Com indefinição de Lula, Aras não desistiu de ser escolhido PGR
Presidente se recupera de procedimentos cirúrgicos e não tem data para anunciar nome do chefe do Ministério Público da União

Com a indefinição do presidente Lula em relação ao comando da Procuradoria-geral da República, Augusto Aras, que esteve na chefia do Ministério Público da União por quatro anos, ainda alimenta esperanças de que padrinhos políticos – ou a simples falta de um nome em quem o petista possa confiar – façam com que ele seja escolhido PGR. As chances são remotíssimas, mas interlocutores têm afirmado que sua criticada inapetência por investigar o ex-presidente Jair Bolsonaro em episódios na pandemia e desdenhar dos arroubos golpistas do capitão podem ser um trunfo se interpretadas como a convicção de Aras de que o chefe do MP não pode ser um ator a contribuir para instabilidades políticas.
A avaliação, extremamente contemporizadora, busca diferenciá-lo do ex-PGR de Rodrigo Janot, que, indicado para dois mandatos por Dilma Rousseff, alvejou em alguma medida todos os ex-presidentes da República – Fernando Collor foi denunciado, José Sarney alvo de um pedido de prisão, Dilma investigada por corrupção, Temer denunciado no exercício do mandato e Lula preso em Curitiba e denunciado por organização criminosa em Brasília.
Se não conseguir chegar lá, Aras vê no subprocurador-geral Paulo Gonet, nome apoiado pelos ministros do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, o candidato ideal. Conservador, Gonet foi braço direito de Aras no Tribunal Superior Eleitoral. Também são cogitados ao posto, entre outros, Antonio Carlos Bigonha, Aurélio Rios e Carlos Frederico Santos.
O Ministério Público, disse Lula em uma entrevista, “era uma das instituições que eu idolatrava nesse país”, mas as investigações de Curitiba e os 580 dias preso por corrupção o fizeram dar uma guinada nos métodos de indicação do PGR. Ele abandonou a disposição de apontar um nome entre os integrantes da lista tríplice formada pela associação de classe dos procuradores, como havia feito nos dois mandatos anteriores, e mantém vivo, mais do que qualquer outro critério, o espólio da Lava-Jato. “Lula não pode retratar o Ministério Público por um detalhe, um detalhe mesmo, que foi a Lava-Jato, que descumpriu a função do que se espera da instituição”, disse a VEJA o ex-PGR Claudio Fonteles.
O presidente, recolhido para a recuperação de dois procedimentos cirúrgicos, não tem prazo para anunciar o novo procurador-geral. O antilavajatismo pode ajudar. A baixa belicosidade da gestão de Augusto Aras também.