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Cunha orientou deputado a ‘emparedar’ Paulo Preto em CPI, diz PF

Documento da Polícia Federal indica articulação do ex-parlamentar com interlocutor para fazer perguntas na CPMI do Cachoeira, em 2012

Por Estadão Conteúdo Atualizado em 14 Maio 2018, 21h52 - Publicado em 14 Maio 2018, 20h19

Um relatório da Polícia Federal (PF) anexado em abril à Operação Lava Jato, no Paraná, afirma que o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ) articulou para “emparedar” o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, durante a CPMI do Cachoeira, em 2012.

Em 29 de agosto daquele ano, Paulo Preto, apontado como operador do PSDB, prestou depoimento aos parlamentares para explicar suspeitas de superfaturamento na obra de ampliação da Marginal Tietê, parte dela sob responsabilidade da Delta, construtora que a Polícia Federal incluiu no esquema do contraventor Carlinhos Cachoeira.

O documento da PF é de 2016, mas foi juntado aos autos da Lava Jato no Paraná no mês passado. Dois dias antes do depoimento, Eduardo Cunha recebeu um e-mail com vinte perguntas para Paulo Preto. A mensagem, segundo a PF, foi enviada por um interlocutor identificado como Hugo Fernandes Neto, que seria ligado ao MDB e à campanha de 2012.

Os questionamentos alcançavam parlamentares tucanos, a filha do ex-diretor da Dersa e o trabalho do executivo na estatal paulista. Na lista estava ainda uma pergunta sobre a prisão de Paulo Preto em 2010 na ocasião, ele foi detido em flagrante ao negociar uma joia em loja de luxo de um shopping na capital paulista.

As mensagens constam do celular de Eduardo Cunha apreendido na Operação Catilinárias, em dezembro de 2015. Por ordem do juiz federal Sergio Moro, a pedido da defesa do ex-deputado, o aparelho vai passar por uma nova perícia.

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O emedebista está preso desde outubro de 2015. Ele foi condenado, em primeira instância, pela Lava Jato a catorze anos e seis meses de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

No dia do depoimento do ex-diretor da Dersa, Eduardo Cunha foi avisado em mensagem enviada pelo então deputado Leonardo Picciani (MDB-RJ) que o então presidente em exercício da CPMI, Paulo Teixeira (PT), havia mudado a ordem dos depoimentos.

“Colocou o Paulo Preto depondo primeiro”, relatou Picciani, às 13h. “Tô aqui na CPI.” Cunha não gostou. “Pqp cagada. Não pode isso é sacanagem. Isso pode atrapalhar a gente. Cadê o Vital. É o Vital quem tem de determinar a pauta, ela é exclusiva do presidente e não do presidente em exercício, o ato é dele. Prerrogativa dele não pode ser mudada até porque se o cara não vai falar é melhor resolver logo.”

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O então deputado Eduardo Cunha se referia ao senador Vital do Rêgo (MDB-PB), presidente da CPMI. Paulo Teixeira era o vice-presidente da comissão.

Segundo o relatório da PF, durante a conversa, Eduardo Cunha enviou mensagem a um usuário identificado como “Novo”, “orientando a não aceitar as alterações de ordem feitas por Paulo Teixeira”. “Não aceita a decisão que foi tomada pelo Paulo Teixeira de mudar a ordem divulgada e pôr Paulo Preto primeiro”, ordenou Cunha, às 13h11. “Ok”, respondeu o deputado “Novo”.

“Se mudar, faz questão de ordem que a agenda divulgada era primeira Fernando (Cavendish) e depois Paulo Preto”, afirmou Cunha. “O Preto vai falar?”, perguntou “Novo”. “Vai”, informou Cunha.

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Às 14h38, Cunha, então, passa a orientar “Novo” a pressionar o operador do PSDB. “Faz as perguntas do Adir Assad e do caso Gucci. Da filha dele advogada. E do voo do Datena e Serra para obras do Rodoanel de helicóptero se ele estava no voo”, manda.

As perguntas de Eduardo Cunha eram as mesmas que ele havia recebido por e-mail. Adir Assad é um dos operadores financeiros presos e condenados pela Lava Jato. “Novo” responde: “Ok, mas minha inscrição é uma das últimas.” “Sem probs. Só essa 4 será uma cagada”, afirma Eduardo Cunha.

Prisão

Paulo Vieira de Souza foi preso em 6 de abril deste ano por determinação da 5ª Vara Criminal Federal do Estado de São Paulo. Na sexta-feira (11), o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu a prisão do ex-diretor da Dersa. Ele estava encarcerado na Penitenciária de Tremembé, cidade do interior de São Paulo.

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