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Os bastidores da saia justa entre Michelle e filhos de Bolsonaro, que ameaça os planos do PL

Os longos dias no cárcere vão testar o quanto o bolsonarismo vai conseguir se articular sem Bolsonaro

Por Pedro Jordão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Laísa Dall'Agnol Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 5 dez 2025, 06h00 • Atualizado em 5 dez 2025, 11h20
  • Em poucos minutos de discurso em Fortaleza no último domingo, 30, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro detonou a articulação do PL para apoiar o ex-ministro Ciro Gomes (PSDB) ao governo do estado, constrangeu a direita local e abriu uma crise sem precedentes no núcleo duro do clã Bolsonaro. “Vocês se precipitaram. Fazer aliança com um homem que é contra o maior líder da direita não dá”, disse em referência às diversas críticas pesadas de Ciro à família, em especial ao marido, feitas em outros tempos. O acordo era tecido pelo deputado federal André Fernandes (PL-CE), estrela em ascensão no PL, com o aval do ex-presidente. Ao criticar o acerto e defender a candidatura do senador Eduardo Girão (Novo), a ex-primeira-dama despertou a ira dos três filhos mais velhos de Bolsonaro — o senador Flávio, o deputado Eduardo e o vereador Carlos reagiram ao discurso — e, mais do que isso, escancarou o desafio crescente do PL e do bolsonarismo para montar os palanques pelo país, agora que o seu maior líder está encarcerado para cumprir uma pena de mais de 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado.

    SORRISOS - André Fernandes e a aliada na sede do partido, em Brasília: reunião de emergência após constrangimento
    SORRISOS - André Fernandes e a aliada na sede do partido, em Brasília: reunião de emergência após constrangimento (./Reprodução)

    A crise que se desenha é consequência direta de uma opção feita pelo próprio PL. Até a prisão, vigorava na legenda a máxima de que Bolsonaro centralizaria as alianças nos estados e que seria ele o responsável por escolher o candidato que considerasse mais apto para qualquer cargo, uma “carta branca” dada pelo presidente nacional da sigla, Valdemar Costa Neto, que sempre alardeou que “é Bolsonaro quem tem os votos”. Inicialmente, interlocutores de diversos diretórios locais chegaram a menosprezar o impacto que a prisão do capitão da reserva teria no processo eleitoral. “Basta fazer uma ligação ou receber uma visita que ele resolve o Brasil todo em cinco minutos”, exagerou um aliado da Bahia. O problema, porém, ficou claro ao perceberem que não só haveria uma redução drástica da comunicação com ele, como diversos acordos, embora encaminhados, não eram do conhecimento de todos.

    PIVÔ - Ciro Gomes: críticas pesadas foram relembradas em meio à crise
    PIVÔ – Ciro Gomes: críticas pesadas foram relembradas em meio à crise (Mauro Pimentel/AFP)

    O primeiro passo para tentar conter os estragos foi estancar o mal-estar gerado em Fortaleza. E não foi pouca coisa. Logo após o discurso de Michelle, o primogênito do ex-presidente, Flávio Bolsonaro, disparou que a madrasta havia sido “autoritária”, “desrespeitosa”, que “atropelou” a articulação de André Fernandes e criou uma situação “constrangedora”. O tom duro teve o apoio imediato de Eduardo, Carlos e Jair Renan, todos políticos com mandatos pelo PL. “Não vou entrar no mérito de ser um bom ou mau acordo, foi uma posição definida pelo meu pai. André não poderia ser criticado por obedecer ao líder”, postou Eduardo. Dois dias depois, em uma reunião de emergência, Valdemar reuniu Michelle, Flávio, André Fernandes e o senador Rogério Marinho, secretário-geral da legenda, para selarem a paz. As conversas com Ciro foram suspensas e, mais do que isso, definiu-se que o partido fará um pente-fino nos estados. “O papel do Flávio, do Valdemar, da Michelle e meu é verificar quais foram os compromissos firmados pelo ex-presidente em cada lugar da federação, organizar esses balanços estaduais e, principalmente, guardarmos uma coerência com o que somos e o que representamos para o Brasil”, disse Marinho.

    ESTRATÉGIA - Valdemar Costa Neto: meta é fazer grandes bancadas e manter caixa bilionário para o partido após 2026
    ESTRATÉGIA – Valdemar Costa Neto: meta é fazer grandes bancadas e manter caixa bilionário para o partido após 2026 (Beto Barata/PL/.)
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    O problema escancarado pela polêmica de Fortaleza não é trivial para o PL. O atraso na organização de palanques a dez meses da eleição coloca em risco uma das maiores prioridades da legenda: fazer grandes bancadas no Congresso para manter ou aumentar a sua posição de um dos maiores partidos do país, que hoje lhe garante quase 1 bilhão de reais dos fundos eleitoral e partidário por ano, o maior naco entre todas as legendas. Isso ocorreu por causa de Bolsonaro, que migrou para o partido em 2021 e ajudou a sigla a fazer a maior bancada de deputados, com 99 eleitos. O PL tinha a pretensão de melhorar o desempenho de 2022, mas, com Bolsonaro fora das urnas e do dia a dia da campanha, a perspectiva foi reduzida. No Senado, que renovará dois terços das cadeiras, a prioridade do PL, de Bolsonaro e da direita é obter maioria para emplacar pautas como o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal — possibilidade suspensa por liminar do ministro Gilmar Mendes, que determinou que só a Procuradoria-Geral da República pode pedir o afastamento de magistrados da Corte (leia a reportagem na pág. 26).

