Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

O teatro da política

É possível ter uma pista do que fará o próximo presidente?

Por André Lahóz Mendonça de Barros
Atualizado em 4 jun 2024, 16h54 - Publicado em 5 out 2018, 07h00

Entre o carnaval de baboseiras que recebemos diariamente nas redes sociais, uma pequena pérola voltou a circular recentemente: uma entrevista de 1998 com o então candidato à Presidência da Venezuela Hugo Chávez, apenas um dia antes de sua primeira eleição. Nela, um jovem Chávez reafirma seu compromisso com a democracia e descarta, enfaticamente, a intenção de ficar além de seu período. Nega pretender nacionalizar algum meio de comunicação ou qualquer outra empresa — ao contrário, prega mais facilidades ao capital externo. Conclui dizendo que Cuba é inequivocamente uma ditadura, mas que não cabe a ele interferir numa nação estrangeira. “Não sou o Diabo”, diz, sorrindo para a câmera.

Chávez morreu em 2013, mas a destruição em seu país ainda está em curso. De 2013 a 2017, o PIB caiu 35%. Quase 60% das indústrias fecharam as portas. A pobreza extrema atinge 60% da população. A entrevista à rede Univision é uma lembrança de como a escolha eleitoral é feita em bases fluidas, e a mentira é, lamentavelmente, parte do jogo. O genial escritor Mario Vargas Llosa, prêmio Nobel de Literatura de 2010, fez uma rápida incursão política em 1990, ao tentar a Presidência do Peru. Falava sobre dias difíceis à frente. Levou uma lavada de outro novato, Alberto Fujimori, que prometia o paraíso na terra. (Fujimori foi condenado a 25 anos de prisão em 2009 e acaba de ter seu indulto anulado pela Justiça.) E nem precisamos ir tão longe: Dilma Rousseff foi eleita em 2014 negando a necessidade de um ajuste. O estelionato eleitoral ficou evidente no minuto seguinte ao fechamento das urnas.

Somos, afinal, seres racionais? A maioria dos economistas juraria que sim. Com base em estudos na microeconomia, o americano John Muth propôs, nos anos 60, a teoria das expectativas racionais, que depois revolucionaria a macroeconomia com o trabalho de Robert Lucas, prêmio Nobel de Economia de 1995. Tomamos decisões racionais usando o máximo de informação de que dispomos. Isso tem uma série de implicações, por exemplo, na política monetária. Não somos computadores, porém — nossa capacidade cognitiva é limitada, e por isso escolhemos o que levar em conta. Pior: as informações que usamos podem ser boas ou más — as fake news estão aí para complicar. E pesquisas mais recentes da neurociência sugerem que, quando o assunto é política, as emoções ganham fácil da racionalidade. Votamos com o coração — ou com o fígado. A razão justifica a escolha feita.

Se os candidatos de centro ficarem mesmo pelo caminho, iremos ao segundo turno com questões básicas em aberto. Num governo petista, o que será de Lula e José Dirceu? Quem vai mandar? Fernando Haddad vai ajustar a economia e promover novas reformas? Ou desfazer os poucos avanços que tivemos recentemente? No outro polo, qual o compromisso de Jair Bolsonaro, apologista da ditadura, com as regras do jogo? Entre CPMF, revolução na Previdência e privatização total, o que há de concreto nos planos do superministro Paulo Guedes? Como será a relação com o Congresso? Mistério. O Brasil está prestes a assinar um cheque em branco.

Publicado em VEJA de 10 de outubro de 2018, edição nº 2603

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.