A missão impossível de Bolsonaro em se descolar de Roberto Jefferson
Presidente e seus apoiadores tentam negar que ex-deputado, preso após atirar contra a PF, seja um aliado e lembram que ele já foi parceiro de Lula e do PT

Tão logo as primeiras imagens do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) recebendo agentes da Polícia Federal a tiros e granada em Levy Gasparian, no interior fluminense, começaram a aparecer nas redes sociais, membros de grupos bolsonaristas iniciaram um processo de ligar o ex-deputado federal ao PT. Fotos e vídeos antigos de Jefferson, atualmente apoiador de Jair Bolsonaro, ao lado de expoentes petistas, como o ex-ministro José Dirceu e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foram expostos no grupo Roberto Jefferson Livre, no Telegram.
Um dos materiais mostra a famosa declaração do ex-parlamentar, durante o processo de cassação de Dirceu, em 2005, na qual Jefferson falou: “Vossa Excelência desperta em mim os instintos mais primitivos (…). Sai daí rápido, Zé, para você não prejudicar um homem bom e correto, que tenho o orgulho de ter apertado a mão”, se referindo a Lula.
Desde o início da tarde de domingo, Bolsonaro tentou se descolar de quaisquer ligações com o agora ex-aliado. Desde chamá-lo de “bandido” a dizer que não há registro de fotos de encontros entre os dois — embora existam várias imagens –, foram muitas as tentativas do mandatário de dizer que ambos não tem ligações. “Nós não somos amigos, não temos relacionamento”, afirmou o presidente em sabatina na TV Record no domingo à noite.
Mas as ligações entre eles são muitas. Primeiro que o PTB, partido que Jefferson comanda, não só apoia a candidatura de Bolsonaro neste segundo turno presidencial, como também integra a coligação em torno do ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) na disputa pelo governo de São Paulo.
Além disso, o próprio Jefferson declarou que havia lançado a sua pré-candidatura presidencial no início do ano para ajudar Bolsonaro na luta contra esquerda. Em vídeo de treze minutos, ele afirmou à época que o objetivo era não deixar o presidente isolado, um “leão solitário contra uma alcateia”. “Enquanto a esquerda se apresenta como um polvo, com vários tentáculos, na forma de múltiplas candidaturas, preenchendo todos os nichos do eleitorado, o candidato de direita é desconstruído. A nossa ação não confronta Bolsonaro”, disse.
Depois, quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) indeferiu a sua candidatura, Jefferson colocou o seu vice, Padre Kelmon, como candidato presidencial. O que se viu depois foi o religioso assumir o papel de linha auxiliar de Bolsonaro nos dois debates dos quais participou no primeiro turno, na Globo e no SBT, atacando Lula e servindo de escada para Bolsonaro.
Além disso, Jefferson sempre foi tratado pelo bolsonarismo e por membros do governo Bolsonaro como um aliado. No dia 3 de agosto de 2021, por exemplo, o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral da Presidência) postou uma foto com Jefferson nas redes sociais e escreveu. “Recebi hoje a visita do presidente do PTB, Roberto Jefferson. Mais um soldado na luta pela liberdade do nosso povo e pela democracia do nosso Brasil”.
E, além de tudo, a campanha de Lula vai fazer o que for possível para impedir que Bolsonaro consiga virar essa página. Como informou a coluna Clarissa Oliveira, de VEJA, aliados de Lula passarão os últimas dias antes da eleição disseminando lembretes sobre os tempos em que Bolsonaro posava para a foto ao lado de Jefferson.
Jefferson foi preso no domingo por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que cancelou a prisão domiciliar da qual o ex-deputado desfrutava. Antes de se entregar, Bolsonaro chegou a pedir que o ministro da Justiça, Anderson Torres, interviesse no episódio, o que é um procedimento incomum e indica uma preocupação especial do governo com o ex-deputado.
Jefferson deverá passar nesta segunda-feira, 24, por uma audiência judicial de custódia.