    CRÍTICAS - Flávio: senador considerou que madrasta foi “autoritária” e “desrespeitosa” com André Fernandes no CE
    CRÍTICAS - Flávio: senador considerou que madrasta foi “autoritária” e “desrespeitosa” com André Fernandes no CE (Evaristo Sa/AFP)

    A inatividade de Bolsonaro dificulta acertos ou estende indefinições inclusive nos colégios eleitorais mais importantes do país. Em São Paulo, se o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) for candidato à Presidência da República, haverá muita coisa para definir. Primeiro, se Tarcísio trocará o Republicanos pelo PL. Segundo, quem seria o candidato ao governo em seu lugar, uma vez que o PL não tem nenhum nome claramente favorito ao posto — o único da sigla que se apresenta é o presidente da Assembleia Legislativa, André do Prado. Terceiro, os maiores puxadores de votos da legenda, em 2022, para a Câmara estão fora do jogo: Eduardo Bolsonaro está autoexilado nos EUA e tem problemas com a Justiça; Carla Zambelli está presa na Itália; e Ricardo Salles trocou o partido pelo Novo. Além disso, o partido não sabe quem será o candidato ao Senado no lugar do outrora favorito Eduardo.

    HERDEIRO - Tarcísio de Freitas: candidatura ao Planalto passa por Bolsonaro
    HERDEIRO - Tarcísio de Freitas: candidatura ao Planalto passa por Bolsonaro (Raul Luciano/Ato Press/Agência O Globo/.)
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    O cenário também é indefinido nos outros dois maiores estados. No Rio de Janeiro, reduto da família Bolsonaro, um novo foco de tensão surgiu na última semana com rumores de que Michelle estaria atuando para evitar a aproximação do PL com o prefeito Eduardo Paes (PSD) — ela desmentiu. De qualquer forma, o PL não sabe quem será o seu candidato ao governo. Para o Senado, o governador Cláudio Castro e Flávio Bolsonaro lideram as pesquisas, mas há Carlos Portinho, que é senador e quer disputar a reeleição. Em Minas Gerais, o partido deve desistir de candidatura própria — o deputado Nikolas Ferreira chegou a ser cogitado — e apoiar o vice-governador Mateus Simões (PSD), mas há encrenca em torno do Senado, onde há três cotados (o deputado estadual Cristiano Caporezzo, o federal Domingos Sávio, ambos do PL, e o secretário de Governo de Romeu Zema, Marcelo Aro, do PP). “As conversas seguem com o PL mesmo com essa dificuldade adicional da prisão de Bolsonaro. Esperamos receber um candidato deles para o Senado”, diz Simões.

    arte PL

    O imbróglio com maior potencial para gerar ruídos está em Santa Catarina. Com a pretensão de eleger membros da família em um estado bolsonarista, o ex-presidente lançou o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL) para o Senado e o filho Jair Renan (PL), hoje vereador em Balneário Camboriú, para deputado federal. A candidatura do Zero Quatro não terá problemas, mas o caminho de Carlos não está sendo trilhado com facilidade. O governador Jorginho Mello (PL) já havia fechado apoio às candidaturas da deputada federal Caroline De Toni (PL) e do senador Esperidião Amin (PP) para as duas vagas, mas a imposição do filho Zero Dois bagunçou o planejamento do PL. Na terça 2, Carlos fez questão de publicar nas redes o registro de um encontro com a deputada para “demonstrar apoio” e “reafirmar carinho, união e unidade”. Como é muito difícil que o partido fique com as duas vagas, as opções que restam ao PL não são agradáveis. Uma é esperar que De Toni saia da sigla (ela foi cogitada pelo Novo), o que seria muito ruim porque foi a deputada federal mais votada no estado em 2022. Outra é romper o acordo com Amin, o que desagrada a Jorginho, que teme perder o apoio do PP e de outros partidos do Centrão. Apenas a autoridade de Bolsonaro pode ajudar a resolver o imbróglio, mas da cadeia a estratégia fica mais difícil.

