Grupo que comandou o PT por quatro décadas quer ‘renovação’ do partido
Ex-presidentes da legenda, dois deles já presos por corrupção, discutiram com Lula propostas para evitar que lideranças se eternizem
O presidente Lula teve uma reunião virtual com todos os ex-presidentes do PT, incluindo o ex-ministro José Dirceu, que foi condenado e preso por envolvimento nos escândalos do mensalão e do petrolão, o ex-deputado José Genoino, que foi condenado e preso também no escândalo do mensalão, o ex-ministro Ricardo Berzoini, defenestrado após se envolver no “escândalo dos aloprados”, além do ex-governador Olívio Dutra, do ex-ministro Tarso Genro e do deputado Rui Falcão. Esse grupo ditou os rumos do PT nos últimos 40 anos.
O pauta da reunião com a velha guarda foi a “renovação” do partido. Olívio Dutra disse a VEJA que muito se falou dobre a necessidade de mudança no comando da legenda. “Os mais antigos tem o que dizer, mas não precisam estar se eternizando nas direções. Nós temos que fazer as coisas girarem mais”, afirma o ex-governador do Rio Grande do Sul. “Temos de estimular não só a juventude, mas outros quadros novos para assumir responsabilidades, fazer da política não uma carreira, uma profissão, mas uma ação em torno do projeto coletivo e solidário, que é o projeto que deu origem ao PT”, acrescentou.
O diagnóstico surge num momento em que o partido exerce o poder pela quarta vez e, ao mesmo tempo, enfrenta níveis altíssimos de rejeição. Um dia depois da reunião, Lula conclamou estudantes a ingressarem na política partidária. “Nunca diga que todo político é safado, é ladrão, que você não gosta de política, porque todo cara que fala isso vai ser político”, pregou o presidente. “Sabe quem presta? Você. Então, entre você na política, você é o futuro desse país. Não desistam, assumam a responsabilidade histórica de vocês’.
Lula não estimula novas lideranças
Ainda respondendo a processos na justiça, José Dirceu já confidenciou a amigos que pensa em disputar um mandato de deputado federal por São Paulo. O partido também voltou a incensar nomes como o ex-deputado João Paulo Cunha, outro condenado no mensalão.
Para o cientista político Alberto Aggio, da Universidade Estadual Paulista, dificilmente o PT vai fazer alguma mudança a partir da vontade de personalidades que sempre comandaram o partido. Ele diz que o problema já começa com Lula: “O PT não fará nenhuma renovação verdadeira tendo Lula como principal liderança”. O principal motivo, afirma, é que o presidente nunca estimulou o surgimento de novas lideranças. “O período Lula se encerrará nele mesmo, na trajetória dele, o resto que virá tem que vir com as próprias pernas”, diz Aggio.