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Haddad lidera a corrida em SP, mas enfrenta longa lista de obstáculos

A missão vai além de ajudar Lula. Ele encarna agora a maior chance que o PT já teve de comandar o estado onde a legenda nasceu

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 12h27 - Publicado em 20 ago 2022, 08h00

Derrotado no segundo turno da eleição presidencial de 2018 por Jair Bolsonaro, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad mantém, quatro anos depois, tons nacionais em sua retórica como candidato do PT, agora ao governo de São Paulo. Haddad iniciou a campanha na terça 16, com uma caminhada pelo centro da capital paulista e, em seguida, um comício ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em frente à fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo. No primeiro compromisso, rebateu os ataques que Jair Bolsonaro e a primeira-dama, Michelle, têm feito a Lula no campo da religião. Na cidade do ABC, berço político do ex-presidente, previu uma “jornada dura” contra “quem mente sete vezes por dia”. Maior colégio eleitoral do Brasil, com 34,6 milhões de eleitores (22% do país), São Paulo tem de fato um imenso peso na disputa presidencial. Mas a missão de Haddad vai além de ajudar Lula, a quem aceitou substituir 26 dias antes da votação de 2018. Ele encarna agora a maior chance que o PT já teve de comandar o estado onde a legenda nasceu. Segundo as pesquisas Ipec e Quaest, larga com um pé no segundo turno, coisa que o partido só conseguiu uma vez em dez eleições que disputou no estado, a última delas há vinte anos.

Os adversários olham com desdém o atual favoritismo e, nos bastidores, adoram contar que, além da chegada certa de Haddad ao segundo turno, é certo também que acabará sendo derrotado na reta final. Ironias à parte, até entre os petistas há a percepção de que, apesar da ótima largada, há sérios obstáculos a serem superados no caminho. Para começar, isso passa por derrotar duas grandes forças políticas em São Paulo: o bolsonarismo e o tucanismo. Segundo as sondagens eleitorais, o governador Rodrigo Garcia (PSDB) e o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) travam uma briga equilibrada pela segunda posição. Garcia comanda o maior orçamento estadual do país, sentado na cadeira que o PSDB ocupa desde a vitória de Mario Covas em 1994. Já Tarcísio foi escolhido pessoalmente por Bolsonaro, que recebeu dois de cada três votos dos paulistas (67%) no segundo turno de 2018 contra o mesmo Haddad. O presidente perdeu popularidade no estado, onde Lula lidera na maioria das pesquisas, mas tem recuperado terreno recentemente e empatou tecnicamente com o petista no último levantamento da Quaest (37% para Lula e 35% para Bolsonaro).

Além desses adversários, o PT enfrenta forte resistência ao partido, principalmente no eleitorado do interior, de perfil mais conservador. Outro complicador é a rejeição ao próprio Haddad: segundo a Quaest, 49% dizem que não votariam no petista de jeito nenhum, número que cai para 32% no Ipec — nos dois casos, ele é disparado o mais rejeitado (veja o quadro). Se não bastasse o antipetismo, Haddad carrega o fardo de ter saído da prefeitura paulistana com uma péssima avaliação, sendo derrotado na tentativa de reeleição em 2016 pelo tucano João Doria, em primeiro turno. “Haddad tem rejeição na capital por ter sido um péssimo prefeito e, no interior, por representar o PT”, resume o presidente do PSDB no estado, Marco Vinholi. O antipetismo paulista é uma verdade das urnas: apenas em 2002, um candidato do partido venceu a eleição presidencial (com Lula), não por coincidência também o ano em que foi pela primeira e única vez ao segundo turno estadual, com José Genoino, derrotado por Geraldo Alckmin, então no PSDB e hoje no PSB, na votação final.

