Onde estava Garnier durante depoimento de general sobre golpe – veja foto
Segundo a Polícia Federal, ex-comandante da Marinha teria concordado em endossar um golpe de Estado para reverter a vitória de Lula e prender autoridades
Com o avanço das investigações que apuram o envolvimento da cúpula das Forças Armadas e do ex-presidente Jair Bolsonaro em uma trama que planejava um golpe de Estado no país, o dia 1º de março poderia ser considerado um divisor de águas para o almirante de esquadra Almir Garnier.
Enredado como um dos principais operadores militares de uma tentativa de anular as últimas eleições presidenciais e impedir a ascensão de Lula, o ex-comandante da Marinha havia sido visto em público em raras oportunidades – apenas um par de vezes no clube frequentado por oficiais navais – e pouco tempo antes dispensara uma espécie de assessoria de crise que, para tentar minimizar o turbilhão de suspeitas que o envolve, o aconselhara a ser visto em situações comezinhas, como um chope com amigos.
Embora houvesse sido orientado a reunir elementos que pudessem se contrapor à acusação de que foi o único comandante militar do governo Bolsonaro a ter concordado com um golpe, Garnier decidiu sair de casa no exato momento em que, a poucos quilômetros dali, o ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes prestava depoimento à Polícia Federal. O general é considerado peça-chave na investigação do enredo golpista porque participou da reunião, em dezembro de 2022, em que foi discutida uma minuta de decreto que daria suporte jurídico a uma ruptura institucional.
Com roupa de ginástica de um rally náutico antigo, óculos escuros a tiracolo e visivelmente mais magro, naquela sexta-feira, 1º, o almirante não abandonou em nenhum momento o celular enquanto bebericava uma água com gás na mesa central de uma confeitaria a poucos metros de casa. Ora vagava pelo jardim do estabelecimento, ainda falando ao telefone, ora olhava sem maiores atenções a vitrine de petiscos. Pagou a conta da água às 17h16, comprou frios e salgados para viagem e deixou o local em seguida.
Declarações detalhadas de Freire Gomes à Polícia Federal também eram consideradas relevantes para a investigação porque foi o militar quem informou Mauro Cid, então ajudante de ordens de Bolsonaro, sobre as palavras que teriam sido ditas por Garnier ao “anuir” com o golpe.
Como o encontro no Palácio da Alvorada estava reservado ao presidente e aos três comandantes das Forças Armadas, Cid não estava presente no momento em que, conforme seu acordo de colaboração com a justiça, disse que o então comandante da Marinha endossou uma virada de mesa nas eleições.
VEJA teve acesso ao trecho da delação de Cid que menciona a reunião. O ex-ajudante de ordens afirma “que o ex-presidente queria pressionar as Forças Armadas para saber o que estavam achando da conjuntura; que queria mostrar a conjuntura do país”. Em seguida, com o colaborador fora da sala, “o ex-presidente apresentou o documento aos generais com o intuito de entender a reação dos comandantes das forças em relação ao seu conteúdo”.
Veja a imagem de Almir Garnier no dia do depoimento do general Freire Gomes.