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A movimentada disputa pelo comando de Belém, sede da COP em 2025

Corrida pela prefeitura da capital paraense, palco de um dos eventos mais midiáticos do mundo, será embate entre Helder Barbalho, esquerda e bolsonarismo

Por Victoria Bechara Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 17 jun 2024, 12h29 - Publicado em 15 jun 2024, 08h00

A COP, Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, é um dos eventos mais importantes e midiáticos do mundo. A edição de 2023, em Dubai, reuniu mais de 40 000 pessoas de 190 países, entre elas ambientalistas, cientistas, celebridades, líderes políticos, como Emmanuel Macron (França), e monarcas, como o rei Charles III, do Reino Unido. Em novembro de 2025, será a vez de Belém receber o acontecimento, dentro do plano do país para colocar a Amazônia ainda mais em posição de destaque nas discussões globais sobre o assunto. Em meio à correria visando preparar a capital do Pará para receber um encontro desse porte, há uma disputa paralela entre políticos locais, de olho na eleição municipal que já é considerada a mais importante da história de lá. Afinal, o próximo prefeito será uma das autoridades brasileiras mais importantes e com maior visibilidade durante a COP.

Para começar, a corrida pelo comando de Belém a partir de 2025 envolverá dois grupos que já estão no poder local. O prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL), que tem um governo mal avaliado (75% da população reprova sua gestão, segundo o Paraná Pesquisas), tem ao menos o histórico a seu favor: já venceu três vezes a eleição para prefeito (1996, 2000 e 2020). Seu principal adversário deverá ser o ex-secretário estadual de Cidadania, Igor Normando (MDB), o nome escolhido por Helder Barbalho (MDB) para tentar retomar o controle político da capital. Trata-se de uma questão de honra, já que foi ele quem atuou, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ministra Marina Silva (Meio Ambiente), para trazer a COP28 à Amazônia.

CORRIDA - Rodrigues (de azul): pouco tempo para melhorar sua avaliação
CORRIDA – Rodrigues (de azul): pouco tempo para melhorar sua avaliação (Agência Belem//)

Nas cordas em razão do fraco desempenho na gestão, Edmilson Rodrigues ganhou um alento na última semana. Ele conseguiu manter o apoio do PT, que hoje ocupa o cargo de vice com Edilson Moura, e vão reeditar a dobradinha na única capital comandada pelos dois partidos. O PT cogitou se desgarrar de Rodrigues e lançar candidatura própria, mas manteve a parceria, homologada pela executiva nacional na segunda-feira 10. O casamento com o petismo é essencial para o prefeito. Além do apoio de Lula, ele terá mais tempo de TV e uma fatia generosa do fundo eleitoral, já que o PT é o maior partido da aliança (os outros são Rede, PV, PCdoB e PDT).

O outro cabo eleitoral com grande poder de influência na disputa já entrou pesado no jogo. Igor Normando, nome apoiado pelo governador Barbalho, tem a seu favor o capital político das Usinas da Paz, um projeto de segurança pública e ações sociais que comandou à frente da Secretaria da Cidadania e que virou um exemplo de política para a redução da violência em comunidades críticas do estado, em especial na região metropolitana. Falta ainda definir o vice da chapa — os cotados são Ursula Vidal (União Brasil) e Cássio Andrade (PSB), que comandavam as secretarias de Cultura e Esporte e deixaram os cargos nos prazos fixados pela lei. O fato de os nomes para a chapa serem de três ex-­secretários mostra o tamanho da importância dada à eleição pelo governador. Ao contrário do prefeito, Barbalho tem 78% de aprovação na capital.

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ESFORÇO - O governador Barbalho: vitória virou uma questão de honra para ele
ESFORÇO - O governador Barbalho: vitória virou uma questão de honra para ele (Bruno Cecim/Agência Pará//)

A disputa entre os dois grupos pode, no entanto, ser afetada por um terceiro e barulhento personagem. O deputado federal Éder Mauro, presidente estadual do PL, vem pontuando bem nos levantamentos e também está no páreo. Delegado da Polícia Civil, ele afirma que “já matou muita gente, mas todos eram bandidos”, costuma votar contra pautas ambientais na Câmara e é autor de projetos que favorecem o garimpo em áreas de conservação. Seu principal cabo eleitoral é o ex-­presidente Jair Bolsonaro (surpresa zero, portanto), que já confirmou presença em Belém em 30 de junho. No pleito de 2022, a cidade deu 50,28% dos votos a Lula e 49,72% ao então presidente.

O desafio do “prefeito da COP” não é pequeno. Será ele o responsável por dar continuidade aos preparativos em andamento, como a construção do Parque da Cidade, onde ocorrerão algumas reuniões da conferência, e do Porto Futuro II, complexo para atividades de economia e cultura — os dois projetos tocados pelo estado e União. Barbalho também assumiu a tarefa de recapear ruas e avenidas importantes, o que deveria ser papel da prefeitura. “A cidade quer fugir dessa dicotomia entre esquerda e bolsonarismo porque o que mais falta aqui é zeladoria, saneamento, coleta de lixo e recapeamento”, provoca Normando. Já o prefeito anunciou a reforma do Mercado Ver-­o-­Peso, um dos cartões-postais da cidade, e vai usar os menos de quatro meses que restam para tentar virar o jogo. O clima para a eleição da COP só vai esquentar daqui para a frente.

Publicado em VEJA de 14 de junho de 2024, edição nº 2897

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