Odebrecht confirma a Moro que autorizou propina a Bendine
Empreiteiro diz não ter cedido a 'achaque' em um primeiro momento, mas que atendeu a pedido quando Bendine se tornou presidente da Petrobras
Em depoimento ao juiz federal Sergio Moro, nesta quinta-feira, o empresário Marcelo Odebrecht confirmou que autorizou o pagamento de propina pela Odebrecht ao ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine. Odebrecht falou a Moro no processo da Operação Lava Jato em que é réu por um repasse de 3 milhões de reais do departamento de propinas da empreiteira a Bendine.
No primeiro semestre de 2014, segundo Odebrecht, o empresário André Gustavo Vieira da Silva procurou Fernando Reis, ex-executivo da Odebrecht Ambiental, e pediu, em nome de Aldemir Bendine, 1% de vantagens indevidas, referente à reestruturação de uma dívida de 1,7 bilhão de reais da Odebrecht Agroindustrial com o Banco do Brasil. O valor seria de 17 milhões de reais.
“Não dei muita bola pra esse achaque”, disse Marcelo Odebrecht, que explicou a Moro que, naquele momento, Bendine “não teria condições de atrapalhar” a negociação do contrato no Banco do Brasil caso o pedido não fosse atendido.
O empresário afirma ter passado a considerar a possibilidade de autorizar o desembolso de propina no início de 2015, quando tentava resolver “vários problemas derivados da Lava Jato” junto ao governo da então presidente Dilma Rousseff (PT). Conforme Odebrecht, demandas entregues por ele ao então ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante (PT), foram repassadas a Aldemir Bendine, que se apresentou em uma reunião com o empresário, em janeiro de 2015, “como indicado pela presidência” neste assunto.
Em fevereiro daquele ano, com a chegada de Bendine à presidência da Petrobras, “a coisa mudou de figura”, diz Marcelo Odebrecht. “Ele tinha uma posição que de fato poderia atrapalhar a gente, tínhamos vários temas bastante críticos na Petrobras”, declarou.
A partir daquele momento, o empreiteiro buscou “evidências” de que o pedido de 17 milhões de reais feito por André Gustavo Vieira da Silva realmente tinha partido de Bendine. Depois de duas reuniões com o ex-presidente da petrolífera fora da agenda oficial, em um escritório de advocacia em São Paulo, a confirmação se deu em uma reunião na casa de Vieira da Silva, em Brasília, em maio de 2015. Odebrecht contou ter sido informado pelo empresário de que, durante a conversa, Aldemir Bendine diria uma “senha”, o que confirmaria o pedido.
“No meio dessa discussão sobre Lava Jato e temas da Petrobras, aí sim, ele [Bendine] trouxe claramente aquelas palavras que o André havia me dito. Ele foi falando de financiamento [do Banco do Brasil], fora do contexto do assunto totalmente, exatamente as palavras que o André tinha dito”, relatou Marcelo Odebrecht.
Depois da reunião em Brasília, Odebrecht orientou o executivo Fernando Reis, interlocutor de André Gustavo Vieira da Silva na empreiteira, a fazer o pagamento de parte dos valor solicitado. “Eu saí dessa reunião e falei ‘Fernando, não tenho a melhor dúvida de que existe o pedido. Pelas conversas que temos com ele, ele pode, se não nos ajudar, nos atrapalhar, e eu acho que a gente devia começar. Eu não acho que a gente vai precisar dar os 17, mas vamos começar a pagar alguma coisa e ir administrando’”.
Marcelo Odebrecht afirma não ter estipulado valores, mas que recomendou a Reis para “ir avaliando a capacidade dele [Bendine] de atingir a gente”. Conforme a denúncia do Ministério Público Federal (MPF), aceita por Sergio Moro, três pagamentos, de um milhão de reais cada, foram feitos em dinheiro vivo pelo departamento de propinas da Odebrecht a André Gustavo Vieira da Silva e o irmão dele, Antônio Carlos Vieira da Silva.
Odebrecht, Aldemir Bendine, os irmãos Vieira da Silva, Fernando Reis e o doleiro Álvaro Novis serão julgados por Moro no processo que apura a suposta propina paga ao ex-presidente das estatais. Preso em Curitiba desde julho de 2017, na 42ª fase da Lava Jato, Bendine será interrogado pelo magistrado no próximo dia 22 de novembro.