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Relato de Cid sobre suposta reunião golpista é ‘fantasia’, diz Heleno

General afirmou à CPMI que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro 'não participava de reuniões' com comandantes, mas foi desmentido por fotografia oficial

Por Da Redação
Atualizado em 26 set 2023, 19h33 - Publicado em 26 set 2023, 09h24

A CPMI do 8 de Janeiro recebeu nesta terça-feira, 26, o general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Bolsonaro. O militar poderia ficar em silêncio diante de perguntas que possam incriminá-lo, mas decidiu responder aos questionamentos.

Perguntado sobre trecho da delação premiada de Mauro Cid sobre a suposta reunião entre Jair Bolsonaro e os então chefes das Forças Armadas na qual teria sido discutido uma possibilidade de golpe e se teve conhecimento da reunião, Heleno negou e chamou o relato de Cid de ‘fantasia’ e que o ‘ajudante de ordens ele cumpre ordens do presidente’ e ‘missões que o presidente atribui ao ajudante nas mais diferentes naturezas’.

“O tenente-coronel Mauro Cid não participava de reuniões. Ele era o ajudante de ordens do presidente. Não existe essa figura do ajudante de ordens sentar numa reunião dos comandantes de Força e participar da reunião. Isso é fantasia. A mesma coisa essa delação premiada do Mauro Cid… estão apresentando trechos e me estranha porque a delação está sigilosa e ninguém sabe o que o Cid falou”, disse.

Possível contradição

Posteriormente, o deputado Rogério Correia (PT-MG) mostrou uma imagem oficial (veja abaixo) com a presença de Mauro Cid, general Heleno, o ex-presidente Jair Bolsonaro e chefes das Forças Armadas em uma reunião de 2019 e indica possível contradição do militar. “O senhor mentiu”, questiona o parlamentar.

“De jeito nenhum”, respondeu Heleno. “Eu era convocado. Quando o presidente precisava de um órgão de inteligência participar da reunião, ele me convocava e eu comparecia à reunião”, continuou.

O deputado, então, acusou o depoente de “mentir” e “falar com a verdade” para “proteger Jair Bolsonaro”. “o general quis dizer em sua frase que Mauro Cid não tinha conhecimento de nada, que era apenas um ajudante de ordem. Você pode dizer que literalmente ele não está à mesa, está logo atrás, mas ele ouvia tudo e as delações dele servem como testemunha”, acrescentou Correia.

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Heleno rebateu, mas não explicou a contradição: “O senhor está dizendo que eu falei com a verdade. E quem está faltando com a verdade é o senhor. Está ali na foto.”a

A discussão continuou e o parlamentar afirmou que “não adianta tentar tirar imagem como se ele [Cid] não participasse das reuniões e não soubesse o que estava acontecendo.”

“A imagem fala por mil palavras. Olha a posição [de Cid na foto]”, afirmou Heleno. “E o senhor acha que ele não está escutando?”, questionou de volta Correia. “ele não é surdo, é lógico que ele está escutando”, reagiu o general ironicamente.

“O Mauro Cid tem dois ouvidos e ali [a foto oficial] prova que ele tem dois ouvidos. Vocês não vão conseguir calar a boca daquele que ouviu”, disse o deputado. “Ali está claro, ele estava a um metro do senhor. Ele deve ter ouvido a reunião toda. E são estas reuniões que ele relata e faz a delação”, conclui Correia.

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Reunião entre Bolsonaro, o então ministro da Defesa, Fernando Azevedo, e os então comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica, além do então ministro do GSI, Augusto Heleno e o ex-ajudante de ordens Mauro Cid (à direita, ao fundo) -
Imagem oficial desmente parte de depoimento de Augusto Heleno e mostra presença de Mauro Cid em reunião de Bolsonaro com chefes das Forças Armadas – 22/02/2019 (Marcos Corrêa/PR/Divulgação)

Defesa inicial

Antes, em sua fala inicial, o general disse que “jamais” se valeu de “reuniões, palestras ou conversas para tratar de assuntos eleitorais ou políticos partidários com meus subordinados no GSI” e que ele era “o único ser político do GSI”.