    PENTE-FINO - O senador Rogério Marinho, em evento do PL: secretário-geral vai mapear alianças nos estados
    PENTE-FINO - O senador Rogério Marinho, em evento do PL: secretário-geral vai mapear alianças nos estados (@rogerio.smarinho/Instagram)
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    Outro colégio eleitoral importante onde só a intervenção direta de Bolsonaro poderia ajudar é Pernambuco. No estado, há uma briga interna por vagas ao Senado entre o presidente do diretório estadual, o ex-deputado federal Anderson Ferreira, um dos principais nomes da direita local, e o ex-ministro do Turismo, o sanfoneiro Gilson Machado, que sempre se manteve fiel ao ex-presidente. O primeiro faz parte de uma ala mais pragmática do partido, integra a legenda desde antes da filiação de Bolsonaro e tem o apoio de Valdemar; o segundo representa a ala ideológica do bolsonarismo e lembra aos quatro cantos que sempre teve o apoio do capitão. Com as pesquisas apontando para uma disputa ao governo polarizada entre a governadora Raquel Lyra (PSD) e o prefeito do Recife, João Campos (PSB), ambos próximos de Lula, o PL não planeja concorrer ao comando do Palácio do Campo das Princesas e vai priorizar o Senado. No entanto, pelos cálculos do PL, baseados nas últimas eleições, o estado só consegue eleger um candidato de direita. “São duas vagas ao Senado. Eu tenho os meus 30%, confio no meu eleitorado. Ele (Anderson) está querendo o melhor para o partido ou para ele? Se for para o partido, é melhor ter dois candidatos. Se for o caso, Bolsonaro já me deu o aval para ir para outra legenda e disputar o Senado”, comenta Gilson Machado.

     

    SOB FOGO CRUZADO - Jair Renan e Carlos, com o governador Jorginho Mello: polêmica em Santa Catarina
    SOB FOGO CRUZADO – Jair Renan e Carlos, com o governador Jorginho Mello: polêmica em Santa Catarina (Redes Sociais/.)

    A saia justa em Fortaleza deixa no ar também a dúvida sobre se novos episódios desse tipo poderão ocorrer até a eleição, já que ficou exposto que há uma disputa no clã Bolsonaro pela herança política do ex-presidente. E ficou clara a diferença de estilos. Os filhos até são conservadores no plano pessoal, mas são políticos tradicionais e, por isso, mais pragmáticos na hora de firmar alianças políticas, nem sempre agradáveis, para conquistar seus objetivos. Mesmo Eduardo, tido como um radical ideológico, defendeu várias vezes, inclusive nos últimos dias, o acordo firmado por seu pai para apoiar a eleição dos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-­AP), pragmatismo até hoje incompreendido por boa parte do bolsonarismo. Já Michelle é mais vinculada a questões ideológicas e dogmas de moralidade, família e religião, que nem sempre são compatíveis com alianças. No episódio do Ceará relacionado a Ciro Gomes, Michelle saiu vencedora e ficou fortalecida. “Sem Bolsonaro para arbitrar, esse campo ideológico entra em crise. A prisão dele cria um vácuo: pela primeira vez desde 2018, ninguém controla, disciplina ou unifica a direita ideológica”, avalia Mayra Goulart, professora de ciência política da UFRJ. “Michelle mantém coesa a base radical e conserva o capital simbólico ligado ao bolsonarismo, mas suas posições aumentam as tensões com quadros da família que defendem uma estratégia pragmática. Ela mobiliza a base, mas não a amplia”, acrescenta.

    Para além da configuração dos palanques estaduais, toda essa movimentação coloca em xeque, ainda, a própria definição do candidato à Presidência, uma vez que a discussão, nesse âmbito, envolve nomes graúdos do Centrão e outras siglas menos comprometidas ideologicamente com o bolsonarismo. É o caso do PP, de Ciro Nogueira, do PSD, de Gilberto Kassab, e do União Brasil, de Antonio Rueda, que querem estar na oposição a Lula em 2026 — o candidato preferido é Tarcísio —, mas não fazem questão de levar nenhum Bolsonaro na chapa. “O pragmatismo acaba reinando nesses partidos. Essas legendas têm tempo de televisão, têm recursos e estrutura partidária, fatores que os credenciam para influenciar nessa disputa”, avalia o cientista político Murilo Medeiros, da Universidade de Brasília.

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    ESCUDEIRO - Gilson Machado: de olho em uma vaga na eleição ao Senado por Pernambuco
    ESCUDEIRO - Gilson Machado: de olho em uma vaga na eleição ao Senado por Pernambuco (@gilsonmachadoneto/Instagram)

    Atrás das grades, Bolsonaro tenta, como pode, continuar influenciando na sucessão presidencial, mas aliados queixam-se da dificuldade recorrente para acessá-lo. Na última semana, o próprio Flávio, tido como o porta-voz do pai fora da prisão, disse que advogados, médicos e membros da família têm apenas trinta minutos semanais com o ex-presidente. Bolsonaro sempre apostou no papel centralizador, e o PL lhe deu aval ilimitado para que atuasse politicamente dessa forma. Os longos dias no cárcere vão testar o quanto o bolsonarismo vai conseguir se articular sem Bolsonaro.

    Publicado em VEJA de 5 de dezembro de 2025, edição nº 2973

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