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Os desafios de Regina Duarte depois do “sim” ao governo Bolsonaro

A atriz conclui o período de “noivado” e assume a Secretaria da Cultura, esfacelada após um ano de desmandos dos seus antecessores

Por Edoardo Ghirotto, Hugo Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h59 - Publicado em 31 jan 2020, 06h00

O último capítulo da novela teve final feliz para o governo de Jair Bolsonaro. A atriz Regina Duarte disse “sim” ao presidente e aceitou assumir a Secretaria da Cultura na quarta passada, 29 de janeiro, conforme antecipou a coluna Radar, do site de VEJA. Antes de se comprometer com Bolsonaro, ela se reuniu longamente com a família. A filha Gabriela, também atriz, tinha receio pela escolha da mãe por entender que sua carreira poderia ser prejudicada. “Mas ela tem o direito de ser feliz”, disse Gabriela a um amigo. No fim, Regina decidiu aceitar o cargo por um sentimento divino. “Recebi um chamado”, comentou com os filhos. A atriz sempre se inspirou na religiosidade para tomar decisões e costuma dizer que os santos da Bíblia são seus super-heróis.

A resposta positiva de Regina agradou aos executivos da Rede Globo. A despeito da enorme ficha de serviços prestados à emissora, a direção da empresa estudava fazia tempo uma forma de encerrar o contrato com a atriz, que havia sido posta na geladeira da casa e recebia um salário fixo de 60 000 reais — a quantia dobrava se estivesse no ar. Seu nome chegou a constar na lista de demissões promovidas no fim de 2019, mas ela acabou sendo poupada.

Na ida de Regina para o governo, ainda não ficou claro como ela e Bolsonaro pretendem resolver um passivo constrangedor para ambos. Conforme VEJA revelou em sua última edição, a atriz teve contas de uma peça recusadas pela área técnica do Ministério da Cultura em 2018, devido a irregularidades cometidas no uso da Lei Rouanet. O governo determinou que ela restitua ao Fundo Nacional da Cultura 319 600 reais, mas ainda não pagou a fatura por ter apresentado um recurso à área jurídica. O caso é desconfortável também para o presidente, que fez campanha prometendo acabar com as “mamatas” da Lei Rouanet.

A atriz vai assumir uma secretaria esfacelada. O governo transferiu apenas uma parte do órgão do Ministério da Cidadania para o do Turismo. O setor que administra prestações de contas da Lei Rouanet segue subordinado à pasta da Cidadania, por exemplo. Regina ainda terá de avaliar os funcionários em áreas estratégicas. O ex-secretário Roberto Alvim, demitido por ter gravado um vídeo em que parafraseava um discurso nazista, loteou cargos para a ex-faxineira Geralda Gonçalves, conhecida como Geigê. Ela aparelhou desde a cúpula da secretaria até postos técnicos, com indicação na sensível área de licitações. Será, de longe, o papel mais desafiador que Regina assumirá em toda a sua carreira.

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Edoardo Ghirotto e Hugo Marques

Publicado em VEJA de 5 de fevereiro de 2020, edição nº 2672

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