Miller diz à CPMI que sua atuação pela JBS foi ‘lambança’
Diante de deputados e senadores, o ex-procurador negou, no entanto, que tenha 'traído' o MPF e criticou declarações de Rodrigo Janot
Em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da JBS na manhã desta quarta-feira, o ex-procurador da República Marcello Miller classificou como “lambança” e “erro brutal” as orientações que deu a executivos do Grupo J&F na negociação de suas delações premiadas enquanto ainda não havia deixado oficialmente o Ministério Público Federal (MPF).
“De fato, eu comecei a ter contato com a J&F [que controla a JBS] antes da delação acontecer. Respondia perguntas, refletia sobre o caso, e não estou negando nada disso. Fiz uma avaliação e não cometi crime, espero mesmo que apurem os fatos, mas eu cometi um erro brutal de avaliação. Eu fiz uma lambança”, afirmou Miller a deputados e senadores.
Apesar disso, o ex-procurador afirmou que não traiu o MPF ao trocar o órgão pelo escritório Trench, Rossi e Watanabe Advogados, que tinha a J&F como cliente. “Eu não traí o MPF porque tudo o que eu incentivava a empresa a fazer era o que eu faria se estivesse no exercício de minha função (na PGR). É o que eu diria se estivesse numa sala de aula, é o que eu diria a um amigo. Eu incentivava a empresa a se remediar”, explicou-se Marcelo Miller.
Para o ex-procurador, o pedido de prisão feito contra ele pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot foi um “disparate completo”. “Ele não tinha atribuição para pedir minha prisão porque eu não tinha foro privilegiado. Meu pedido de prisão foi feito para garantir a busca e apreensão na minha casa. Foi um disparate completo”, afirmou.
Miller desmentiu ainda que fosse “braço direito” de Janot. “Há uma desinformação completa sobre minha relação com Rodrigo Janot. Nunca fui braço direito de Janot. Ele não tinha nenhuma predileção por mim. Ele me convocou por conta de um trabalho que eu tinha feito”, relatou.
Marcelo Miller voltou a criticar as declarações do ex-procurador-geral, de que ele teria agido por ganância. Isso porque deixou o cargo de procurador no Ministério Público Federal no dia de 5 de abril e foi trabalhar, na sequência, na empresa Trench, Rossi e Watanabe Advogados, que tinha justamente a J&F como cliente.