‘Não jogo prova fora’, diz procurador do 8 de Janeiro sobre delação de Cid
Carlos Frederico Santos foi responsável pelas mais de 1000 denúncias após os ataques às sedes dos poderes e é cotado para suceder Augusto Aras
Cotado para substituir Augusto Aras à frente da Procuradoria-geral da República, o subprocurador-geral Carlos Frederico Santos disse a VEJA que, independentemente de o acordo de colaboração premiada de Mauro Cid ter sido fechado com a Polícia Federal, ele não abriria mão das provas que o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro eventualmente tenha apresentado apenas pelo fato de o acordo não ter tido participação do Ministério Público. Segundo ele, os desdobramentos da delação não podem ser tratados como uma briga “corporativa” entre MP e PF.
Santos não teve acesso ao conteúdo das revelações do antigo braço-direito do ex-presidente, mas afirma que as evidências e pretensas corroborações do que Cid falou sobre articulações para um golpe de Estado ou venda de joias do Estado brasileiro, por exemplo, não podem ser automaticamente descartadas simplesmente porque a procuradoria, a quem caberá uma eventual denúncia contra Bolsonaro, não participou da negociação do conteúdo e dos benefícios ofertados ao ex-ajudante de ordens.
A avaliação de Carlos Frederico vai ao encontro do que defendem ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que acreditam que o futuro procurador-geral, não importa quem seja, necessariamente dará tração ao cerco do Judiciário contra o ex-presidente. “É importante que, quando se faça uma delação, o Ministério Público esteja presente. Não é para excluir a polícia de forma alguma, mas os órgãos investigativos têm que trabalhar em conjunto. Mesmo assim eu não jogo provas fora”, disse.
Responsável por denunciar mais de 1000 pessoas por participação dos atos de vandalismo do dia 8 de janeiro. Carlos Frederico afirmou que até o momento a principal diligência contra o ex-mandatário após o quebra-quebra em Brasília é a preservação do post em que, no dia 10 daquele mês, ele compartilha um vídeo com ataques ao Judiciário e questionamentos sobre a vitória de Lula nas urnas.
O conteúdo do post foi apagado por Bolsonaro cerca de três horas depois de publicado, mas a intenção do subprocurador é analisar o alcance da mensagem no período em que ela ficou no ar. O ato isolado poderia levar o capitão a ser enquadrado no crime de apologia, por exemplo, mas no quebra-cabeças que investiga a intentona de janeiro pode ser um elemento adicional na eventual denúncia contra o ex-presidente.
“Eu investigo fatos, e não pessoas, e ao investigar fatos as pessoas aparecem. Todas as pessoas que despertaram esse sentimento, essa corrente e esse vínculo de atos antidemocrático devem ser investigadas. No Direito Criminal seria leviano eu falar da probabilidade incluir alguém. Quem fez isso foi a Lava-Jato”, declarou.