu a ordem de perturbar a apuração do crime, e, assim, evitar que se chegue aos verdadeiros mandantes. Na segunda feira 11, Brazão esteve espontaneamente na sede da corporação para esclarecer, segundo ele, o motivo de ter sido alvo de um mandato de busca e apreensão no mês passado.

A família Brazão disputa votos com Siciliano na Zona Oeste. E os responsáveis por dar destaque à testemunha que mentiu sobre o envolvimento de Siciliano no crime são um delegado e um policial que já trabalharam com Brazão. A VEJA, após passar cerca de cerca de três horas na PF, Brazão se disse tranquilo. “Como agente público, meu maior interesse é que o crime seja esclarecido. Não tem nada disso de desavença com quem quer que se seja”, desconversou.

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Propina

Conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE-RJ), Brazão também é acusado de receber propina de empresários para não fiscalizar obras e uso de verba pública do governo do Rio.

A defesa de Brazão afirma que “seu cliente nega qualquer envolvimento nas mortes de Marielle e Anderson” e que o ex-deputado colocou à disposição da Justiça seus sigilos bancários, fiscal e telefônico.

No Carnaval, Siciliano disse a VEJA que era vítima de uma “covardia”. “Não encontrei a família da Marielle aqui [na Marquês de Sapucaí], mas eles não acreditam nessa história. Eles mesmo disseram que querem a verdade, e não um culpado qualquer. A verdadeira resposta desse crime vai aparecer e eu vou voltar a ter paz, assim como a família dela. Tentaram fazer uma covardia comigo” declarou, antes de desfilar pela Portela.

Reportagem de VEJA de agosto de 2018 revelou que o então deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) e procuradores do Ministério Público Federal participaram de uma reunião, a pedido da Polícia Civil, para tratar de uma conexão do assassinato de Marielle com políticos do MDB. Os parlamentares citados eram Edson Albertassi, Jorge Picciani e Paulo Melo – que foram presos em 2017, acusados de envolvimento com uma máfia de empresários de ônibus.

Segundo esta linha de apuração, o assassinato de Marielle seria uma forma de vingança para atingir o próprio Freixo, uma vez que a vereadora do PSOL trabalhou em seu gabinete e era chamada por ele como “minha filha”. Em razão de seu trabalho à frente da CPI das Milícias, de 2008, Freixo sofreu várias ameaças de morte e, de acordo com a investigação policial, os políticos do MDB atribuiriam ao parlamentar do PSOL a responsabilidade por eles terem sido presos – já que, em decisão após ação de Freixo, a Justiça impediu Albertassi de disputar uma cadeira no TCE-RJ.

Se tivesse ido para o TCE, qualquer processo judicial contra ele seria remetido para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília. Outros denunciados no mesmo processo receberiam idêntico benefício.

No dia 12 de março, o policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-policial Élcio Vieira de Queiroz foram presos e depois transformados em réus pela morte da vereadora. Segundo a denúncia formulada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Rio de Janeiro, Lessa efetuou os disparos, e Queiroz dirigia o carro utilizado no crime. Eles foram denunciados pelos homicídios qualificados de Marielle e Anderson Gomes e tentativa de homicídio de Fernanda Chaves, assessora da vereadora que sobreviveu.

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