As andanças de Pagot no Ministério dos Transportes
Antigo homem-bomba do Dnit foi defenestrado do governo após VEJA revelar cobrança institucionalizada de propina no governo Dilma
Desde o início do ano, uma presença constante tem chamado a atenção de funcionários do bloco R da Esplanada dos Ministérios. Luiz Antônio Pagot, ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e pivô de um escândalo de corrupção que culminou na primeira grande onda de demissões do governo Dilma Rousseff, se reuniu pelo menos três vezes com o chefe da pasta dos Transportes, Renan Filho (MDB).
A poucos meses do início do governo, os encontros alimentaram rumores de que Pagot se articulava para tentar voltar ao Dnit, autarquia responsável pela construção e manutenção das estradas, de onde foi defenestrado após reportagem de VEJA ter revelado a cobrança institucionalizada de propina no ministério durante o primeiro mandato de Dilma.
Renan negou a VEJA que a presença de Pagot tivesse relação com o preenchimento de cargos no Dnit e disse que, como consultor privado na área de logística, o ex-homem forte do governo na área dos transportes tem defendido a criação de um plano rodoviário emergencial para a recuperação de rodovias em estado precário de conservação. Atualmente, o Dnit é comandado interinamente pelo ex-superintendente do órgão em Alagoas Fabrício Galvão, que deve ser efetivado no posto.
Durante o governo Dilma, VEJA revelou que o Ministério dos Transportes, na época comandado pelo atual PL de Valdemar Costa Neto, montou um esquema de recolhimento de propina em que empreiteiros eram obrigados a pagar 4% de “pedágio político” em troca de contratos e liberação de faturas. O então Partido da República, nome anterior do PL, exigia 1 ponto porcentual a mais para o caixa da legenda. Com a reportagem, a cúpula do Ministério dos Transportes, do Dnit e da antiga Valec, empresa responsável por ferrovias no governo, foi demitida. O esquema de corrupção também permitiu que a empreiteira Delta, do empresário Fernando Cavendish, se tornasse a maior prestadora de serviços do governo, com faturamento superior a 3 bilhões de reais em contratos.
Pagot estava na lista de demissionários e, em uma cartada final, chegou a mandar recados ao governo de que poderia se tornar um homem-bomba e revelar esquemas corruptos no governo petista. Meses depois, o então chefe da pasta dos Transportes, Alfredo Nascimento, também acabou exonerado no que ficou conhecido como “faxina ética” – no primeiro ano do mandato de Dilma, seis ministros foram demitidos por suspeitas de envolvimento em esquemas de corrupção.