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A estratégia de Pacheco para ocupar o centro na corrida ao Planalto

Emulando JK e Tancredo, o presidente do Senado aposta no perfil conciliador com o objetivo de se destacar na disputa eleitoral

Por Reynaldo Turollo Jr., Bruno Ribeiro, Tulio Kruse Atualizado em 4 jun 2024, 13h28 - Publicado em 29 out 2021, 06h00

Já bastante congestionado, o caminho do centro para as eleições de 2022 ganhou o 11º candidato. É mais um nome lançado na praça para tentar fisgar as simpatias de quem rejeita Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, que por ora lideram as pesquisas de intenção de voto. Na quarta 27, em uma cerimônia marcada por simbolismos, o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco, filiou-se ao PSD com um discurso cheio de acenos à conciliação política, ao abandono dos radicalismos e pela pregação otimista em relação ao país. Mineiro por criação — nasceu em Porto Velho (RO) —, ele evocou os ex-­presidentes Juscelino Kubitschek e Tancredo Neves, que entraram para a história como expoentes do jeito mineiro de fazer política, baseado na articulação discreta em busca de consensos possíveis. Em um auditório lotado do Memorial JK, em Brasília, Pacheco recebeu o broche do PSD das mãos de Anna Christina Kubitschek, neta do ex-­presidente, que ficou celebrizado pela expressão “cinquenta anos em cinco”, que marcou o espírito desenvolvimentista de seu governo (1956-61).

A exemplo dos outros postulantes a ocupar a chamada terceira via, Pacheco tem ainda uma longa estrada a percorrer para confirmar sua viabilidade eleitoral. Embora goze de prestígio em Brasília, onde ascendeu rapidamente, é um completo desconhecido do eleitor: segundo pesquisa Quaest deste mês, 53% não sabem de quem se trata. Sua intenção de voto medida pelo Ipespe em setembro foi de meros 2%. Por outro lado, tem um dos mais baixos índices de rejeição — 39%. No evento em Brasília, mineiramente, Pacheco discursou como candidato, mas não lançou a sua candidatura. O líder de seu partido e seu principal fiador, Gilberto Kassab, porém, não se fez de rogado. “Evidentemente, por causa da cautela dos mineiros, ele não vai aqui reconhecer, mas o Rodrigo Pacheco vai ser o nosso candidato e será presidente da República”, afirmou.

PADRINHO - Com Kassab: o ex-ministro é o principal fiador da candidatura -
PADRINHO - Com Kassab: o ex-ministro é o principal fiador da candidatura – (Cristiano Mariz/.)

Meses antes de ocupar o palco do Memorial JK, o potencial eleitoral do presidente do Congresso já vinha sendo testado em encontros com o empresariado (CNI, Fiesp, Secovi-SP e instituições financeiras), entidade de trabalhadores (UGT) e segmentos diversos, como lideranças evangélicas e a Associação Médica Brasileira. Nesses eventos, Pacheco despertou simpatias, principalmente por sua defesa de temas como responsabilidade fiscal, reformas e respeito às instituições, que ele prega usando quatro conceitos. “O primeiro é união nacional, que não significa aceitar tudo, pois a divergência sempre existirá em um regime democrático. O segundo é o respeito, especialmente na relação dos poderes e instituições. E respeito também à classe produtiva. Em terceiro, destaco a responsabilidade, em especial a responsabilidade fiscal, para que tenhamos um país com o tamanho certo. E o quarto ponto é o otimismo. Não podemos nos render ao negacionismo e ao negativismo”, disse ele em um encontro recente com cerca de 400 empresários da Associação Brasileira de Supermercados.

Há dois consensos sobre a trajetória política de Pacheco: ele ascendeu rápido demais e fez carreira acumulando mais aliados do que desafetos. Herdeiro de empresas de transporte rodoviário, ele ganhou reconhecimento como advogado criminalista em Minas Gerais, tendo defendido réus do Banco Rural no mensalão. Ocupou cargos na OAB e se elegeu deputado pelo MDB na chapa Dilma Rousseff-Michel Temer. Na Câmara, virou presidente da CCJ quando o colegiado barrou duas denúncias da Lava-Jato contra Temer, em 2017. Pouco antes, em 2016, concorreu à prefeitura de Belo Horizonte, chegando em terceiro lugar na disputa vencida por Alexandre Kalil, que foi um de seus raros desafetos e hoje é seu apoiador. Ambos se acusaram de pertencer à velha política, já que Pacheco tinha o apoio do MDB de Renan Calheiros e Eduardo Cunha, enquanto Kalil era abençoado pelo petismo.

