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José Dirceu volta às articulações políticas e já indica auxiliares a Lula

Petistas juram que o ex-todo-poderoso ministro nem exercerá nenhum tipo de influência na nova administração. A realidade não é bem assim

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 11h05 - Publicado em 9 dez 2022, 06h00

Há exatos vinte anos, o então deputado José Dirceu foi confirmado pelo presidente eleito Lula como ministro-chefe da Casa Civil — um anúncio importante na época, mas previsível. Dirceu era uma espécie de alter ego do presidente. Na campanha de 2002, atuou como coordenador-geral, responsável por formular as principais estratégias de ação e operar as mais delicadas negociações políticas. Vencida a eleição, comandou a equipe de transição e participou ativamente da escolha de cada um dos ministros. No governo, nada acontecia sem antes ser chancelado pelo seu gabinete. Candidato natural à sucessão de Lula, viu ruir seus planos em 2005, com o escândalo do mensalão. Condenado e preso, nunca mais foi visto em confabulações com os antigos companheiros, ao menos não publicamente. Na campanha deste ano, os petistas juram que Dirceu não teve nenhuma participação, assim como não dá pitacos na equipe de transição, não fala com Lula e nem exercerá nenhum tipo de influência na nova administração. Uma série de evidências mostra que a realidade não é bem assim.

Na segunda 5, um convescote revelou que certas mudanças já são visíveis em algumas órbitas de Brasília. Entre goles de caipirinha, cerveja e vinho e garfadas em uma suculenta picanha (sim, o carro-chefe da campanha de Lula), um grupo de autoridades assistiu animado à vitória do Brasil sobre a Coreia do Sul. Antes e depois do jogo, o assunto dominante entre as rodas que se formaram foi a composição do futuro governo. Entre os presentes, vários aspirantes a escalar degraus na hierarquia do poder, como o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, e o deputado Marcelo Freixo — ambos do PSB e que vislumbram ocupar um ministério no ano que vem —, o ex-­braço direito do ministro Ricardo Lewandowski Manoel Carlos de Almeida Neto, cotado para assumir a cadeira do próprio Lewandowski no STF, o procurador Antonio Carlos Bigonha, o preferido do PT para suceder a Augusto Aras na PGR, além de advogados, políticos de menor expressão, magistrados e… José Dirceu.

A camisa branca do ex-ministro destoava do verde e amarelo com que as autoridades estavam vestidas, mas isso é o que menos importava. O importante é o simbolismo da situação. Dirceu nunca se afastou completamente da política e nem de alguns personagens centrais que dela fazem parte. Na campanha, o ex-ministro mantinha contatos frequentes com o MDB, que tinha a senadora Simone Tebet como candidata ao Planalto, mas já articulava para apoiar Lula no segundo turno — tudo de maneira reservada, com absoluta discrição.

Respeitado por ter absorvido as condenações impostas pelo mensalão e pelo petrolão sem sucumbir a um acordo de delação premiada, o ex-ministro, depois da vitória petista, passou a ser acionado por determinados setores para decodificar os sinais emitidos pela equipe de transição e explicar “como funciona a cabeça desse pessoal novo do PT”. Ministeriáveis também estão batendo à porta do ex-ministro em busca de apoio político — outra prova de sua reabilitação. “Vou levar esse assunto adiante”, costuma repetir. O “adiante”, para muitos, tem nome e sobrenome. Reza a lenda que Dirceu mantém um canal de comunicação direto com Lula — mas ninguém sabe (ou quer revelar) se isso realmente procede.

Com quase 1 000 pessoas nomeadas para sua equipe de transição, o time selecionado por Lula para pavimentar as bases de seu terceiro mandato já entrou para a história como o maior de todos os tempos. De celebridades a acadêmicos, de lideranças políticas a economistas renomados, o petista decidiu abrigar figuras que o ajudaram na campanha eleitoral e, assim, mostrar a preparação para um governo amplo, diverso e, sobretudo, repaginado. Esse balaio gigante de colaboradores também está servindo para o PT resgatar, direta ou indiretamente, antigos companheiros que ficaram pelo caminho durante os dois primeiros mandatos do presidente eleito (veja abaixo). Dirceu é a estrela maior desse grupo.

Amigos relatam que o ex-ministro há muito enfrenta uma situação difícil. Com uma dívida de 37 milhões de reais em impostos, com os bens bloqueados e ainda sob ameaça de voltar para a cadeia, ele mora na casa da sogra, enquanto luta para reaver o seu registro de advogado, cassado há mais de cinco anos. Sua única fonte de renda seria a aposentadoria de ex-­parlamentar paga pela Câmara. O ex-ministro, apesar das dificuldades, comemorou a vitória de Lula com uma viagem a Paris. Afinal de contas, ninguém é de ferro.

DE VOLTA À VITRINE
O PT usa a equipe de transição para tentar redimir antigos companheiros

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GUIDO MANTEGA
GUIDO MANTEGA – (Egberto Nogueira/Ímãfotogaleria/VEJA)

Guido Mantega
O ex-ministro da Fazenda chegou a ser indicado por Lula para compor a equipe de transição, mas desistiu diante da má repercussão

PAULO BERNARDO -
PAULO BERNARDO – (Marcos Oliveira/Ag. Senado)

Paulo Bernardo
Embora ainda responda a processo por corrupção, o ex-ministro do Planejamento está no núcleo de comunicações

NELSON BARBOSA -
NELSON BARBOSA – (Valter Campanato/Agência Brasil)

Nelson Barbosa
O ex-ministro da Fazenda foi um dos responsáveis pelas pedaladas fiscais, manobra contábil que resultou no impeachment de Dilma Rousseff

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LUCIANO COUTINHO -
LUCIANO COUTINHO – (Lúcio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados)

Luciano Coutinho
O ex-presidente do BNDES é réu na Justiça, acusado de autorizar empréstimos irregulares a doadores do PT

SERGIO GABRIELLI -
SERGIO GABRIELLI – (Eraldo Peres/AP Photo/Image Plus)

Sergio Gabrielli
O ex-presidente da Petrobras não tem cargo formal na equipe de transição, mas participa da formulação de políticas na área de energia

Publicado em VEJA de 14 de dezembro de 2022, edição nº 2819

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