Último Mês: Veja por apenas 4,00/mês
Continua após publicidade

Entorno das campanhas mudou, mas Lula e Bolsonaro dão a palavra final

Em ambos os casos, a renovação das equipes ocorreu menos por vontade própria e mais por necessidade, mas os candidatos centralizam as decisões

Por Letícia Casado Atualizado em 4 jun 2024, 11h27 - Publicado em 15 jul 2022, 06h00

Favoritos na corrida presidencial, Lula e Jair Bolsonaro contam nesta campanha com grupos de conselheiros bem diferentes daqueles formados quando cada um dos dois conquistou pela primeira vez o direito de governar o país. Em ambos os casos, a renovação das respectivas equipes ocorreu menos por vontade própria e mais por necessidade. O petista foi obrigado a deixar pelo caminho companheiros graduados abatidos por escândalos de corrupção. No caso do ex-capitão, a guinada decorreu de pragmatismo político. Acossado pela crise econômica, pelos efeitos da pandemia e pela ameaça de enfrentar um processo de impeachment, Bolsonaro abandonou o figurino de outsider, aderiu à velha ­política que tanto repudiava em 2018 e fechou uma parceria estratégica com os líderes do Centrão. Apesar da substituição de alguns coadjuvantes, uma coisa não mudou: no papel de protagonistas, Lula e Bolsonaro continuam como donos da última palavra sobre os rumos de suas campanhas e centralizam todas as decisões, gostem seus conselheiros ou não.

Candidato à reeleição e segundo colocado nas pesquisas, Bolsonaro concorreu na sucessão presidencial passada por uma legenda nanica, sem coligação partidária e sem o apoio de políticos de expressão nacional. Deputado de baixo clero por sete mandatos consecutivos, ele se apresentou ao eleitorado como o nome antissistema e teve um conselho muito enxuto, coordenado pelo advogado Gustavo Bebianno, que cuidava de questões jurídicas, agendas públicas e até do processo de escolha do vice na chapa. Bebianno era ajudado pelo amigo e empresário Paulo Marinho, que cedeu sua casa para funcionar como comitê de campanha, e por outras pessoas que foram agregadas ao grupo por decisão do próprio Bolsonaro, como o agora deputado Julien Lemos (União Brasil-­PB). Hoje, nenhum desses três faz parte da campanha à reeleição. Bebianno chegou a ser empossado como ministro da Secretaria-Geral da Presidência, mas logo acabou demitido, acusado de conspirar contra o presidente, o que ele sempre negou. O advogado morreu em março de 2020, quando já estava fora do governo. Marinho também recebeu a pecha de traidor e Julien Lemos se distanciou do presidente. Do grupo de conselheiros de 2018, restam os filhos de Bolsonaro e a equipe que centralizava — e ainda centraliza — a campanha na internet, comandada por Carlos Bolsonaro.

TITULARES - Jair Bolsonaro, versão 2022: a campanha de reeleição será tocada por profissionais de diferentes ramos -
TITULARES - Jair Bolsonaro, versão 2022: a campanha de reeleição será tocada por profissionais de diferentes ramos – (Isac Nóbrega/PR)

No conselho de Bolsonaro, a grande mudança não foi de personagens específicos, mas de engrenagem. Ao contrário de 2018, em que quase tudo era feito de forma amadora e improvisada, a campanha deste ano é tocada por profissionais de diferentes ramos. A equipe de coordenação é composta pelo senador Flávio Bolsonaro, reconhecido como o filho mais tarimbado para as negociações políticas, e por dois dos maiores expoentes do Centrão: o presidente do PP e ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o mandachuva do PL, Valdemar Costa Neto. Eles trabalharam na construção de uma ampla aliança partidária, contrataram um marqueteiro para cuidar da propaganda na TV e definiram a estratégia de usar e abusar dos cofres públicos para tentar diminuir a desvantagem em relação ao ex-presidente Lula. O ministro da Economia, Paulo Guedes, que foi tão importante em 2018 para convencer o mercado de que Bolsonaro tocaria uma agenda liberal, hoje é peça quase de figuração e está obrigado a apoiar a gastança em nome da reeleição.

