Acordo com Lira e foco no Senado: os planos de Valdemar no Congresso
Presidente do PL saiu das eleições com as maiores bancadas no Legislativo e será peça central em Brasília, vença quem vencer eleição presidencial

Sempre discreto e operando nas sombras, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, colheu nas urnas de 2022 os frutos da filiação do presidente Jair Bolsonaro e dos votos bolsonaristas: o partido de que é “dono” elegeu oito senadores e 99 deputados federais, números que lhe garantem as maiores bancadas nas duas Casas. Com poder garantido no Congresso pelos próximos quatro anos, ganhe quem ganhar a eleição presidencial entre Bolsonaro e Lula, Valdemar atua nos bastidores para aumentar ainda mais o peso político do partido e mira posições de comando no Legislativo, como mostra reportagem de VEJA desta semana.
Os planos do cacique no Congresso, cujo sucesso depende em boa medida da reeleição de Bolsonaro, incluem a atração de novos senadores para tentar conquistar a presidência do Senado, sua prioridade. Aliados de Valdemar dizem que o PL conversa com uma lista de dez senadores em meio de mandato, mantida sob sigilo, contando com uma vitória do presidente para atrair parte deles e elevar a bancada a algo próximo a vinte nomes – o número atual, incluindo os eleitos, é de quinze senadores.
Na Câmara, onde o PL terá a maior bancada a partir de 2023, condição que favoreceria a indicação de um nome à presidência da Casa, incertezas iniciais a respeito das ambições de Valdemar Costa Neto acenderam um sinal de alerta em antigos companheiros do Centrão, como o PP. A sigla tem como prioridade a reeleição do atual presidente, Arthur Lira (AL), e viu sua bancada cair de 57 para 47 deputados nas eleições. Uma reação catalisada pelo crescimento do PL, como modo de lhe fazer frente, foi a aproximação do PP com o União Brasil pela formação de uma federação ou um bloco partidário no Congresso. Uma fusão entre os dois partidos foi cogitada inicialmente, mas descartada. Se a aliança for firmada, as siglas passam a ser o maior bloco da Câmara, com 106 deputados.
Alinhavou-se, no entanto, um acordo pelo apoio de Valdemar à reeleição de Lira. Ciente da força do deputado junto ao Centrão – sobretudo se Bolsonaro for reeleito, mas também caso Lula vença a disputa presidencial – o “dono” do PL apoia a recondução do cacique do PP, contanto que o gesto seja retribuído em 2025 a um correligionário de Valdemar. Dentro do PL, não são poucos os que veem com bons olhos um alinhamento a Arthur Lira. “Acredito que haverá uma coalizão em torno dele pela recondução. Não tem porque dividir se ele está com o governo e é leal”, diz o deputado Capitão Augusto (PL-SP), vice-presidente do partido. “Não temos a vaidade de falar ‘fizemos a maior bancada, queremos a presidência’, o que seria o lógico. O consenso pesa mais do que isso”, pondera o vice-presidente da Câmara, Lincoln Portela (PL-MG). Como mostrou o Radar, Arthur Lira também trabalhará pela eleição de um aliado de Valdemar ao comando do Senado.
As condições de Valdemar Costa Neto a um acerto com Lira, contudo, devem esbarrar em outros partidos do Centrão. O presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), já disse a pessoas próximas que espera ser referendado por Lira na eleição seguinte, em 2025, em troca dos seus apoios em 2021 e 2023. A sigla ligada à Igreja Universal, favorita a ocupar o governo de São Paulo a partir de 2023, elegeu 41 deputados em 2022.
Caso o ex-presidente Lula vença as eleições presidenciais, além do mais, Valdemar certamente se verá às voltas com um racha dentro da bancada do PL. Uma ala da sigla, minoritária e mais ligada ao cacique, a do “Centrão raiz”, não deve demorar a buscar alinhamento com o governo, enquanto outra, a dos numerosos bolsonaristas, logicamente rechaçaria qualquer aproximação com o petista.