O luxuoso casamento da neta de Paulo Maluf
Alessandra Maluf Alves da Silva, neta do político, que cumpre prisão domiciliar, casa-se em festa luxuosa, organizada por cerimonialista de Oprah Winfrey
Foi uma surpresa até mesmo para convidados acostumados a casamentos de arromba. Dois corredores de 1,20 metro de altura, ladeados por mais de 10 000 orquídeas brancas, foram postos nos 70 metros de extensão entre a rua e o altar na Paróquia Nossa Senhora do Brasil, na riquíssima região dos Jardins, em São Paulo. Quem curvasse o pescoço para cima, e era impossível não curvá-lo, teria um deleite visual: quatro arranjos colossais de rosas colombianas flutuavam sobre o altar. A cerimônia religiosa, comandada pelo maestro Renato Misiuk, foi um agradável aperitivo da festa de casamento de Alessandra Maluf Alves da Silva e Henrique Samson Cury, em 1º de junho. A noiva é neta de Paulo Maluf, que cumpre pena de prisão em regime domiciliar de sete anos, nove meses e dez dias por lavagem de dinheiro.
O casamento dos jovens de origem libanesa foi um dos mais deslumbrantes da recente crônica social brasileira. Para começar, os pingos nos is: engana-se quem imagina que oferecer festa suntuosa requer exclusivamente dinheiro, muito dinheiro. Dá uma trabalheira danada. Ao longo de um ano, Alessandra manteve reuniões semanais no Brasil e nos Estados Unidos para selecionar e, depois, coordenar a equipe de fornecedores.
A escolha dos profissionais foi rigorosa. A noiva contratou o decorador de casamentos mais badalado do mundo: Preston Bailey, cuja lista de clientes inclui Oprah Winfrey, Mariah Carey e as famílias reais do Catar e da Arábia Saudita. Mr. Bailey, com sete coffee table books no currículo, nunca havia assinado um casamento no Brasil. Ele fez um trabalho impressionante. Foi preciso alugar o salão de festas do Hotel Unique durante três dias para a montagem (80 000 reais a diária). No teto, entre fileiras de flores, foi criada uma tenda finíssima ornamentada com mosaicos de renda e minirrosas. O desenho aparecia também na decoração das mesas.
Os queixos caíram. O lustre de cristal tinha 4 metros de altura. Com cardápio assinado pelo chef Emmanuel Bassoleil, chamaram mesmo atenção as mesas de doces. Alessandra contratou dez confeiteiros. O bolo, de 2 metros de altura, parecia uma escultura de rosas brancas de açúcar (preço da obra: 20 000 reais). Apaixonado por música eletrônica, o casal trouxe da África do Sul o duo de DJs Goldfish, acostumado a se apresentar em festivais como o Coachella. O custo final: 10 milhões de reais, pagos pelo pai da noiva, Eduardo Elias Alves da Silva, da família fundadora da FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas).
Existe algo típico de qualquer casamento, seja de gente rica, de gente remediada ou pobre: alguns convidados teimam em encontrar defeitos. No enlace de Alessandra e Henrique, os mais antenados em moda viram uma notável semelhança entre o vestido de noiva feito de renda francesa com camadas de tule point d’esprit assinado por Paulo Dolce e a peça da grife Valentino usada pela modelo Ana Beatriz Barros no casamento com o magnata egípcio Karim El Chiaty, em 2016, na Grécia. Pura maldade, claro. Mas que eram muito parecidos, idênticos até, eram sim, e o decote não deixou dúvida. Tudo somado, a festança só perdeu para outras de padrão semelhante em um único quesito: a pouca exposição nas redes sociais. Os paulistanos quatrocentões, ricos de quatro costados, não costumam celebrar sua vida em contas abertas. É tudo muito restrito a seus pares.
A pergunta que não quis calar: Paulo Maluf daria o ar da graça? Em tese, ele poderia fazer um pedido às autoridades. Mas não, ele não foi. Dona Sylvia, a mulher do político, esteve na cerimônia religiosa e ficou pouquíssimo na festa para voltar à mansão da Rua Costa Rica, localizada a 1 quilômetro do hotel onde o rega-bofe corria solto. Aos 87 anos, Maluf não pode sair de casa, onde cumpre prisão domiciliar. Além disso, está doente e locomove-se em cadeira de rodas. Há duas semanas, os advogados do homem que desde 2010 consta na lista da Interpol, com ordem de prisão válida para 194 países, tiveram negado o pedido de indulto humanitário por parte do STF. Tenta-se manter a rotina na mansão de Maluf, avaliada em mais de 50 milhões de reais, e agora transformada em cela de luxo. Dona Sylvia ainda joga truco todos os dias, às 17 horas, ao lado de amigas da colônia libanesa. A animação é interrompida sempre que brotam más notícias. Na quarta-feira 19, a Justiça Federal em São Paulo condenou três filhos de Maluf — Lina, a mãe da noiva, entre eles — por desvios de dinheiro público. Cabe ainda recurso. Surpresas como essas acontecem nas melhores famílias — casamentos como o de Alessandra e Henrique é que são raros.
Publicado em VEJA de 26 de junho de 2019, edição nº 2640
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