Por ironia, o “carrasco” de 2002 é agora uma das esperanças do petismo no estado. Haddad tem a seu lado tanto Alckmin, que administrou São Paulo por quatro mandatos e agora é candidato a vice de Lula, quanto Márcio França (PSB), que também foi governador de São Paulo e disputará uma cadeira de senador em sua chapa — a mulher do pessebista, Lúcia França, é a vice de Haddad. “Alckmin governou por catorze anos, é muito respeitado, um grande aliado no diálogo com o interior, um grande fiador”, diz o coordenador do plano de governo de Haddad, o deputado estadual Emidio de Souza, para quem as agendas com o ex-tucano serão “decisivas”. A fama de ser um “petista com cara de tucano”, como brincam aliados, e o perfil mais moderado que o de Lula também são citados como elementos para torná-lo mais simpático a um eleitorado tradicionalmente distante do PT. A ideia é atrair paulistas com “perfil Mario Covas”. “Aquele eleitor com dificuldade de votar em Garcia, por considerá-lo mais conservador e liberal, e que não vota em Tarcísio”, resume Márcio França.

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FÉ NO PADRINHO - Tarcísio: o candidato vai colar em Bolsonaro em São Paulo -
FÉ NO PADRINHO - Tarcísio: o candidato vai colar em Bolsonaro em São Paulo – (Ronaldo Silva/Futura Press)

A campanha já mira o eleitorado mais conservador. Aparições de Haddad ao lado da esposa, Ana Estela, assim como Alckmin e França com suas respectivas mulheres, são vistas como estratégia de imagem a ser usada — os três aliados costumam brincar entre si que eles, somados, já têm mais de 100 anos de casados. Para o agro e os pequenos produtores, cogita-se um programa para dobrar as safras em quatro anos, além de propostas para expandir ferrovias que barateiem o escoamento da produção. Na capital, a ideia é defender marcas da gestão de Haddad como prefeito, em tópicos da mobilidade urbana, como corredores de ônibus, ciclovias, bilhete único mensal e passe livre a estudantes, e, na saúde, a Rede Hora Certa.

Se os ex-adversários, de perfil mais centrista, podem ajudar a atrair o eleitorado conservador do interior, o petista, por outro lado, conta com a maior aliança de esquerda já fechada no estado, com o apoio do PSB de França e Alckmin, do PSOL de Guilherme Boulos e da Rede de Marina Silva, entre outros. Do outro lado do espectro, à direita, Tarcísio tentará colar sua imagem à de Bolsonaro, ainda mais se o Auxílio Brasil turbinado e a melhora dos indicadores econômicos alavancarem ainda mais a popularidade do presidente entre os paulistas, como já vem ocorrendo. “O objetivo é fazer com que a população saiba que Tarcísio é o candidato de Bolsonaro. A prioridade número 1 é acompanhar a agenda do presidente em São Paulo”, sintetiza Felicio Ramuth (PSD), vice na chapa bolsonarista.

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TRUNFOS - Rodrigo Garcia: planos de mudar discurso de campanha
TRUNFOS - Rodrigo Garcia: exército de prefeitos e distância da polarização – (William Moreira/Futura Press)

Uma das estratégias definidas para Haddad nesta fase da disputa é tentar fugir o máximo possível de confrontos, deixando Tarcísio e Garcia sozinhos numa luta para tentar ver qual deles chegará ao segundo turno. Enquanto o bolsonarista estagnou depois de uma boa largada, o tucano vem crescendo à medida que seu nome se torna mais conhecido: dobrou as intenções de votos de março a julho e, segundo as últimas pesquisas, encontra-se empatado com o adversário dentro da margem de erro. Além do retrospecto positivo do PSDB, conta com a máquina do governo, com o apoio de 572 prefeitos (de um total de 645 municípios) e com 50 bilhões de reais em caixa para inaugurar obras neste ano. Tem ainda a seu favor o fato de que, segundo a Quaest, 40% querem um governador que não seja ligado nem a Lula nem a Bolsonaro. Na propaganda eleitoral, o tucano tentará reforçar a posição de centro dizendo que é “um pouco de esquerda”, por ter preocupação com as desigualdades sociais, e de direita, por defender um Estado enxuto. Não por acaso, ele é visto pela campanha petista como um adversário muito mais perigoso num segundo turno — caso se confirme essa hipótese, ela engordará a considerável lista de obstáculos a serem vencidos por Haddad na corrida ao Palácio dos Bandeirantes.

Publicado em VEJA de 24 de agosto de 2022, edição nº 2803

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