Congresso fala grosso, mas é cúmplice na sangria dos gastos
Parlamentares não abrem mão de emendas, prorrogam incentivos e deixam em banho-maria a reforma administrativa e a questão dos supersalários
O Congresso faz jogo de cena ao cobrar empenho do governo Lula para cortar despesas. A tradição de deputados e senadores é criar e prorrogar medidas que oneram as contas públicas, muitas vezes sem aprovar uma compensação financeira, como exige a legislação.
Parlamentares não aceitam, por exemplo, abrir mão de um centavo de suas emendas, que atingiram a astronômica casa de 50 bilhões de reais no Orçamento deste ano. Não importa se elas são aplicadas sem transparência, sem levar em consideração as carências da população ou sem perseguir a eficiência no gasto público.
Cortar na própria carne está fora de cogitação. E qualquer tentativa de aperfeiçoar as regras sobre emendas vira logo motivo de insatisfação e rebelião no Legislativo. O próprio presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), admitiu essa situação ao participar de um evento com empresários.
“O que estamos tratando é que a situação do país é grave e é preciso ter responsabilidade. Ninguém quer abrir mão de nada, quem está ganhando acima do teto quer continuar ganhando. O parlamentar não quer corte de emenda. O governo não quer discutir determinado assunto porque desagrada a sua base. Tem que tratar as coisas com responsabilidade”, afirmou Motta.
Torneira aberta
O Congresso tem poder de sobra para mostrar responsabilidade nessa área, mas prefere falar grosso a analisar projetos estruturantes. Quando ainda era presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), declarou que tentaria tirar do papel a reforma administrativa, considerada fundamental para conter a expansão da dívida pública. Não conseguiu.
Quando era presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), discursou em defesa do projeto que limita os supersalários — não apenas para moralizar o teto salarial do funcionalismo, mas como forma de tentar compensar um outro texto, que chancelava o pagamento de um famoso penduricalho, o quinquênio, no Poder Judiciário.
No caso dos incentivos fiscais, os parlamentares quase sempre mostram empenho para defendê-los. Foi assim na regulamentação da reforma tributária, repleta de benefícios para setores com lobby poderoso. Foi assim também com um programa destinado a apoiar o setor de eventos, gravemente atingido pela pandemia de Covid-19. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tentou acabar com a iniciativa, mas, por falta de votos, foi obrigado a estendê-lo até 2026.
Dentro e fora do governo, Haddad tenta praticamente sozinho fazer o ajuste fiscal. Ele até propôs internamente ações ambiciosas de contenção de despesas, mas o presidente Lula, ministros poderosos e dirigentes petistas preferem rezar na cartilha do “gasto é vida”.
Todos preferem evitar o desgaste de iniciativas impopulares, mas necessárias para a saúde da economia brasileira. Todos, incluindo os líderes de partido que agora discursam em defesa de cortes. A diferença do Congresso para o governo Lula é que o Congresso não aceita mais o aumento da carga tributária.
“Quando o rombo explode, cobre-se o buraco com mais impostos dos brasileiros. O tempo da irresponsabilidade fiscal acabou”, escreveu numa rede social o senador Ciro Nogueira, ex-chefe da Casa Civil no governo de Jair Bolsonaro. É tempo de acabar também com o jogo de cena.
Haddad faz aceno a Motta e Alcolumbre e manda recado
Bolsonaro e aliados presos: o que está previsto para esta quarta
Processo de Zambelli será destravado na CCJ na próxima semana
Brasil lança plano para cortar emissões da indústria na COP30
Salão do Automóvel muda de cara e dono: mais tecnológico e asiático







