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Bolsas do RenovaBR atraem de coronel a ativista LGBT

Primeira turma do projeto para formação de candidatos ao Legislativo teve início em São Paulo. Maioria dos bolsistas não é filiada a partidos

Por Estadão Conteúdo
Atualizado em 31 jan 2018, 14h49 - Publicado em 31 jan 2018, 14h30

A primeira turma de bolsistas do RenovaBR, projeto empresarial criado para capacitar futuros candidatos ao Legislativo, é formada por um grupo que vai de coronel do Exército a ativistas do movimento LGBT. Entre os selecionados está o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, que deixou a pasta em novembro de 2016 – depois de tornar público que estaria sofrendo pressão do então ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, para liberação de um empreendimento imobiliário de seu interesse.

“Nossa primeira turma tentou captar esse vento de mudança na política”, disse o idealizador do RenovaBR, o empresário Eduardo Mufarej. Após um processo de seleção que contou com testes escritos e entrevistas presenciais, os 100 escolhidos já frequentam aulas na sede da Sociedade Brasileira de Coaching, na Vila Olímpia, Zona Sul de São Paulo.

O grupo é formado por 74 homens e 26 mulheres. Entre os participantes, 62% se declararam brancos. Já pretos, pardos e indígenas correspondem a 38%. A idade média dos escolhidos é de 35 anos. Os estados com mais representantes, e que também tiveram o maior número de escritos, foram São Paulo (20) e Rio (17). O RenovaBR ainda tem cinquenta vagas remanescentes – que deve preencher com interessados de estados com pouca representatividade na primeira seleção.

A maioria dos selecionados ainda não é filiada a partidos. Mas no grupo existem pessoas ligadas a Rede, Novo, PPS, PSDB, PSC, PR, PTdoB e outros. Além disso, o projeto também conta com representantes dos chamados movimentos cívicos, como Agora! e Livres. Por regra do próprio RenovaBR, pré-candidatos que já ocuparam cargos políticos ficaram de fora do processo, mas não houve restrições para quem já se lançou em uma candidatura e não obteve êxito eleitoral. O valor da bolsa mensal tem uma variação de 5.000 a 12.000 reais.

O projeto é financiado por empresários, como o próprio Mufarej, Abílio Diniz, o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga e o publicitário Nizan Guanaes. Entre os apoiadores está o apresentador Luciano Huck, que não participou do processo de seleção mas tem o nome cotado para concorrer à Presidência da República.

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Oficialmente, o projeto não divulga uma projeção de quantos candidatos gostaria de ver eleitos em outubro, mas, internamente, fala-se em 20%. Além da formação política, os bolsistas têm duas sessões de coaching por semana – cujo objetivo é promover autoconhecimento e potencialização de talentos.

Mistura

No encontro desta terça-feira 30 o grupo assistiu a uma aula de liderança positiva, com os professores Villela da Matta, precursor do coaching no Brasil e Flora Victoria, mestre em psicologia positiva aplicada pela Universidade da Pensilvânia. Basicamente, os quase candidatos foram instigados a pensar sobre suas motivações ao escolherem o caminho da política. As respostas seguiram por uma linha segura e politicamente correta como “justiça”, “amor”, “indignação” e “esperança”.

O grupo não é homogêneo – e foi deliberadamente montado para representar diversos setores da sociedade. Na aula foi possível, por exemplo, encontrar o ex-comandante-geral da Polícia Militar de Minas Gerais coronel Marco Antônio Badaró Bianchini, de 52 anos. Assim como a maioria dos candidatos, ele ainda está decidindo se sua candidatura será para deputado federal ou estadual. O militar vem conversando com o PSC e tem como principal bandeira a segurança pública.

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Ao lado dele, está Italo Alves, de 25 anos, militante da causa gay, nascido em Fortaleza. Segundo Alves, seu principal objetivo é  “colocar o coronelismo e a corrupção cearense no museu”. “Decidi entrar para a política por conta da minha história pessoal, por ter sofrido preconceito e violência no ensino médio por causa da minha sexualidade”, afirmou o pré-candidato a deputado federal da Rede.

Pessoas que nas redes sociais estariam “guerreando virtualmente” dividem mesas de debate. O carioca Vitor Del Rey, de 33 anos, por exemplo, tem uma história de militância e foi o responsável por criar o primeiro coletivo negro na FGV-RJ. Ainda sem partido, Rey é próximo das pautas de esquerda e de movimentos sociais. Nos últimos dias, ele tem almoçado e conversado bastante com a jornalista baiana Priscila Chammas, de 33 anos, que se aproximou da política participando das manifestações pró-impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff (PT).

Priscila estava no PSL, mas, assim como os seus pares do Livres, deixou o partido depois do anúncio da entrada do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) na agremiação. “Acredito em uma sociedade livre da presença do Estado”, afirma.

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Para além do embate ideológico, alguns selecionados se destacam pela trajetória de vida. Esse é o caso de Alisson Julio, de 29 anos, analista de sistemas e portador de amiotrofia muscular espinhal genética. “Quero defender a bandeira da inclusão para pessoas portadoras de deficiência. Mostrar que nós podemos e devemos ter voz na política”, disse.

No mesmo grupo, é possível encontrar alguns “famosos”, como Marcelo Calero e o ator Wellington Nogueira, um dos criadores do grupo Doutores da Alegria (companhia de teatro que visita crianças e adultos em hospitais). Segundo bolsistas, a presença de Calero causou certo estranhamento no começo, mas “a barreira já teria sido vencida”. A organização do Renova BR e o próprio ex-ministro negam que a entrada dele tenha sido “combinada” – ele teria passado por todas as fases de seleção, como os outros participantes.

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