Na véspera de novo Moro x Lula, Curitiba vive dia de normalidade
Ao contrário da tensão e movimentação de maio, cidade não tem sinais de que haverá protestos amanhã; Justiça Federal e entorno devem funcionar normalmente
Quatro meses depois do primeiro depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao juiz Sergio Moro, a cidade de Curitiba vive um clima muito diferente na véspera de um novo encontro. Designado pela Secretaria de Segurança do Paraná (Sesp) como ponto de encontro dos manifestantes a favor do presidente, a Praça Generoso Marques, no centro da capital paranaense, não viu sinal de caravanas de militantes ou bandeiras do PT e de movimentos sociais. O mesmo ocorre no Museu Oscar Niemeyer, destinado aos opositores do petista e apoiadores da Operação Lava Jato.
Nos fundos da estação ferroviária de Curitiba, nenhum sinal dos acampamentos de membros da Central Única dos Trabalhadores (CUT) ou do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), como em maio. A cidade teve um dia de trânsito normal, sem sobressaltos, e os comerciantes da Avenida Anita Garibaldi, em frente ao prédio da Justiça Federal do Paraná, estão decididos a funcionar normalmente. “Amanhã, vamos abrir com certeza. Da última vez, fechou tudo [a rua]. Falaram que ia ter aquele escárceu, conflito, aí nem abrimos”, afirmou Sirlene Silva, vendedora de uma loja de roupas infantis na região.
A vendedora, no entanto, ressalta que pode haver impacto nas vendas e na rotina do local. Sirlene afirma que a Polícia Militar não informou como será a circulação de carros pela região, o que será decisivo para dizer se o expediente irá até o final do dia. O esquema, no entanto, é elogiado pela comerciante Elenice Accorde, que é proprietária de uma banca de jornal e diz que em maio só foi possível ficar tranquila por conta dos mais de 1.000 policiais nas ruas – cerca de 700 só em frente à Justiça Federal.
Diferentemente do ocorrido na última vez, até o expediente no fórum federal está mantido. Em maio, o local ficou exclusivamente voltado ao depoimento do ex-presidente Lula – todas as demais audiências foram suspensas e os prazos processuais, congelados.
Em frente ao prédio agora, apenas a presença dos militantes frequentes do Acampamento Lava Jato, de apoio a Moro, que se revezam no local. A coordenadora do acampamento, Paula Milani, nega a VEJA que os apoiadores da operação estejam menos engajados. “Só se arrefeceu do lado dos vermelhos. Os verde-amarelos estão mais fortes, continuamos aqui”, afirmou.
Questionada se houve um abalo de credibilidade das investigações por causa das polêmicas envolvendo a delação da JBS, ela ressalta que o apoio do grupo é exclusivo para os trabalhos da força-tarefa na cidade. “O nosso apoio é à Lava Jato em Curitiba. Aqui nós conhecemos e confiamos. São pessoas concursadas, diferente de Brasília, que são indicadas. E Brasília, como temos visto, é o centro da corrupção”, disse Milani.
Ela afirma que o grupo está organizando o ato em frente ao Museu Oscar Niemeyer, em parceria com o movimento Curitiba Contra Corrupção. “Vai ser bem legal, vamos ter o carro de som e caravanas de várias cidades. Todos poderão falar”, diz Narli Rezende, integrante do grupo.
No momento da visita da reportagem, havia apenas seis manifestantes no acampamento, que funciona como um ponto de referência para os apoiadores da operação. Não é incomum ouvir, em pouco tempo no local, buzinas e gritos de ordem vindo de carros que passam por ali.
O grupo é alvo de curiosidade. Uma senhora aborda os manifestantes e pergunta se “agora vocês podem” ficar ali. Milani responde que sim, mas ressalta: “Só hoje. Amanhã vamos desmontar, porque nós, eu posso te garantir, cumprimos a lei”.
A grande questão neste momento entre os militantes é quando o ex-presidente Lula chegará à cidade. O petista falará nesta quarta-feira a Moro no processo em que é acusado de receber propinas da Odebrecht em forma de um terreno para o Instituto Lula – que nunca foi usado – e de um apartamento vizinho ao que Lula mora, em São Bernardo do Campo. O petista nega as acusações.