O militar também disse que deixou de ser ministro dia 31 de dezembro de 2022 e que depois disso não fez mais contato com servidores do GSI ou da Presidência da República. “Não tenho condição de prestar esclarecimentos sobre os atos ocorridos no dia 8 de janeiro”, salientou.

O ex-ministro também contrariou o General Dias, que assumiu o cargo no GSI após sua saída e posteriormente deixou a posição, e disse que “ouve, sim, transição” e que “foi muito bem realizada por meio do secretário-executivo e do secretario-executivo adjunto”.

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“As portas do GSI foram abertas com total transparência e o então ministro teve a liberdade de conversar quem ele quisesse, de estabelecer quem ele queria manter no GSI, quem ele queria trocar. Teve a absoluta liberdade de fazer todas as trocas que julgasse necessário”, ressaltou.

O general também se defendeu sobre um suposto “dna bolsonarista” no ministério. “Nem eu e muito menos o GSI fomos mentores ou participamos desses atos lamentáveis”, disse, sobre os ataques em Brasília. O depoente também comentou a respeito dos acampamentos em frente ao quartel-general do Exército na capital federal.

Segundo ele, tais acampamentos eram “acompanhados pelo Ministério da Defesa por meio dos comandos das Forças” e “não eram de responsabilidade do GSI”. “Jamais estive no acampamento que foi realizado em frente ao QG de Brasília. Nunca fui ao acampamento. Não por falta de tempo, mas por falta de condições de participar no que realizavam no acampamento… pelo o que se sabia eram atividades pacíficas e ordeiras. Eu nunca considerei o acampamento algo que interessasse à segurança institucional. Sempre achei que era uma manifestação política, pacífica e que não poderia ser tratada dessa maneira”, salientou Heleno.

Habeas Corpus

A defesa de Heleno havia pedido para ele ser dispensado de comparecer, alegando que o general foi convocado a depor como testemunha, mas é alvo de acusações nos requerimentos de convocação e, portanto, deveria ser tratado como investigado.

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O ministro do STF Cristiano Zanin, contudo, acolheu parte da solicitação dos advogados do ex-auxiliar de Bolsonaro e determinou que ele falará como testemunha com direito ao silêncio, mas que deve ir à comissão.

Requerimentos

A relatora da comissão, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), apontou em seu requerimento de convocação (REQ 839/2023) que o general “trará informações de enorme valia para a condução dos nossos futuros trabalhos na presente comissão”.

A senadora Ana Paula Lobato (PSB-MA), autora de um dos requerimentos de convocação (REQ 272/2023), argumenta que o depoimento do ex-ministro de Segurança Institucional, “é imperioso e imprescindível para o desenrolar da fase instrutória e, obviamente, para futuro deslinde das investigações”. Para a senadora, é “necessário que o depoente esclareça, entre outras coisas, seu envolvimento direto ou indireto em fatos que possuam nexo de causalidade na tentativa de golpe ocorrida em 08 de janeiro de 2023”.

Os deputados Rubens Pereira Júnior (PT-MA) e Rogério Correia (PT-MG) também apresentaram um requerimento de convocação do ex-ministro do GSI (REQ 223/2023). Eles citam uma apuração pela Agência Pública, na qual “foi revelado que, entre os dias 1º de novembro e 31 de dezembro de 2022, o GSI, então chefiado pelo general Augusto Heleno, recebeu várias pessoas envolvidas com os atos, incluindo ‘um dos golpistas presos em flagrante após a invasão às sedes dos Três Poderes’”.

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Os senadores Izalci Lucas (PSDB-DF), Eduardo Girão (Novo-CE) e Fabiano Contarato (PT-ES), e os deputados Rafael Brito (MDB-AL), Carlos Sampaio (PSDB-SP), Duarte Jr. (PSB-MA), Duda Salabert (PDT-MG), Erika Hilton (Psol-SP) e Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ) também apresentaram requerimentos para a convocação do general.

(Com Agência Senado)

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