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arte terceira via

Apesar da derrota, Pacheco movimentou-se para tentar o governo do estado em 2018. Para isso, deixou o MDB e, a convite de Rodrigo Maia, foi para o DEM. Não conseguiu viabilizar sua candidatura, pois o partido apoiou Antonio Anastasia, no que foi interpretado como um golpe de sorte por aliados, já que ele poderia ter sido batido por Romeu Zema (Novo) na esteira da onda da renovação política. Na ocasião, a migração para o DEM teve o apoio de Maia e do PSDB mineiro, controlado por Aécio Neves, que fez campanha para Pacheco ao Senado. Ele, aliás, ainda mantém com os aecistas um bom relacionamento. “A mudança partidária ocorre em alguns casos de forma traumática, quando há desavença, o que não parece ser o caso do Rodrigo em nenhum desses partidos pelos quais ele passou”, afirma o deputado Domingos Sávio (PSDB-MG), do grupo de Aécio.

Já no Senado, Pacheco foi alçado à presidência com o apoio de Davi Alcolumbre (DEM-AP), numa costura que reuniu de governistas ao PT, a quem prometeu independência em relação ao Executivo e diálogo interno. Aos poucos, ele foi se afastando do padrinho Alcolumbre e trilhando um caminho próprio no comando da Casa. Como deputado, Pacheco votou em 80% dos projetos de Dilma e 90% das propostas de Temer. A maioria de seus dezenove projetos é relacionada a interesses da advocacia e ao direito criminal. Como senador, relatou o projeto polêmico da Lei de Abuso de Autoridade. Ele já criticou os métodos da Lava-Jato, inclusive a possibilidade de prisão de condenados em segunda instância.

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ALIADO - Aécio: um dos que apoiaram o senador na sua carreira meteórica -
ALIADO - Aécio: um dos que apoiaram o senador na sua carreira meteórica – (Jefferson Rudy/Agência Senado)

Na caminhada de afastamento do governo, Pacheco já vinha desagradando a apoiadores de Bolsonaro antes mesmo do lançamento de sua candidatura de oposição. Ele impôs algumas derrotas a esse grupo, como ao devolver a MP que dificultava a remoção de conteúdo falso das redes sociais. Também não criou nenhum embaraço à instalação e ao funcionamento da CPI da Pandemia, que abalou a imagem de Bolsonaro. No discurso de filiação ao PSD, bem ao estilo mineiro, cutucou a gestão. “Esse último biênio nacional foi marcante. Foi tristemente marcante.” Um temor dos governistas é que, uma vez candidato, ele misture as pautas de interesse do Executivo com a agenda eleitoral, preocupação expressa pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. “Se ele se lança a presidente da República agora e não avança com as reformas, como é que vai defender a própria candidatura?”, disse.

Desde a redemocratização, nunca houve um presidente da Câmara ou do Senado disputando no cargo a eleição para presidente — em 1989, Ulysses Guimarães encerrou seu mandato em fevereiro, nove meses antes da votação. O temor da exagerada contaminação política no comando da Casa reverbera também entre a turma da Faria Lima. O CEO de um fundo de investimentos disse a VEJA que, controlando a pauta de votações enquanto candidato, Pacheco pode criar problemas se priorizar algum tipo de pauta populista, já que o mercado está atordoado com as decisões recentes de Guedes. Aliados dizem que Pacheco tem uma “condição moral” que lhe permite diferenciar suas funções institucionais de seus objetivos eleitorais e não veem necessidade de ele se licenciar da presidência do Senado para a eleição.

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RISCO - Lula: desconfiança de que Pacheco se alie futuramente ao petista -
RISCO - Lula: desconfiança de que Pacheco se alie futuramente ao petista – (@lulaoficial/Twitter)

Há mais alguns receios sobre a candidatura que se espalham para além do mercado financeiro. Um é a possibilidade de Kassab inflar Pacheco e depois negociar uma aliança com Lula, de quem foi ministro e continua próximo (talvez com Pacheco de vice). Os líderes do PSD, Kassab inclusive, negam que isso irá ocorrer e dizem que a candidatura de Pacheco tem o respaldo da ampla maioria do partido — o que não ocorreria se a sigla apoiasse o petista. Outro risco é a oposição a sua gestão no Senado aumentar em razão da eleição, o que pode desestabilizar o Congresso. “Os apoiadores das outras candidaturas vão tentar o tempo todo puxar o tapete dele”, acredita o cientista político Carlos Pereira, da FGV.

Existem ainda dúvidas sobre até que ponto uma dose exagerada de pregação pacifista e conciliadora pode cativar um número suficiente de pessoas em meio a debates quentes provocados pelos extremos representados por Lula e Bolsonaro. “Um discurso apenas positivo e propositivo não vai conseguir deslocar os eleitores”, alerta Pereira. Dessa forma, ironicamente, talvez um dos maiores problemas a ser enfrentado por Pacheco é o de ser mineiro demais para o atual cenário político do país.

Publicado em VEJA de 3 de novembro de 2021, edição nº 2762

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