Último Mês: Veja por apenas 4,00/mês
Continua após publicidade

A receita do poder: o restaurante que virou reduto da nova corte petista

O modesto ponto gastronômico preferido do presidente eleito e dos companheiros de partido volta a ferver com articulações políticas

Por Leonardo Caldas
Atualizado em 4 jun 2024, 11h09 - Publicado em 2 dez 2022, 06h00
INTIMIDADE - Tia Zélia: rabada com feijão e ovo e linha direta com Lula -
INTIMIDADE - Tia Zélia: rabada com feijão e ovo e linha direta com Lula – (Ricardo Stuckert/.)

A baiana Maria de Jesus Oliveira estava agitada na manhã de terça-feira 29. Apelidada de Tia Zélia em homenagem à mãe e dona de um pequeno restaurante numa vila que fica a 1 400 metros do Palácio do Planalto, ela tentava socorrer uma amiga que tem um filho com uma doença grave. A família do rapaz já havia recorrido à socióloga Rosângela da Silva, a Janja, que passou seu telefone e prometeu ajudar. O número fornecido, porém, não existia. Zélia decidiu então ligar diretamente para o presidente eleito. Um assessor informou que Lula estava em reunião, mas o recado seria imediatamente transmitido. O mesmo auxiliar retornou alguns minutos depois para dizer que o encontro com o presidente havia sido agendado e que ela não precisava se preocupar com o deslocamento. Um carro iria buscá-la na porta do restaurante dentro de dois dias — uma deferência cobiçada por muitas autoridades em Brasília, mas concedida pelo petista a pouquíssimas pessoas.

Tia Zélia é dona de um estabelecimento de chão de cimento queimado, mesas simples de madeira e toalhas coloridas que foi o palco de confabulações políticas nos governos do PT. Os escândalos do mensalão e do petrolão, que alvejaram a ambos, abateram o ânimo de muitos clientes do local, cujo movimento caiu vertiginosamente após a vitória de Jair Bolsonaro em 2018. Na pandemia, o estabelecimento só não foi à bancarrota porque Tia Zélia, que se recusa a pronunciar publicamente o nome do ex-capitão, transformou o local em uma fábrica de quentinhas. Com a vitória do PT, o local retomou o posto de ponto de encontro de próceres do partido, como o senador Jaques Wagner e a deputada Gleisi Hoffmann.

Sinais de recuperação do estabelecimento já haviam sido notados desde o início do ano, com a confirmação de que o cliente mais ilustre poderia voltar ao Palácio do Planalto. Assim, de forma gradativa, os tempos de vacas gordas — e as intermináveis rodadas de discussões petistas — começaram a voltar às mesas do restaurante, cujo cardápio varia conforme o dia da semana. O prato predileto de Lula, rabada com feijão e ovo, é servido às quintas-feiras. “Existe a possibilidade de o presidente passar aqui uma hora dessa. Em breve vou saber”, despista Tia Zélia, que já está na lista de convidados para a festa da posse. Na noite de quarta-feira 30, aliás, o restaurante estava reservado pelos petistas para a comemoração dos trinta dias da vitória.

ANTIGO POINT - O restaurante, a galeria de fotos dos petistas famosos que frequentam e já frequentaram o local e a comida caseira preparada pela dona do estabelecimento -
ANTIGO POINT - O restaurante, a galeria de fotos dos petistas famosos que frequentam e já frequentaram o local e a comida caseira preparada pela dona do estabelecimento – (Leonardo Caldas; Divulgação; Sergio Lima/AFP)

Tia Zélia conheceu Lula em 2008, recomendada por velhos militantes que frequentavam o restaurante, e virou amiga da família. Quando o ex-­presidente foi preso, em 2018, ela estava na primeira comitiva autorizada a visitá-lo em Curitiba, levando uma quentinha com rabada com pouca gordura — e ovo. A cozinheira não gosta de falar de política nem de emitir opiniões sobre a corte petista. No máximo, sai um elogio por Janja não deixar o marido engordar em demasia ou um comentário mais salgado sobre a ex-presidente Dilma Rousseff. “Veio aqui uma vez, mas não foi muito simpática”, justifica. A foto dela, com a faixa presidencial e tudo, integra a decoração kitsch de recortes de jornais e suvenires das paredes lotadas de referências a Lula no restaurante, mas apenas por que o mais famoso de seus comensais insistiu — e muito.

Neste momento de forte retomada, o restaurante também voltou a receber clientes não petistas. “Outro dia fiz mocotó e coloquei a panela em cima da mesa. O Humberto Costa, o Paulo Rocha e o Pacheco comeram tudo e adoraram”, conta Tia Zélia. Pacheco é o presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-­MG), candidato à reeleição com o apoio do PT. Apesar de expor as amizades em imagens e contar histórias sobre elas, Tia Zélia é discreta. Já foi levada por Lula ao Palácio da Alvorada para preparar iguarias, mas faz mistério sobre o episódio e deixa até no ar que viu algo por lá que não a agradou. Nesta semana, ela também recebeu a visita de Lurian Lula da Silva. Acompanhada do maestro de Chico Buarque, a filha mais velha do presidente eleito foi convidá-la para o show do cantor na capital federal. A volta do amigo a Brasília esquentou de vez o movimento da modesta taberna do poder.

Publicado em VEJA de 7 de dezembro de 2022, edição nº 2818

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

1 Mês por 4,00

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.