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Golpe ‘não tem possibilidade de se tornar real’, diz Santos Cruz

Para o general, as Forças Armadas não podem se misturar com questões de governo e não se envolverão em nenhum ato de ruptura institucional

Por Roberta Paduan Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h36 - Publicado em 6 mar 2020, 06h00

O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-secretário de Governo, criticou o uso de fotos de militares em cartaz digital usado para convocar manifestação em favor de Jair Bolsonaro e contra o Congresso, que estaria impedindo o presidente de governar. Para Santos Cruz, as Forças Armadas não podem se misturar com questões de governo e não se envolverão em nenhum ato de ruptura institucional.

As Forças Armadas dariam apoio a uma tentativa de golpe, na hipótese de o presidente rasgar a Constituição a pretexto de que é impossível governar com este Legislativo? Essa é uma situação hipotética sem nenhuma possibilidade de se tornar real. O presidente não vai rasgar a Constituição. Ele vai obedecer à lei. As discussões são normais, mesmo com um estilo mais explosivo, mais bombástico. O presidente fez parte do Legislativo, conhece como funciona e sabe que não é nada disso. Não existe impossibilidade nenhuma de governar. O que existe é a dinâmica normal da democracia, em que os poderes e outros núcleos de pressão interagem para o aperfeiçoamento das soluções. O Brasil tem um presidente e um Legislativo eleitos, e os poderes e as instituições funcionam. Eles têm problemas e sempre terão, mas não há a mínima possibilidade de ruptura institucional. O Brasil possui Forças Armadas bem preparadas em todos os níveis, que têm como farol a destinação constitucional.

A oposição aproveitou a polêmica para convocar protestos contra o governo. O senhor teme tumultos por causa da polarização no país? Não. Nos últimos anos, com a participação popular em inúmeras oportunidades, foi desenvolvida maturidade suficiente para que tudo seja feito de maneira legal, em paz e em ordem.

Como o senhor avalia a postura do general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, que atacou o Congresso? Cada um tem de saber a conveniência e as consequências de suas atitudes. Ele tem cultura e experiência para fazer essa avaliação. O uso de palavras fortes ao se referir a parlamentares foi rebatido no mesmo tom pelo lado atingido. Uma reação natural. Acho que é um incidente superado.

Com tantos militares na gestão, não há risco de a população confundir governo e Forças Armadas? O número de postos ocupados por militares no Palácio e outros locais da administração pública pode provocar em alguns a percepção errada de que a instituição Forças Armadas tem alguma responsabilidade pelos resultados e atitudes do Executivo. Isso não é correto. As responsabilidades são individuais. Governos erram e acertam, e são temporários. Não têm nada a ver com as Forças Armadas, que têm uma missão constitucional, não de governo. Por isso, não se podem tolerar iniciativas que provoquem esse tipo de confusão, como foi feito com aquele folheto.

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O governo poderia estar melhor? Creio que sim, se não houvesse tanto ruído ideológico. Este governo pegou uma situação muito favorável. A oposição está desarticulada, pagando um preço muito alto por toda a corrupção descoberta. Mas as disputas ideológicas não trouxeram paz à sociedade. O governo precisa de boas decisões técnicas, boas decisões políticas e de paz. O governante precisa transmitir tranquilidade e paz a todos, até para aqueles que perderam, porque tem de governar para todo mundo.

É curioso que o senhor que participou de combates violentos pregue a paz… Não é porque comandei tropa de combate que vou viver em guerra o tempo todo. Quando é guerra, é guerra. Mas, quando não é guerra, não é guerra! Você não pode ter um comportamento belicoso, como se estivesse em guerra permanente. Isso é coisa de psicopata.

Publicado em VEJA de 11 de março de 2020, edição nº 2677

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