Chefe da Aeronáutica nega influência de Lula em compra de caças
O ex-presidente e o filho Luís Cláudio Lula da Silva são acusados de integrar esquema de tráfico de influência para viabilizar a compra das aeronaves
O comandante da Aeronáutica, Nivaldo Rossato, disse nesta terça-feira não ter conhecimento de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) influenciou o governo de Dilma Roussef (PT) para comprar 36 caças suecos em 2015. Em depoimento à Justiça Federal, em Brasília, Rossato declarou que a escolha do modelo Gripen, fabricado pela multinacional Saab, se deu por critérios técnicos.
O comandante afirmou que o projeto de compra dos caças começou em 1995, ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e só se concretizou com a assinatura do contrato, no governo Dilma. A indicação de três modelos ao Palácio do Planalto – um francês e um americano, além do sueco – foi da Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (Copac), de profissionais da Força Aérea Brasileira (FAB).
O processo foi entregue em 2010, no fim do governo Lula, ao Planalto, com a informação de que os três aviões atendiam às necessidades da Aeronáutica. O anúncio da escolha dos Gripen foi da ex-presidente Dilma. Questionado sobre eventual influência de Lula, Rossato afirmou: “Desconheço. Sei que a presidente Dilma apresentou em 2013 a decisão dela.”
Rossato disse que os três modelos eram vantajosos, mas os Gripen se destacavam pela possibilidade de maior transferência de tecnologia, pelo preço mais baixo e por a Suécia ser um país neutro, sem alinhamento com uma organização militar, como a Otan. Atualmente, o projeto dos Gripen está orçado em 4,7 bilhões de dólares (14,64 bilhões de reais). “Era um processo que se desenrolava normalmente, extremamente técnico. Eles (a Copac) são especializados e fizeram todos os estudos.”
Ele depôs como testemunha de defesa do ex-presidente Lula e do filho do ex-presidente, Luís Cláudio Lula da Silva, em ação penal em que são acusados de integrar esquema de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa para viabilizar a compra dos Gripen e a edição de medida provisória que favoreceu montadoras de veículos com incentivos fiscais. Além de Lula e do filho, respondem à ação penal lobistas que atuavam para a Saab. O jornal O Estado de S. Paulo revelou em 2015 que esses lobistas pagaram 2,5 milhões de reais a uma empresa de Luís Cláudio.
Antecessor corrobora versão
O antecessor de Rossato no cargo, Juniti Saito, também depôs como testemunha de Lula e do filho e reforçou que a indicação do Gripen foi técnica. Ele afirmou acreditar que o ex-presidente tinha preferência pelo modelo francês, o Rafale. “Ele (Lula) respeitava a opinião nossa. Ele perdeu e deixou a decisão para a presidente Dilma”, declarou Saito. Ele afirmou que, após deixar a Presidência, Lula não participou mais do processo.
O ex-comandante da Aeronáutica afirmou que o Gripen era o mais barato e aquele que tinha o melhor custo de manutenção. “O Gripen estava na faixa de sete mil dólares a hora de voo”, disse Saito, acrescentando que, no caso dos demais, o custo superava os dez mil. Ele declarou que a Aeronáutica sempre preferiu o Gripen e que, em 2012, desconfiou que Dilma escolheria o modelo americano como estratégia de se aproximar comercialmente dos Estados Unidos. Porém, após as denúncias de espionagem do governo americano contra a petista, as chances de a parceria vingar minguaram.
Outro lado
O advogado de Lula, José Roberto Batochio, afirmou que os depoimentos derrubam a tese da acusação de que houve tráfico de influência na compra. As oitivas confirmaram, segundo ele, que “a opção pelo Gripen foi de uma comissão da FAB”. Ele disse que a alegação de que houve interferência do ex-presidente no negócio é uma criação “cerebrina” do Ministério Público Federal (MPF), que gravita na esfera da “imaginação”.
Luis Cláudio, segundo a defesa, recebeu os R$ 2,5 milhões por serviços efetivamente prestados. “Tais valores foram destinados a patrocinar o campeonato de futebol americano que era organizado por Luis Claudio no País”, sustentam os advogados.
(Com Estadão Conteúdo)