Autor de texto que Bolsonaro replicou se preocupa com exposição
Presidente postou em grupos de WhatsApp um texto escrito pelo professor Paulo Portinho que classifica o Brasil como um país ingovernável fora de conchavos
O professor de finanças Paulo Portinho acordou na manhã do último dia 11, um sábado, e recorreu ao Facebook para publicar um desabafo com relação aos percalços enfrentados por Jair Bolsonaro (PSL) para implementar políticas de cunho liberal no país. Ele estava no trabalho nesta sexta-feira, 17, quando leu na imprensa que o presidente havia compartilhado o texto em grupos de WhatsApp dos quais participa. A exposição nas redes agora o preocupa.
O jornal Estado de S.Paulo publicou a história em primeira mão. Na publicação de Portinho, o Brasil é descrito como um país “ingovernável” fora de conchavos. O texto diz que Bolsonaro sofre pressões de corporações e que não é culpado pela paralisia institucional, uma vez que “não destruiu nada, aliás, até agora não fez nada de fato, não aprovou nada, só tentou e fracassou”.
Bolsonaro publicou o texto creditando-o a um “autor desconhecido”. Em conversa com VEJA, Portinho lamentou que a autoria já tenha sido descoberta por outros usuários de redes sociais. “A única coisa que eu queria era acordar um pouco mais tarde no sábado e assistir ao jogo entre Flamengo e Atlético-MG. Não fiquei nem um pouco feliz com essa repercussão, mas não fiquei chateado com o presidente, porque as pessoas têm o direito de fazer o que querem. Só não queria o meu nome envolvido”.
Ele afirmou que a chateação tem a ver com a virulência que tomou as redes sociais nos últimos anos. Portinho não faz ideia de como o texto chegou até Bolsonaro. “Foi só um desabafo. Tinha esperança de que poderíamos nos tornar um país um pouco mais liberal, pró-mercado e pró-empresas. Escrevi isso quando vi que as coisas não andam fora de uma determinada agenda. Foi um texto que circulou só no meu grupo e, até onde sei, não conheço ninguém relacionado ao presidente”, disse.
Portinho, de 46 anos, foi candidato a vereador pelo Novo no Rio de Janeiro, em 2016, e não pretende se aventurar mais na política. Ele não votou em Bolsonaro na eleição do ano passado. Escolheu o correligionário João Amoêdo no primeiro turno e justificou no segundo, já que não estava no seu domicílio eleitoral.
Sobre a paralisia institucional do governo Bolsonaro e os efeitos que seu texto pode causar na relação entre o Executivo e os outros poderes, Portinho prefere não opinar. “Eu me sinto à vontade só para falar que torço para dar certo. A minha opinião está lá, eu não retiro o que disse. É a opinião de muita gente, inclusive. A única coisa que espero, de coração, é que a racionalidade tome conta dos três poderes e que as pessoas entendam que dá para brigar fazendo tudo certo, com cada um sendo racional na sua parte”, declarou.