Bolsonaro espera colher os votos do orçamento secreto
Depois de liberar uma quantia bilionária, presidente acredita que as máquinas públicas locais, em retribuição, trabalharão por sua reeleição

O presidente Jair Bolsonaro (PL) e integrantes da coordenação de sua campanha à reeleição apostam nas emendas de relator para conquistar votos pelo país, especialmente nos municípios de pequeno e médio portes. Também conhecidas como orçamento secreto, essas emendas foram usadas pelo governo para consolidar a parceria com o Centrão e permitir que parlamentares aliados irrigassem as suas bases com recursos federais.
Dos 16,5 bilhões em emendas de relator previstos para 2022, cerca de 7 bilhões já foram pagos até o início de julho. O Estado que receberá mais verbas neste ano eleitoral será Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do país e o único da região Sudeste em que o presidente está bem atrás de Lula (PT). O presidente acredita que, em retribuição às liberações do orçamento secreto, prefeitos, vereadores e deputados estaduais de partidos governistas pedirão voto para ele, até para manter uma parceria que, na teoria, é benéfica a todos os envolvidos.
Por esse raciocínio, as máquinas locais se juntariam à máquina federal para impulsionar a campanha à reeleição. “A máquina pública tem muito peso em qualquer eleição, ainda mais numa eleição em que há orçamento secreto para desequilibrar a disputa”, diz um dos políticos mais experientes do Brasil, ressaltando que as emendas de relator devem funcionar como uma vantagem competitiva para Bolsonaro e seus aliados.
Desde que foram turbinadas pelo Congresso, as emendas de relator estão sob escrutínio de órgãos diversos, como a Polícia Federal e o Tribunal de Contas da União. Há suspeitas de que financiam esquemas de corrupção e banquem compras superfaturadas. Na seara eleitoral, elas têm potencial para render dividendos porque, quando são empregadas em prol da sociedade, resultam em melhorias em áreas como saúde e educação.
O desafio da equipe de Bolsonaro é convencer o eleitor de que essas melhorias têm como patrono o presidente da República, que executa o orçamento federal. Para o comitê da reeleição, a publicidade oficial e a propaganda eleitoral na TV farão esse trabalho de convencimento. Não será tão fácil quanto parece. Nem sempre as realidades regionais permitem a prefeitos, vereadores e deputados estaduais gestos de gratidão e retribuição ao presidente de turno. No próprio PP de Ciro Nogueira, há quadros estaduais que farão campanha por Lula.