Com aval de Lula, PT assume risco e adia escolha de vice
Presidente do partido, Gleisi Hoffmann, diz que histórico de decisões do TSE não prevê que vice deve ser indicado 24 horas após convenção
Depois de se reunir com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso pela Operação Lava Jato, em Curitiba, a senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, anunciou nesta sexta-feira, 3, que a sigla deixará para a Executiva do partido decidir até dia 14 a definição do nome do vice na chapa que vai disputar a Presidência da República. Segundo advogados do PT, a decisão representa um risco à candidatura do partido nas eleições 2018.
“Não houve nenhuma mudança jurisprudencial na Justiça Eleitoral”, justificou a senadora, sobre uma possível modificação de entendimento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), determinando que o nome de vice seja homologado 24h após as convenções partidárias.
O PT deve oficializar neste sábado o nome de Lula como candidato do partido à Presidência da República. O ex-presidente, condenado a 12 anos e um mês de prisão pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), pode ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa.
O ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão, advogado do PT junto ao TSE, disse que a decisão comunicada por Gleisi é de risco. “Acho que é uma atitude de risco. A gente nunca sabe como o tribunal vai decidir. Mas existem razões políticas (para a decisão do PT) que devem ser levadas em conta”, disse ele.
Advogados eleitorais ouvidos pela reportagem dizem que, em eleições passadas, a Justiça Eleitoral autorizava as convenções partidárias a delegar a escolha do vice. “Sempre foi autorizado delegar até a data do registro (15 de agosto)”, disse o especialista em direito eleitoral Helio Silveira.
A posição de Gleisi depois da reunião com Lula surpreendeu o PT, que, desde quinta-feira, se apressou para tentar definir o nome do vice até o Encontro Nacional do partido, com poderes de convenção, marcado para este sábado, 4, em São Paulo.
A estratégia inicial do PT era escolher o vice até o dia 15, quando acaba o prazo para registro das candidaturas. Na quinta, os advogados do partido mudaram de opinião e orientaram a direção a antecipar a escolha para este sábado. No início desta sexta-feira, Gleisi, o ex-prefeito Fernando Haddad, o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh e o tesoureiro do PT, Emídio de Souza, embarcaram rumo a Curitiba para anunciar a mudança de planos e definir a nova estratégia com Lula.
Dirigentes petistas, no entanto, já diziam temer pela reação do ex-presidente. Segundo lideranças do PT, Lula determinou que o partido retomasse a estratégia oficial. Nesta sexta-feira, Gleisi Hoffmann ouviu outros advogados e, depois de conversar com o ex-presidente, decidiu voltar à estratégia original, apesar do risco.
Manuela como vice
As reviravoltas provocaram tumulto no PT e em partidos aliados, com o PCdoB, que pode ficar com a vaga de vice. Gleisi chegou a marcar uma reunião com a presidente do PCdoB, Luciana Santos, para decidir se Manuela d’Avila seria a escolhida.
Segundo fontes do PCdoB, a direção petista sugeriu que Manuela retirasse a candidatura e ficasse no “banco de reservas” até a situação de Lula ser definida pela Justiça Eleitoral.
Ainda de acordo com as fontes do PCdoB, a estratégia petista era indicar provisoriamente um vice do próprio PT, possivelmente Fernando Haddad, visto como possível substituto de Lula, e a chapa “real”, com Manuela de vice, só seria anunciada quando esgotarem as possibilidades do ex-presidente na Justiça. O PCdoB considerou a proposta “constrangedora” e recusou.