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Disputa eleitoral em Brasília envolve Bolsonaro em jogo de intrigas

A primeira-dama, duas ex-ministras e um ex-governador preso por corrupção entraram em um enredo cheio de baixarias na capital federal

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Letícia Casado Atualizado em 4 jun 2024, 11h24 - Publicado em 22 jul 2022, 06h00

A imagem acima selou um difícil e tumultuado acordo político para montar o palanque de Jair Bolsonaro no Distrito Federal. Do lado esquerdo, está o atual governador de Brasília, Ibaneis Rocha (MDB), exibindo um semblante de quem não está muito satisfeito. Colada nele, a ex-ministra Damares Alves (Republicanos) força um sorriso amigável. Do lado direito, aparecem a ex-ministra Flávia Arruda (PL) e seu marido, o ex-governador José Roberto Arruda (PL) — esses, sim, visivelmente alegres. A ideia era mostrar que os personagens, antes em conflito, haviam chegado a um entendimento. Sete dias antes da fotografia, o ex-governador ameaçou lançar sua candidatura ao Palácio do Buriti, o que punha em risco a certeira reeleição de Ibaneis. Damares, por sua vez, havia sido anunciada como candidata ao Senado na chapa do atual governador, escanteando Flávia Arruda, que postulava a indicação. Às vésperas das convenções partidárias, essa confusão poderia implodir a aliança bolsonarista em um colégio eleitoral que, embora pequeno, é amplamente favorável ao presidente da República.

PERDEU - Bolsonaro: a primeira-dama trabalhou por Damares Alves -
PERDEU – Bolsonaro: a primeira-dama trabalhou por Damares Alves – (Clauber Cleber Caetano/PR)

Os eleitores do Distrito Federal representam apenas 1,4% de todos os brasileiros aptos a comparecer às urnas em outubro. Por isso, em tese, Brasília não figuraria entre as prioridades da campanha de Bolsonaro. A disputa política na capital, no entanto, ganhou contornos de crise e ingredientes de escândalo ao envolver figuras do círculo mais íntimo do presidente da República num enredo cheio de intrigas e baixarias. O sorridente casal Arruda está no epicentro dessa confusão. Em 2010, José Roberto tornou-se o primeiro governador da história preso no exercício do cargo. Ele foi filmado recebendo propina e posteriormente condenado por corrupção no escândalo que ficou conhecido como mensalão do DEM. Há duas semanas, porém, em mais uma daquelas reviravoltas jurídicas que costumam beneficiar poderosos, recuperou os direitos políticos. Antevendo os planos de Arruda, Ibaneis lançou a candidatura à reeleição e expurgou Flávia Arruda de sua chapa, substituindo a ex-ministra por Damares Alves.

Do Planalto, veio a primeira “explicação” para a manobra. Segundo a versão de um aliado do presidente, Ibaneis, ao excluir Flávia da chapa e colocar Damares no lugar, estaria atendendo a um pedido da primeira-dama Michelle Bolsonaro. Amiga pessoal da ex-ministra da Mulher e evangélica como ela, Michelle teria sérias reservas em relação a Flávia Arruda — quase todas alimentadas por boatos maldosos sobre o comportamento dela. Verdadeiras ou não, essas maledicências, muitas de cunho pessoal, vinham sendo utilizadas fazia muito tempo como petardos contra a candidatura da ex-ministra da Secretaria de Governo. Mas rifá-la simplesmente era um risco muito grande. Durante os doze meses em que esteve no governo, Flávia foi responsável pela liberação de centenas de milhões de reais das famosas emendas parlamentares. Por causa desse trabalho e da posição privilegiada de seu gabinete, no 3º andar do palácio, a ex-ministra é guardiã de certos segredos, alguns bastante íntimos. Em tempos de eleição, não é interessante a nenhuma das partes envolvidas ter um adversário com esse manancial de informações.

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MAL NA IMAGEM - Arruda: o ex-governador foi filmado recebendo propina -
MAL NA IMAGEM - Arruda: o ex-governador foi filmado recebendo propina – (//Reprodução)

Ciente do perigo, Bolsonaro decidiu atuar pessoalmente para pacificar os ânimos. Na terça-feira 19, o presidente reuniu todos os envolvidos no Planalto. Antes, ele já havia se encontrado a sós com o próprio José Roberto Arruda à procura do entendimento. Pivô da crise, o ex-governador impôs uma condição para aceitar o armistício. Ele desistiria da candidatura ao governo de Brasília e toparia disputar uma vaga na Câmara dos Deputados desde que o posto de candidata ao Senado na chapa fosse devolvido a sua mulher. O presidente aceitou, Ibaneis aceitou e Damares foi convencida a aceitar. Eleito sob a promessa de endurecer o combate à corrupção, Bolsonaro deu mais uma demonstração de pragmatismo. Na busca por um novo mandato, ele agora conseguiu a proeza de reunir em torno de si não apenas um, mas dois notórios mensaleiros: Valdemar Costa Neto, presidente do seu partido, o PL, condenado por corrupção, e José Roberto Arruda, flagrado se regozijando com um maço de dinheiro sujo nas mãos. Ninguém ficou bem na foto.

Publicado em VEJA de 27 de julho de 2022, edição nº 2799

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