Dinheiro vivo e relação com socialite: as polêmicas de Bendine
Ele chegou a ser multado pela Receita Federal, em 2014, e teria facilitado um financiamento milionário para a socialite Val Marchiori adquirir um Porsche
Aldemir Bendine, preso nesta quinta-feira na 42ª fase da Operação Lava Jato, se envolveu em pelo menos três episódios controversos durante os seis anos em que chefiou o Banco do Brasil. O executivo, cujo codinome era “Cobra” nas planilhas de propina da Odebrecht, foi multado pela Receita Federal por não comprovar a origem de 280.000 reais e foi investigado por ter ordenado que seu motorista transportasse quantias suspeitas em dinheiro vivo. Além disso, Bendine teria facilitado um financiamento milionário para uma amiga, a socialite Val Marchiori, adquirir um Porsche Cayenne S.
A relação com a socialite se tornou alvo de investigação quando, em 2015, o jornal Folha de S.Paulo revelou que o Banco do Brasil havia emprestado 2,7 milhões de reais a Val, em uma linha de crédito subsidiada pelo BNDES com juros de 4% ao ano. Essa operação não era autorizada pelas regras internas do banco, já que a socialite tinha restrição de crédito por não ter pago um empréstimo anterior. Ela também não apresentava capacidade financeira para realizar a operação.
O financiamento era destinado a uma transportadora registrada em nome da socialite, a Torke Empreendimentos e Participacões. O Ministério Público Federal (MPF) acusou Val de fraude, em 2016, ao alegar que o objeto social da operação foi alterado após a socialite utilizar parte da verba para comprar um Porsche Cayenne S. A denúncia foi rejeitada pela Justiça Federal de São Paulo.
Ao prestar depoimento ao MPF, em 2015, o ex-vice-presidente do BB Allan Toledo afirmou que Bendine também deu carona para Val num jato reservado para o Banco do Brasil. Toledo disse que a viagem a Buenos Aires ocorreu em 2010 e tinha como objetivo a aquisição do Banco da Patagônia. Segundo o ex-vice-presidente do BB, Bendine e Val ficaram hospedados no mesmo hotel.
Dinheiro vivo
Em junho de 2014, um ex-motorista de Bendine contou ao MPF que fez diversos pagamentos em dinheiro vivo a mando do chefe. Sebastião Ferreira, conhecido como Ferreirinha, disse que presenciou Bendine saindo de um prédio nos Jardins, uma área nobre de São Paulo, com uma sacola repleta de notas de 100 reais — ele havia entrado no edifício com as mãos vazias. O dinheiro, segundo Ferreirinha, foi repassado para um amigo de Bendine, o empresário Marcos Fernandes Garms. O relato levou a uma investigação por lavagem de dinheiro contra o executivo.
Embora chefiasse o Banco do Brasil, Bendine nunca perdeu o costume de guardar dinheiro em espécie dentro de casa. Em agosto de 2014, ele foi autuado pela Receita Federal e pagou uma multa de 122.000 reais por não ter comprovado a procedência de aproximadamente 280.000 reais de sua declaração de Imposto de Renda. À época, a Receita informou que o crescimento dos bens de Bendine era incompatível com os rendimentos apresentados.
O Fisco passou monitorá-lo após Bendine ter comprado um apartamento de 150.000 reais, no interior de São Paulo, e feito o pagamento do imóvel com dinheiro vivo.