Em 2014, Cristiane Brasil pressionou servidores por votos
Indicada para o Ministério do Trabalho por Michel Temer, a deputada federal diz em gravação que, se não fosse eleita, os funcionários perderiam seus cargos
Uma gravação traz a deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ), com nomeação pelo presidente Michel Temer (MDB) para o Ministério do Trabalho suspensa pela Justiça, pressionando servidores públicos da Prefeitura do Rio de Janeiro, em 2014, a pedirem votos para sua campanha ao Congresso. A parlamentar, então secretária especial do Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida, afirma que, se não fosse eleita, os funcionários perderiam seus cargos.
“Eu só tenho um jeito de manter o emprego de vocês. É me elegendo” diz no áudio, revelado pelo programa Fantástico, da TV Globo. Ao menos quatro ex-servidores confirmaram para a reportagem da emissora terem estado presentes em reuniões do tipo. A então secretária informa ainda qual é a “meta” que precisam se preocupar: “se eu perder a eleição de deputada federal… eu preciso de 70.000 votos, eu fiz quase 30 (mil votos, na campanha para a Câmara Municipal em 2012). Agora são 70.000. No dia seguinte, eu perco a Secretaria. No outro dia, vocês perdem o emprego”.
Cristiane Brasil ainda orienta os funcionários do órgão da Prefeitura responsável pela assistência aos idosos a como usar o cargo em favor de sua campanha. “Eu preciso de uma coisa que está na mão de vocês agora, que é a credibilidade junto ao idoso, é a amizade que eles têm com vocês, é o carinho que eles têm com vocês no dia a dia”, explicou.
Junto com ela, estava o ex-cunhado, o deputado estadual Marcus Vinícius (PTB), então candidato à reeleição. Além da campanha da então secretária ao Congresso, os servidores também precisavam se engajar para reeleger Vinícius para a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). “O que a gente pede hoje? Acho que a Cris já falou o que tinha que falar. Nós temos mais de dois mil funcionários. Se cada um de vocês conseguir 30 votos, 50 votos, já quase atingiu o objetivo. Vai chegar a 150.000 votos.”
O “objetivo” da dupla foi atingido. Cristiane Brasil recebeu 81.817 votos para a Câmara e Marcus Vinícius foi reeleito com 31.192 votos. Uma reportagem do jornal O Estado de S.Paulo revela um outro fato que constrange a situação política da deputada, filha do presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson: um inquérito, enviado ao Ministério Público Federal (MPF) em virtude do foro privilegiado de Cristiane, investiga uma suspeita de que ela e o ex-cunhado pagaram a traficantes para ter o direito de fazer campanha no bairro de Cavalcanti, na Zona Norte da capital fluminense, durante as eleições de 2010.
Ao programa da TV Globo, Cristiane Brasil afirmou que ela “não foi ouvida no inquérito e nega contato com criminosos”. A deputada também disse “desconhecer” o áudio e alegar que “jamais infringiu qualquer norma ética ou jurídica relacionada às eleições”. Marcus Vinícius disse que “em 2010, prestou esclarecimentos” sobre o inquérito e que, por também desconhecer, “não pode se manifestar sobre o suposto material”, a respeito da gravação.
Nomeação
A deputada do PTB foi indicada para o Ministério do Trabalho pelo partido depois que o ex-ministro Ronaldo Nogueira deixou o cargo para se candidatar a sua campanha à reeleição para o Congresso. Sua posse, no entanto, está suspensa há um mês por decisões da Justiça, que levaram em conta suas condenações na esfera trabalhista para alegar que a nomeação feria a moralidade do serviço público.
A segunda vez que ela foi impedida de tomar posse foi por uma liminar da presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), a ministra Cármen Lúcia. A Corte deve julgar nas próximas semanas se a petebista pode ou não tomar posse no cargo. Cristiane Brasil recorreu ao plenário.