Bolsonaro ‘começou a compreender’ o que é governar, diz Rodrigo Maia
Em participação no Fórum VEJA EXAME, o presidente da Câmara reconhece diálogo do Planalto com partidos, mas diz que falta agenda além da Previdência
Ao participar do Fórum VEJA EXAME – 100 Dias de Governo, nesta segunda-feira, 15, em São Paulo, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reconheceu que o presidente Jair Bolsonaro está mais aberto ao diálogo com os partidos políticos após 100 dias no Palácio do Planalto e disse que ele “começou a compreender melhor o que é governar o Brasil e o que é o Parlamento”. “Foram 100 dias com turbulência, mas o avião passou no meio da turbulência perfeito”, comparou o democrata, que teve atritos públicos com Jair Bolsonaro.
Entrevistado por Ricardo Noblat, um dos colunistas de VEJA, Maia afirmou, no entanto, que faltam ao governo do presidente Jair Bolsonaro outras propostas além da reforma da Previdência, em tramitação na Câmara, para serem analisadas após a aprovação das mudanças nas aposentadorias. Em março, no auge da troca pública de farpas com o presidente, Maia classificou o governo Bolsonaro como um “deserto de ideias”.
Neste evento em São Paulo, Rodrigo Maia afirmou que a agenda econômica conduzida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, “vai muito bem”, “mas nas outras áreas falta uma agenda mais densa de debates, onde a gente possa inclusive participar, dialogar, construir soluções do Parlamento junto com o Poder Executivo”. “Está todo mundo querendo compreender qual é o papel de cada um que acredita na agenda econômica do governo no dia seguinte [à Previdência]”, completou Maia.
“O sistema é presidencialista e muitos demandam que o Parlamento comande uma agenda. Mas é muito difícil que o Parlamento, sozinho, tenha a capacidade de introduzir uma agenda, depois quem vai executar essa agenda é o Executivo. No sistema presidencialista, o papel do presidente no diálogo, na articulação, na colocação da agenda e da pauta é muito importante”, afirmou.
Rodrigo Maia declarou entender que cabe ao governo Bolsonaro mostrar, por exemplo, suas alternativas a programas como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida, lançados pelo PT, para que “não fique parecendo que só os partidos de centro-esquerda e social-democratas é que têm agenda para mudar de forma objetiva a sociedade”.
O presidente da Câmara também comentou a decisão de Bolsonaro suspender o reajuste de 5,7% no preço do óleo diesel, vendido pela Petrobras, e avaliou que nesta situação “não tem solução fácil”. De um lado, disse Maia, um recuo poderia desagradar aos caminhoneiros, cuja ameaça de greve teve grande influência na decisão do presidente de interferir na política de preços da estatal. Por outro lado, levando em consideração o caixa da Petrobras e o mercado, “uma intervenção de um governo liberal em uma empresa de capital aberto não terá consequências positivas nem para os caminhoneiros”, ponderou ele.
Rodrigo Maia ainda enxerga outro problema em relação ao presidente, à medida que a imagem de Paulo Guedes como expoente do liberalismo e fiador da política econômica de seu governo sai chamuscada. “Ele fez uma aliança com liberais, através do Paulo Guedes, que foi o fiador da aliança onde essa politica liberal foi colocada como prioridade do governo. Se ele vai mudar a política, ele passa a correr risco de ter um segundo problema: fica Paulo Guedes no meio de uma politica intervencionista, ele sendo um dos maiores liberais do Brasil há vários anos”, declarou.