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Caso Bebianno deixa potenciais aliados com ‘pé atrás’ e estimula oposição

Queda do ministro foi oficializada a dois dias da chegada da reforma da Previdência ao Congresso. Presidente vai levar proposta à Câmara

Por Redação
Atualizado em 19 fev 2019, 14h38 - Publicado em 18 fev 2019, 21h53

A dois dias da chegada da reforma da Previdência ao Congresso, pelas mãos do próprio presidente Jair Bolsonaro (PSL), a demissão do ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, oficializada nesta segunda-feira, 18, deixou potenciais aliados do Palácio do Planalto alarmados pelo modo como sua saída foi conduzida e abriu caminho para que a oposição chame o agora ex-ministro para dar explicações sobre as contas de campanha de Bolsonaro e do PSL, que Bebianno presidiu durante as eleições de 2018.

O líder do DEM na Câmara, Elmar Nascimento (BA), diz que o tratamento dispensado pelo presidente a seu ex-braço-direito deixou os parlamentares inclinados a apoiar a pauta econômica do governo alarmados. O partido de Nascimento tem três ministros em pastas vistosas no governo (Casa Civil, Saúde e Agricultura), indicados a partir da lógica de Bolsonaro de dialogar com bancadas temáticas, e não com partidos, para compor o primeiro escalão.

“A demissão pode ter impactos negativos nem tanto pelo lado da articulação política com o Legislativo, que não estava tão a cargo de Bebianno, mas pela forma como ela foi feita. Ficou todo mundo com o pé atrás. Se um aliado de primeira hora foi defenestrado desse modo, como será com a classe política em geral?”, declarou Nascimento a VEJA. “Não sabemos, nessa seara política, quem fala pelo governo”, completa.

Um dos defensores da permanência de Gustavo Bebianno no cargo, o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), avalia, no entanto, que a exoneração não terá repercussão entre os congressistas e não impactará a articulação política em que pesa Bebianno ter sido um dos principais interlocutores do Palácio do Planalto junto ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

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“Não podemos misturar alhos com bugalhos. Uma situação do Executivo não interfere no Parlamento. Em nenhum momento o presidente interferiu no Parlamento, e o Parlamento não pode interferir no Executivo. Houve uma quebra de confiança e ele decidiu demitir o ministro”, disse Waldir a VEJA.

No campo da oposição, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) afirmou na noite desta segunda-feira que a bancada do partido vai chamar o ex-ministro para dar explicações. “Vamos convocar Bebianno para dizer como foi feita a campanha do Bolsonaro e a relação com as milícias”, disse o deputado federal, conforme noticiou o Radar.

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Já o líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), anunciou que vai transformar em “convite” os pedidos de convocação para que Gustavo Bebianno dê explicações no Senado sobre o caso das supostas candidaturas laranjas em 2018. Como agora é ex-ministro, Bebianno não pode mais ser obrigado a falar na Casa e tem de aceitar ir ao Parlamento por iniciativa própria.

Os convites para que ele faça esclarecimentos sobre os episódios que envolvem sua demissão serão protocolados na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e na Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle (CTFC). A aprovação desses convites, por maioria de votos, não significa que Bebianno precisará comparecer ao colegiado.

“A melhor forma do senhor Bebianno se redimir pelos seus malfeitos é comparecer ao Senado e abrir o jogo, sem permitir que sua exoneração sirva para varrer a sujeira para debaixo do tapete”, disse Randolfe.

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“Precisamos saber como foi o financiamento de campanha dos candidatos do PSL e do próprio presidente da República. Essas informações não podem ser prestadas em off para a imprensa ou ficar num bate-boca de redes sociais. Esse episódio não será superado com a exoneração. O ministro (Bebianno) fez graves acusações ao presidente, e ele próprio tem explicações a dar”, complementou o senador.

Randolfe disse ainda que a saída do titular da Secretaria-Geral deve afetar a votação das reformas importantes para o governo, como a da Previdência. “Bebianno era um dos poucos com interlocução no Congresso. A saída dele é uma queda forte na articulação”, explicou.

A deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) afirmou que a decisão do presidente Jair Bolsonaro de demitir o então ministro Gustavo Bebianno foi “pessoal”, porque a relação entre os dois “desgastou” e ficou “insustentável”. Ela considera que a crise abriu uma ferida na interlocução do governo com o Congresso, mas que o vídeo de agradecimento de Bolsonaro a Bebianno “é um começo” e “demonstra hombridade”.

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“A relação ali (entre Bolsonaro e Bebianno) ficou aquela coisa do casamento que está acabando, uma relação meio que insustentável. Foi uma paixão louca lá trás, os dois só andavam juntos, do café da manhã ao jantar, e de repente a relação se desgastou e aí vem o divórcio. O problema é que o divórcio veio com o escândalo. Não precisa chamar os vizinhos para discutir o divórcio”, disse a parlamentar.

Ela comparou o caso de Bebianno com o do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio. Ele e Bebianno são alvos de suspeitas de participação em esquema de uso de laranjas pelo PSL, em 2018, mas Álvaro Antônio continua no cargo.

“Acho que foi uma questão mesmo pessoal. O presidente e o Marcelo conseguiram ter uma conversa e conseguiram se acertar. No caso do ministro Bebianno e o presidente, essa conversa não aconteceu, não pelo menos para que a paz viesse. Pelo que eu sei, a última conversa foi bem tensa”, contou a deputada sobre a reunião que Bolsonaro e Bebianno tiveram na última sexta, 15.

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Antes de visitar Bebianno no hotel onde ele mora, em Brasília, na noite desta segunda-feira, Joice voltou a criticar a condução do processo de demissão do ministro, que terminou após três dias de impasse.

“Você não pega uma fratura e transforma ela numa fratura exposta. Quando você tem uma fratura, você põe um gesso, você põe no lugar, você faz tudo direito, e a coisa estava se encaminhando para uma fratura exposta. Por isso eu acabei entrando nessa confusão toda.” Mais cedo, ela havia dito que o governo “está com uma queimadura de terceiro grau. “Não se pode passar o recado a aliados de que essa fritura pública pode acontecer com qualquer pessoa.”

Segundo Joice, a postura de Bolsonaro diante do caso pode prejudicar a relação com o Congresso e agora é preciso “azeitar” essa relação. Ela já procurou líderes e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para “acalmar os ânimos”. “Vamos sepultar esse episódio e começar a construir tudo de novo. De fato, nós tivemos ali um ferimento, é uma ferida na relação Congresso e governo.”

Ela reforçou que, apesar de ser do partido do presidente, “não pode simplesmente dizer que foi tudo feito da melhor maneira politicamente falando”. “O presidente da República pode demitir todos os ministros que ele quiser, é uma prerrogativa do presidente. O que impacta a relação com o Congresso é a condução, a forma como foi feita”, avaliou.

(Com Estadão Conteúdo)

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