‘Desmoralização’: Marcos Pereira garantia que não ia abrir mão da disputa à Câmara
Dirigente do Republicanos apresentava uma série de argumentos para fazer crer que, dessa vez, não desistir da candidatura
Em outubro do ano passado, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP) tiveram uma conversa franca. A dupla tratou sobre a sucessão no comando da Casa e rememorou um acordo firmado em 2020, quando o mandachuva do Republicanos desistiu de sua candidatura à Presidência para apoiar o líder alagoano. Na ocasião, ficou pactuado que, em contrapartida, Pereira seria avalizado por Lira para substitui-lo ao fim do mandato.
Ao rememorarem a dobradinha, Lira disse que Marcos Pereira teria de se viabilizar com os demais líderes, muitos já com suas preferências definidas. “Eu vou ser honesto e digo que, em termos de preferência, se você não fosse candidato e não fosse presidente do partido, o meu candidato seria o Hugo Motta”, afirmou Lira na ocasião, destacando que Motta, líder do Republicanos na Câmara, jamais se voltaria contra o dirigente de sua legenda. Pereira, então, rebateu dizendo que seria ele o candidato.
O diálogo era relatado por aliados do cacique do Republicanos para rebater as especulações, já antigas, de que Hugo Motta seria o nome indicado por Lira na disputa ao comando da Câmara. Isso porque, na ocasião, teria ficado demonstrado que, apesar das investidas, Pereira não cederia ao seu aliado – nem Motta trairia o seu “chefe”.
Em conversa com um outro parlamentar, Pereira também ouviu exaltações a Hugo Motta e concordou com os elogios, mas ponderou que “nunca” iria abrir espaço para o deputado paraibano.
O raciocínio era o de que o gesto representaria uma “desmoralização” para um presidente partidário e inclusive geraria cizânia na bancada, com outros deputados do partido sendo preteridos na escolha. Em recompensa, se fosse eleito, Pereira entregaria o comando do Republicanos a Hugo Motta, hoje vice-presidente da legenda.
Na última terça-feira, 3, Marcos Pereira contrariou a posição que há meses defendia e desistiu de concorrer à Presidência, abrindo espaço a Hugo Motta. Em nota, ele afirmou que ouviu o apelo de várias lideranças para que, em prol do Brasil, “buscasse uma solução consensual que unifique a Câmara”. “Decidi colocar ao presidente Arthur Lira a opção do líder Hugo Motta, para que ele seja o nome de consenso entre todas as alas políticas do plenário”, afirmou.
Pereira também apontou para uma queda de braço com Gilberto Kassab, presidente do PSD, para justificar a sua guinada. Kassab, disse, se recusou a indicar a retirada da candidatura de Antônio Brito (PSD-BA) para apoiá-lo, o que inviabilizou a chegada de um acordo com os demais partidos.
Motta, segundo essa avaliação, teria mais condições de atingir um consenso ou sair vitorioso num confronto com os demais postulantes. Apesar da mudança, Lira ainda não oficializou o nome que vai apoiar para a sua sucessão. Além de Antônio Brito e, agora, Hugo Motta, pleiteiam a cadeira os deputados Elmar Nascimento (União-BA) e Isnaldo Bulhões (MDB-AL).
Vaga no TCU
Nos corredores do Congresso, fala-se que em retribuição à desistência, Marcos Pereira – ou um indicado dele – pode ser beneficiado com uma cadeira de ministro no Tribunal de Contas da União (TCU).
Antes, ele também negava aceitar qualquer contrapartida externa, dizendo que a sua carreira parlamentar estava em ascendência. Mas, como se vê, tudo pode mudar em Brasília.