Debate sobre a meta de inflação não é tabu no governo
Em conversa com jornalistas, presidente Lula chegou a aventar a possibilidade de mudar o regime atual, mas em seguida sua assessoria negou tal possibilidade
Em sua campanha pela redução da taxa básica de juros definida pelo Banco Central, Lula deu a entender numa conversa com jornalistas, no início de abril, que o governo poderia mudar a meta de inflação a fim de facilitar a queda da chamada Selic, hoje fixada em 13,75% ao ano. A manifestação do presidente foi uma reação ao comandante do BC, Roberto Campos Neto, que havia declarado que os juros deveriam ser ainda maiores para que a meta de inflação para 2023, de 3,25%, fosse cumprida.
“Se a meta está errada, muda-se a meta. O que não é compreensível é imaginar que um empresário vai tomar dinheiro emprestado a essa taxa de juros”, afirmou Lula. Diante da repercussão da fala, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência informou logo em seguida que o governo não estava debatendo o assunto. De fato, não estava, mas a questão da meta da inflação não é um tabu na gestão petista, como deixou claro o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista a VEJA, cuja íntegra está disponível no site da revista.
Haddad contou ter conversado a respeito do assunto com Gita Gopinath, economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), e comentado que aparentemente apenas Brasil e Turquia adotam o chamado “ano-calendário” para fixar a meta de inflação. Esse ponto específico, segundo o ministro, pode ser alvo de uma reflexão, de debate, de estudo. Qualquer decisão futura a respeito do tema tem de passar pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), do qual fazem parte o presidente do BC e os ministros da Fazenda e do Planejamento (Simone Tebet).
“Nem falei com a Simone nem com o Roberto ainda, mas eu tenho hoje a percepção de que essa especificidade do nosso regime de metas não faz muito sentido. Agora, precisa ver a partir de quando, se…”, declarou Haddad. “Nós devemos abrir um pouco os espíritos para pensar, a impressão que dá é que é proibido pensar no Brasil. Não, eu quero estudar o assunto, quero ouvir as pessoas”, acrescentou.