Continua após a publicidade

Se dependesse da coordenação política, Bolsonaro teria escolhido a ex-­ministra da Agricultura Tereza Cristina para o cargo de vice, como forma de tentar atenuar a rejeição ao presidente entre as mulheres e de estreitar laços com o agronegócio. O presidente, no entanto, está decidido a convocar o general Braga Netto para a missão. O episódio não é o único a mostrar como o ex-capitão até ouve os conselheiros, mas decide tudo por conta própria. Bolsonaro nunca aceitou se vacinar em frente das câmeras, apesar dos inúmeros — e acertados — apelos dos auxiliares. No fim de junho, titubeou para demitir o então presidente da Caixa, Pedro Guimarães, acusado de assédio sexual.

CARAS VELHAS - Nogueira e Costa Neto: o Centrão agora tem cadeira cativa na campanha -
CARAS VELHAS - Nogueira e Costa Neto: o Centrão agora tem cadeira cativa na campanha – (Benné Mendonça/ASCOM CASA CIVIL/.)

Uma certa renovação — mais de pessoas do que de métodos e discursos — também ocorre na campanha de Lula. Do escrete de 2002, quando o petista conquistou pela primeira vez a Presidência, continuam figuras como Gilberto Carvalho e Paulo Okamotto, em funções laterais, e Aloizio Mercadante, que cuida da elaboração do programa de governo. Morto no ano passado, Duda Mendonça, o marqueteiro responsável por criar a imagem do “Lulinha paz e amor”, se viu na lista negra do partido ao admitir, em 2005, no auge do escândalo do mensalão, que recebeu do PT dinheiro de caixa dois no exterior. A poderosa troica do primeiro mandato, formada por José Dirceu, Antonio Palocci e José Genoino, está hoje escanteada. O trio foi abatido por denúncias de corrupção e é convenientemente deixado de lado. Dirceu, embora tenha boa relação e seja ouvido em algumas questões, permanece afastado do comando central. Já Palocci, fustigado pela Lava-Jato, delatou Lula e agora é tratado como inimigo pelos petistas.

Continua após a publicidade

Entre os conselheiros atuais estão pessoas que estiveram presentes na vida de Lula durante os 580 dias em que ele ficou preso em Curitiba, como a presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffmann, o candidato do partido ao governo de São Paulo, Fernando Had­dad, os advogados Marco Aurélio Carvalho e Cristiano Zanin e a socióloga Rosângela Silva, a Janja, esposa de Lula. Eles aparecem ao lado do candidato em eventos públicos, têm funções bem definidas e são ouvidos pelo ex-presidente. Haddad é o mais influente do grupo e está na origem da ideia de escolher para vice o ex-tucano e ex-adversário Geraldo Alckmin, que enfrentou resistências de setores petistas, mas foi bancado por Lula. Janja também tem mais ascendência na campanha do que certos petistas estrelados. Ela é acusada pelo fogo amigo de insuflar o marido a defender a tese de que o aborto é um caso de saúde pública, e não de cadeia — tese correta no mérito, mas duvidosa do ponto de vista eleitoral.

CARAS NOVAS - O advogado Cristiano Zanin e Janja, esposa de Lula: novidades do staff principal -
CARAS NOVAS - O advogado Cristiano Zanin e Janja, esposa de Lula: novidades do staff principal – (Suamy Beydoun/AGIF/AFP; Ricardo Stuckert/.)

Apesar de seus conselheiros atuais recomendarem moderação, Lula volta e meia tem recaídas retóricas e apela para um discurso mais radical. Esse comportamento é fruto de vários fatores. Diante de plateias mais domesticadas, o ex-­presidente costuma falar o que realmente pensa. Além disso, ele mantém um grupo de conselheiros alternativos, que não aparecem nas fotos, mas são consultados. É uma espécie de velha guarda de seus dois governos, da qual fazem parte Franklin Martins, entusiasta da regulação da mídia, Luiz Dulci e o ex-chanceler Celso Amorim. “Hoje, o partido carece de renovação e está sem núcleo organizado como antes”, diz o cientista político Claudio Couto, da Fundação Getulio Vargas. Alguns conselheiros podem até ser diferentes, mas a regra de ouro não muda: a última palavra é de Lula e Bolsonaro. Como sempre.

Continua após a publicidade

Publicado em VEJA de 20 de julho de 2022, edição nº 2798

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

1 Mês por 4,00

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.