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Colocado em xeque após as redes sociais, horário eleitoral mostra força

Propaganda no rádio e na TV alavanca candidatos em capitais com disputas acirradas

Por Valmar Hupsel Filho, Ramiro Brites Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 20 set 2024, 12h53 - Publicado em 20 set 2024, 06h00

Quando Jair Bolsonaro chegou ao segundo turno de 2018 com apenas oito segundos no horário eleitoral e apoiado no Facebook e Whats­App, deixando para trás candidatos com tempos muitos maiores de exposição, espalhou-se a impressão de que aquele pleito decretara o fim da era da propaganda em rádio e TV. Passados alguns anos, é possível dizer que a previsão sobre a morte do horário eleitoral foi um tanto quanto exagerada. Ele está vivo ainda e é arma importante nas campanhas, como mostra a atual corrida nas eleições municipais. Três semanas após o início das inserções, em 30 de agosto, candidatos com os maiores tempos de grade nas capitais deram saltos significativos nas pesquisas de intenção de votos.

Um bom exemplo é o de Curitiba, onde havia um empate quádruplo até Eduardo Pimentel (PSD), dono de metade do tempo no rádio e na TV, subir 17 pontos e tornar-se o líder isolado da disputa (veja o quadro). Fenômeno parecido ocorreu com o prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), que diminuiu a distância para o líder Mauro Tramonte (Republicanos) de 21 pontos para 7. Em São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que concorre a mais um mandato, ganhou terreno valioso nas pesquisas após o início da exposição na TV, onde tem 65% de todo o espaço. Situação semelhante viveu o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), que saiu do empate técnico com Maria do Rosário (PT) para uma vantagem de 17 pontos.

ALTA - Noman, em estúdio: prefeito de Belo Horizonte dobrou intenções de voto
ALTA - Noman, em estúdio: prefeito de Belo Horizonte dobrou intenções de voto (Junia Garrido/.)

Embora cada eleição tenha sua peculiaridade, há explicações comuns para o fenômeno. Uma delas é que o espaço foi usado por prefeitos que estão no cargo, têm boas avaliações e apostaram em mostrar ao eleitor as realizações de seu mandato e os projetos em andamento — são os casos de Nunes, Melo e Noman. Outra explicação é que muitos candidatos puderam mostrar ao eleitor que estão conectados com governantes populares. Foi o que ocorreu com Pimentel, que mostrou já nos primeiros programas que é o vice do prefeito Rafael Greca (PSD) e foi secretário do governador Ratinho Junior (PSD), ambos com mais de 70% de aprovação de suas gestões. “A maioria da população não sabia quem era o candidato de Ratinho e Greca”, diz João Debiasi, chefe de comunicação da campanha. Também foi o que fez Evandro Leitão (PT), candidato em Fortaleza apoiado pelo governador, Elmano de Freitas, pelo ministro Camilo Santana e pelo presidente Lula — todos petistas — e com mais da metade da grade, sair do quarto lugar para um empate técnico na ponta. Em São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas passou a ser figura constante no espaço de Nunes.

Há outras formas de a campanha no rádio e na TV impactar a disputa. Um efeito importante é despertar na população a constatação de que há uma eleição acontecendo. À medida que se deparam com as propagandas, os eleitores vão tomando consciência de quem são os candidatos e de que precisam decidir quem vão escolher na votação, a cada dia mais próxima — por isso, é comum diminuir a taxa de indecisos. Outra consequência é que ele geralmente dá rumo a uma candidatura. “É a espinha dorsal de uma campanha. Serve para passar o conceito ao eleitor, que é replicado por outras ferramentas com a devida adaptação de linguagem”, diz Sidônio Palmeira, marqueteiro da campanha vitoriosa de Lula em 2022.

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A sobrevivência política do rádio e da TV não significa que as redes sociais tenham flopado. Elas são cada vez mais importantes e, apesar das restrições impostas pela legislação (como o cerco aos disparos em massa), ainda geram fenômenos eleitorais, como o coach Pablo Marçal, em São Paulo. Diferentes, esses veículos irão coexistir por algum tempo. O eleitor de televisão é mais velho, mais frequente nas classes C e D, interage com o veículo de forma mais passiva e relaxada — por isso, é menos propenso a se interessar por brigas, linguagem de conflito ou violência. O rádio, que continua sendo um importante veículo de massa, é consumido geralmente quando o usuário está fazendo outra coisa, na academia ou no trânsito, por exemplo, e tem linguagem diferente daquela da televisão, em alguns casos claramente inspirada nas redes sociais, com mensagens curtas, repetitivas e de impacto, para fixar a mensagem na cabeça do eleitor. Já a rede social tem interação mais proativa, que depende da ação do usuário e, por isso, é mais aberta à linguagem agressiva. Marqueteiro de Fuad Noman, Paulo Vasconcelos diz ser um erro tentar replicar na televisão a linguagem incisiva da internet. “O eleitor de TV não quer conflito, quer ver propostas, conhecer o candidato. Não é a janela para isso”, entende.

Embora a avaliação geral seja a de que o eleitor é mais impactado pelas inserções durante o dia, porque o pega de surpresa, do que no espaço que interrompe a programação normal, a entrada dos políticos nas telas não tem reduzido a audiência — embora não seja possível mensurar se o eleitor deixou o aparelho ligado e direcionou sua atenção a outra coisa, como o celular. Pesquisas internas que balizam candidaturas na eleição paulistana apontam que o horário político alcançou 900 000 pessoas simultaneamente em cinco emissoras abertas na cidade na noite de segunda 16. O certo é que do “porta a porta” com eleitores aos cortes impulsionados nas plataformas digitais, passando por TV e rádio, nada se descarta quando o objetivo é ganhar as eleições. “Ainda vou continuar entregando panfletinhos impressos por muito tempo”, brinca Rodrigo Mendes, marqueteiro de Mauro Tramonte.

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arte horário eleitoral

Criado na ditadura, em 1965, o horário eleitoral sobrevive, apesar de nunca ter sido uma paixão nacional — pelo contrário, é fácil encontrar quem defenda o seu fim. Os Estados Unidos, por exemplo, não têm esse modelo — o candidato tem de comprar anúncios, como um cliente qualquer. Na Grã-­Bretanha e na França, ele existe e tem o seu tempo dividido igualmente entre os candidatos — no Brasil, a distribuição é feita de acordo com a representação no Congresso. Embora seja chamado de “horário eleitoral gratuito”, ele custa ao cidadão: a Receita Federal estima que irá abrir mão de 600 milhões de reais este ano em renúncia fiscal como compensação às emissoras pelo espaço. Com custo tão alto, é bom que seja usado ao menos para ajudar o país a discutir seus problemas com seriedade. Não dá para desperdiçar um horário nobre com uma programação de qualidade duvidosa.

Publicado em VEJA de 20 de setembro de 2024, edição nº 2911

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