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Monitoramento da polícia do Piauí mostra traficantes na campanha eleitoral

Ministério Público investiga infiltração do crime organizado na política do Estado

Por Hugo Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 11 mar 2023, 18h47

Em setembro do ano passado, a polícia do Piauí estava monitorando a maior quadrilha de tráfico de cocaína da região, que viria a ser presa dois meses depois. Durante a missão, os agentes constataram que os criminosos estavam adesivando carros com propaganda de candidatos e chegaram a visitar até p comitê eleitoral de um candidato. Como mostrou VEJA desta semana, o Ministério Público investiga a interferência do crime organizado nas eleições do Estado.

O monitoramento mostrou que os traficantes utilizavam em seus veículos adesivos do deputado estadual eleito Georgiano Neto (MDB). Depois que a quadrilha foi presa, em novembro, a polícia descobriu que um dos criminosos, Ramon Santiago Matos Nascimento, havia sido contratado no gabinete do parlamentar, mesmo estando recolhido na penitenciária do estado..

Gergiano Neto é de uma família tradicional de políticos do Piauí. O pai é o deputado federal Júlio César (PSD) e a mãe é a senadora Jussara Lima (PSD), que assumiu a cadeira no Congresso em fevereiro como suplente do ex-governador Wellington Dias (PT), ministro do Desenvolvimento Social do governo Lula. Georgiano não quis explicar a nomeação do traficante.

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Monitoramento: Polícia do Piauí flagrou membros da quadrilha carregando sacolas em frente a comitê eleitoral do PV. Carros tinham adesivos de deputado estadual Georgiano Neto (MDB) – (reprodução/Reprodução)

Durante a vigilância, os policiais flagraram a proximidade da quadrilha com outro político. Ítalo Freire Soares de Sá, apontado como operador financeiro do grupo criminoso, foi visto entrando e saindo do comitê do deputado eleito Jadyel da Jupi (PV). No estacionamento do comitê, o traficante movimentou sacolas de um carro para outro. A polícia não sabe o que havia nelas.

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Ítalo, que é dono de uma empresa de corretagem de imóveis, tinha acesso a gabinetes poderosos. Em 2021, o então governador Wellington Dias recebeu o então “empresário” em uma audiência no Palácio Karnak. O encontro foi para discutir o “fortalecimento do empreendedorismo”. Wellington Dias, evidentemente, não tinha como saber das atividades clandestinas do visitante.

Há outros indícios de ligação do tráfico com a política no estado. Dois membros da quadrilha fizeram contribuições financeiras oficiais para candidatos piauienses junto ao TSE. Uma das investigadas pelo MP é uma candidata a vereadora, que é professora do ensino fundamental com salário de 1.700 reais e que declara ser diretora de empresa, mas que movimentou 6,4 milhões de reais entre setembro de 2020 e agosto de 2022, ou seja, em menos de um ano.

O Ministério Público suspeita que o crime organizado tenha utilizado parcela dos recursos arrecadados com o narcotráfico na compra de votos no Estado. A nomeação de um criminoso preso como assessor parlamentar, na avaliação dos investigadores, seria uma forma de retribuição pela ajuda na campanha.

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