A pulga atrás da orelha da PF na operação contra Carla Zambelli
O computador da parlamentar não estava no gabinete no momento das buscas policiais - documentos relevantes tampouco
O gabinete 885 da Câmara dos Deputados estava estranhamente esvaziado na manhã da quarta-feira, 2, quando a Polícia Federal bateu à porta da deputada Carla Zambelli (PL-SP), suspeita de financiar o hacker Walter Delgatti Neto para que ele invadisse sistemas de informática do Poder Judiciário e, com isso, vitaminasse o discurso do ex-presidente Jair Bolsonaro de que as urnas eletrônicas são vulneráveis e passíveis de fraude. Zambelli foi alvo de ordens de busca emitidas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, mas os policiais não conseguiram apreender nada no gabinete da parlamentar. O computador que a deputada usa, por exemplo, não estava no local quando houve a batida. Tampouco documentos relevantes.
Diante deste cenário, integrantes da cúpula da PF passaram a considerar que Zambelli no mínimo cogitava estar na iminência de ser alvejada mais uma vez por ordens de Alexandre de Moraes e tratou de “sanear” o ambiente. Investigadores não acreditam, até o momento, que possa ter havido qualquer tipo de vazamento da operação, mas, como de praxe, não descartam peremptoriamente a hipótese.
No apartamento funcional da congressista em Brasília, policiais recolheram documentos e o passaporte da parlamentar. A deputada nega participação em uma suposta tentativa de fraudar o resultado eleitoral, a despeito de as investigações terem encontrado pagamentos de assessores dela ao hacker Delgatti. “Eu não fraudaria as eleições para o Lula ganhar, e nem seria tão barato assim”, provocou após a operação.
O hacker que alcançou notoriedade após invadir celulares de procuradores da Lava-Jato e tornar público métodos heterodoxos que o Ministério Público e o ex-juiz Sergio Moro usaram nas investigações do petrolão entrou ilegalmente em janeiro no sistema interno do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e, entre outras coisas, redigiu um mandado de prisão falso contra Alexandre de Moraes. A ideia teria por objetivo mostrar fragilidades de segurança e reverberar a falsa tese de que as urnas eletrônicas são passíveis de adulteração. Aos investigadores, Delgatti atribuiu a ofensiva contra o CNJ a uma ordem expressa de Carla Zambelli.