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Brasileiros escolhem 38º presidente em eleição de extremos

Presidenciáveis Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) disputam votos em pleito marcado por violência e fake news. Pesselista é favorito

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 28 out 2018, 16h09 - Publicado em 28 out 2018, 06h53

O 38º presidente do Brasil será eleito neste domingo, 28, no segundo turno da eleição mais polarizada e violenta desde a redemocratização, marcada pela facada em um dos candidatos e uma avalanche de notícias falsas. Em 5.570 municípios do país, os 147,3 milhões de brasileiros aptos a votar terão até as 17h, nos horários locais, para escolher entre dois extremos: o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL), representante da direita, e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), da esquerda.

Os primeiros números da apuração de votos para a Presidência da República serão divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) partir das 19h do horário de Brasília, quando se encerrará a votação no Acre. O sucessor do presidente Michel Temer (MDB) e seu vice, que devem ser anunciados até as 21h, subirão a rampa do Palácio do Planalto em 1º de janeiro de 2019.

Bolsonaro votou às 09h20 da manhã na Escola Municipal Rosa da Fonseca, dentro da Vila Militar, em Deodoro, na Zona Oeste do Rio. Acompanhado do filho Carlos Eduardo e sua esposa Michele, ele afirmou estar confiante: “O que eu vi nas ruas, vou ver nas urnas: vitória”. O esquema de segurança do presidenciável foi reforçado. Mais de 50 guardas do exército, 10 agentes da polícia federal e ainda seguranças particulares fizeram a escolta do capitão.

O candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad, votou na manhã deste domingo 28 acompanhado da esposa, Ana Estela Haddad, em uma escola no bairro de Moema, na zona sul de São Paulo. Ele foi recepcionado por um grupo de manifestantes a seu favor, que o aguardavam com rosas e livros, em um sinal, segundo deles, de defesa “do amor e do professor”. No prédio em frente, assim como no primeiro turno, moradores batiam panelas contra o ex-prefeito. “Sinto nas ruas de todo o Brasil muita militância, muitas pessoas comuns indo defender o Brasil e a democracia”, disse.

Além do desafio de pacificar um país conflagrado, o novo presidente terá como principal missão fazer a economia brasileira retomar o crescimento para gerar empregos. Os dados mais recentes mostram que há 13 milhões de desempregados no Brasil, produto de uma das mais graves recessões econômicas da história do país, gestada no descontrole fiscal do segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff e na instabilidade política que levou ao impeachment da petista e persistiu no governo Temer, marcado por denúncias de corrupção contra o presidente.

Também serão eleitos neste domingo os governadores do Distrito Federal e de 14 estados, incluindo quatro dos cinco maiores colégios eleitorais do país: São Paulo (33 milhões de eleitores), Minas Gerais (15,7 milhões de eleitores), Rio de Janeiro (12,4 milhões de eleitores) e Rio Grande do Sul (8,3 milhões de eleitores).

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Vantagem decrescente

Com 49,2 milhões de votos no primeiro turno, 46% dos votos válidos, Jair Bolsonaro quebrou a polarização entre PT e PSDB, que se mantinha desde o pleito de 1994, e deixou os tucanos fora do segundo turno pela primeira vez desde 1989. A “onda Bolsonaro” levou o capitão reformado do Exército à vitória em 16 estados e no Distrito Federal.

Impulsionado pelo desempenho no Nordeste, reduto do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde 2002, Fernando Haddad alcançou o segundo turno com 29,2% dos votos válidos, o equivalente a 31,3 milhões de votos.

As pesquisas de intenção de voto divulgadas neste sábado, 27, mostram que o candidato do PSL se mantém à frente do postulante do PT. Conforme o Datafolha, Bolsonaro tem 55% das intenções de votos válidos, enquanto Haddad aparece com 45%. No Ibope, o pesselista atinge 54% das intenções de votos válidos e o petista, 46%.

Embora siga na liderança, o capitão reformado viu sua vantagem sobre o ex-prefeito diminuir na reta final da campanha. A diferença, que era de 18 pontos porcentuais no Datafolha e no Ibope na semana passada, agora é de dez e oito pontos porcentuais, respectivamente.

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Um não quer, dois não debatem

Sem fazer campanha nas ruas desde que sofreu uma facada na barriga em Juiz de Fora (MG), em 6 de setembro, Jair Bolsonaro manteve a estratégia de divulgar vídeos nas redes sociais diariamente, dar entrevistas e não comparecer aos debates eleitorais na TV no segundo turno. Embora tenha sido liberado pela equipe médica que o atende, o pesselista alegou que não poderia fazer esforço, ficar em pé e passar por estresse durante muito tempo. Operado após a facada, Bolsonaro teve implantada no lado direito do abdômen uma bolsa de colostomia, que coleta fezes e gases do intestino. Ele passará por uma nova cirurgia para reverter o procedimento.

Com dez minutos diários no horário eleitoral no segundo turno – ele só dispunha de 8 segundos na primeira parte da eleição – Jair Bolsonaro usou o espaço para fazer ataques ao PT, se mostrar ao eleitor como um candidato mais moderado do que sugere seu passado e apresentar ao público o economista Paulo Guedes, fiador de sua candidatura junto ao mercado financeiro e responsável pela metamorfose do deputado estatista no presidenciável adepto do liberalismo econômico.

O pesselista também se dedicou a atenuar problemas causados por integrantes de seu grupo. A uma semana da votação deste domingo, veio a público um vídeo em que seu filho Eduardo Bolsonaro, deputado reeleito pelo PSL, diz que para fechar o Supremo Tribunal Federal (STF) bastam “um soldado e um cabo”. A declaração, que despertou reações duras de ministros do STF, levou o presidenciável a enviar uma carta à Corte com desculpas. “Já adverti o garoto”, explicou-se, sobre o deputado de 34 anos. O próprio Bolsonaro também teve seus arroubos. No domingo passado, ele disse a manifestantes concentrados na Avenida Paulista, referindo-se a petistas, que “esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria”.

Lula some e ‘frente democrática’ fracassa

Fernando Haddad teve sua campanha repaginada visualmente e reorientada politicamente para a parte decisiva da eleição. Enquanto no primeiro turno o vermelho petista abundava e a ordem era a de que Haddad se mostrasse como representante de Lula nas urnas, no segundo turno o material de campanha ganhou tons verde-amarelos à la Bolsonaro e saiu de circulação a máxima de que “Lula é Haddad e Haddad é Lula”. O ex-prefeito também deixou de visitar o ex-presidente na cadeia em Curitiba às segundas-feiras.

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Os gestos de Fernando Haddad para atenuar petismo e lulismo em sua campanha foram a parte inicial do movimento que tomou boa parte de seus esforços desde 8 de outubro: a construção de uma “frente democrática” e suprapartidária que se opusesse à onda conservadora no país e ao extremismo de Bolsonaro, lembrado diariamente pela propaganda do PT na televisão.

No entanto, além do líder dos Sem-Teto Guilherme Boulos (PSOL), que aderiu a Haddad por inércia, o petista reuniu apenas os “apoios críticos” do PDT, que teve Ciro Gomes como candidato, e de Marina Silva (Rede), que recebeu apenas 1% dos votos e saiu da campanha menor politicamente do que entrou. Com 12,4% dos votos válidos no primeiro turno, Ciro optou por não declarar voto em Fernando Haddad. O irmão dele, senador eleito Cid Gomes (PDT-CE), chegou a dizer em um evento do PT que o partido deveria “pedir desculpas” pelas “besteiras que fez” e previu a derrota do ex-prefeito. Principal interlocutor de Haddad no PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também não declarou voto em Haddad.

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