Lula convoca militância para queimar pneus e fazer ocupações
Em seu provável último discurso antes de ser preso, ex-presidente se disse vítima de injustiça, mas admitiu que vai se entregar para ser preso
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu provável último discurso antes da prisão, convocou a militância a queimar pneus e fazer ocupações enquanto estiver na cadeia. “Vocês vão ver que eu vou sair dessa”, disse o petista. “Sairei maior, mais forte e mais inocente.”
O líder do Partido dos Trabalhadores colocou a culpa por sua condenação na direita, na imprensa – na Rede Globo, principalmente – no juiz Sergio Moro e nos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) . “Eles acham que tudo o que acontece nesse país acontece por minha causa.”
Em cima do carro de som no Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo, Lula fez um longo prêambulo antes de dizer que vai se entregar, mas pediu para a luta da esquerda continuar. “Eu vou atender à vontade deles”, afirmou, e acrescentou. “Vocês todos daqui para a frente vão virar Lula, vão queimar os pneus que vocês tanto queimam, vão me representar”, disse o petista.
De acordo com suas declarações, o ex-presidente foi contra os vários conselhos que recebeu para fugir do país, mas admitiu que, se dependesse dele, não se entregaria. “Aceitamos cumprir o mandado. Eu quero saber quantos dias eles vão me deixar preso. Quantos mais dias eles me deixarem lá, mais Lulas vão surgir neste país.”
Apesar dos gritos contrários da militância, que pediam para não se entregar, ele concluiu: “Estou fazendo uma coisa muito consciente. Se dependesse da minha vontade, eu não iria.”
“Eu sou uma ideia”
Lula deixou claro o tempo todo que é preciso que a esquerda não desista da luta por espaço na política brasileira e que continue defendendo os ideais que ele afirma ter colocado em prática em seus oito anos como presidente da República. “Eu sonhei que era possível governar esse país envolvendo milhões de pessoas pobres na economia.”
“Eu não sou mais um ser humano, eu sou uma ideia”, afirmou em uma de suas frases curiosas no discurso, que serviu para o líder do PT mostrar apoio a políticos do partido como Fernando Haddad, seu possível substituto na eleição de 2018. Ele também elogiou a ex-presidente retirada após um impeachment em 2016, Dilma Rousseff, ao seu lado no carro de som: “A mais injustiçada das mulheres que ousaram fazer politica nesse país.”
Além das menções a Haddad, Lula fez longos elogios também aos pré-candidatos Manuela D’Avila (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL).
Ao fim dos agradecimentos pediu uma salva de palmas aos companheiros do sindicato dos Metalúrgicos do ABC. “Eu vivi os meus melhores momentos políticos nesse sindicato. Eu nunca esqueci o meu numero de matrícula. Aqui foi minha escola, aprendi sociologia, economia, física, química, e aprendi a fazer muita política. Por todos os presidentes que vieram depois (e citou o nome de todos) eu ainda sou tratado como se fosse um presidente.”
A condenação
Sobre o processo do tríplex que vai levá-lo para a cadeia, Lula se disse alvo de uma armação do juiz Sergio Moro. “Eu sou o único ser humano processado por uma apartamento que não é meu”, afirmou. “A Polícia Federal da Lava Jato também mentiu que era meu. O Ministério Público mentiu dizendo que era meu. Moro mentiu que era meu.”
“Eu não os perdoo por ter passado para a sociedade de que eu sou um ladrão”, diz. “Nenhum deles tem coragem ou dorme com a consciência tranquila, com a honestidade e inocência, como eu durmo.”
Raivoso, Lula direcionou boa parte de seus comentários também contra os ministros do STF. “Quem quiser votar com base na opinião pública, que largue a toga e vá ser deputado.” Segundo ele, tudo foi feito para tirá-lo do caminho eleitoral, porque ele deu espaço para o povo em universidades e conseguiu distribuir melhor a renda do país.
“Não pense que eu sou contra Lava Jato. Tem que pegar bandido que roubou e prender. Todos nós dizíamos que só prende rico, não prende pobre. Eu quero que continue prendendo rico.”