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Caso Marielle: investigações apontam a uma nova pista sobre carro clonado

Chevrolet Cobalt emboscou vereadora e motorista no Rio de Janeiro; caso está prestes a completar mil dias sem apontar os mandantes dos assassinatos

Por Marina Lang Atualizado em 7 dez 2020, 01h03 - Publicado em 6 dez 2020, 14h25

As investigações do caso Marielle Franco (PSOL) e Anderson Gomes têm uma nova pista sobre o Chevrolet Cobalt clonado, placa KPA-5923, que foi usado no atentado contra a vereadora e seu motorista no Estácio, bairro da região central do Rio, em 14 de março de 2018. O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio de Janeiro aponta que Eduardo Almeida Nunes de Siqueira, morador de Muzema – comunidade dominada pelo Escritório do Crime em 2018, grupo de assassinos fundado pelo ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, morto na Bahia em fevereiro – teria clonado um veículo do mesmo modelo no começo daquele ano, às vésperas da emboscada.

Além disso, a defesa de Siqueira é encampada por Bruno Castro, mesmo advogado do PM reformado Ronnie Lessa, réu apontado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro e pelo Gaeco como o responsável por atirar em Marielle e Anderson. No ataque, segundo os investigadores, o ex-PM Élcio de Queiroz teria dirigido o Cobalt clonado. Ambos estão presos na Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia, desde 2019.

As informações foram divulgadas neste domingo, 6, pelo jornal O Globo e confirmadas por VEJA. Procurado pela reportagem, o MP do Rio ainda não se manifestou.

Na próxima terça-feira, 8, o caso completa mil dias sem ter apontado os mandantes do ataque à vereadora e ao seu motorista. Nem o Chevrolet Cobalt clonado, tampouco a arma usada no crime – uma submetralhadora MP5, segundo a polícia – foram encontrados.

Eduardo Siqueira está preso desde maio de 2019 no âmbito da segunda fase das investigações do caso, então chefiadas pelo delegado Daniel Rosa. Em setembro deste ano, conforme VEJA mostrou, as investigações ganharam uma nova equipe quando cúpula da Divisão de Homicídios foi trocada após a saída do ex-secretário de Polícia Civil, Flávio Britto, segundo VEJA antecipou.

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Siqueira, no entanto, teria relações com outro grupo miliciano: o de Orlando da Curicica, apontado inicialmente como um dos suspeitos, mas descartado no decorrer das investigações após prestar depoimento ao Ministério Público Federal (MPF) e revelar a estrutura do Escritório do Crime.

Ao jornal, as promotoras do Gaeco disseram que Siqueira teria feito uma troca de carros com um miliciano do grupo de Curicica, conhecido como Peppa. Ele foi denunciado por uma série de crimes relacionados à milícia, preso em 2019 e está acautelado na penitenciária Bandeira Stampa, também conhecida como Bangu 9, na zona oeste do Rio.

A VEJA, Bruno Castro, advogado de Ronnie Lessa e de Eduardo Siqueira, se manifestou por meio de uma nota. “O senhor Eduardo foi investigado assim como diversas outras pessoas que eram acusadas de serem clonadores de carro. Inclusive, alguns desses investigados foram assassinados ou desapareceram”, declarou.

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Ele acrescentou que o depoimento de Siqueira foi prestado em julho de 2018 na primeira fase das investigações do caso Marielle, que foram tocadas pelo delegado Giniton Lages. “A informação lançada agora pelo MP é apenas para trazer o assunto Marielle à tona, para dar satisfação à sociedade nessa data simbólica de mil dias”, alfinetou.

O defensor diz que não houve nenhuma prova que ligue seu cliente aos dois Cobalts clonados que circulavam pelo Rio de Janeiro na noite de 14 de março de 2018. O caso foi revelado pelo site The Intercept Brasil – além do carro original, outros dois clones rodavam pela cidade na data em que Marielle e Anderson foram assassinados. “Aliás, deve ser lembrado que o senhor Eduardo, de acordo com a acusação do MP, seria ligado à suposta organização criminosa de Orlando Curicica, o qual já foi descartado como suspeito do crime”, afirmou Castro.

O advogado tratou com naturalidade o fato de representar tanto Lessa quanto Siqueira. “Não diz absolutamente nada”, afirmou. “Em dois anos de investigação, ao menos 65 pessoas já foram presas em decorrência das investigações e mais de uma centena foram investigadas. Logo, é até normal que em algum momento o escritório atuasse para outros investigados do caso, visto que atua exclusivamente na área criminal”, finalizou.

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Lessa e Queiroz vão a júri popular na 4ª Vara Criminal da Capital. Ainda não há data definida para o julgamento.

 

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