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José Luiz Datena: “Vou ser presidente”

Após três desistências, o apresentador jura que será candidato ao Planalto, critica Bolsonaro e diz que a ascensão dele ocorreu por causa dos erros do PT

Oferecimento de Atualizado em 4 jun 2024, 13h33 - Publicado em 15 out 2021, 06h00
José Luiz Datena -
José Luiz Datena – (Egberto Nogueira/Ímãfotogaleria/VEJA)

Depois de ensaiar algumas incursões nas urnas, o apresentador de TV José Luiz Datena deve, enfim, estrear na política em 2022. E, se depender de suas pretensões, direto na disputa pela Presidência da República — segundo a última pesquisa Datafolha, de setembro, ele tem 4% das intenções de voto e apenas 19% de rejeição do eleitorado. Lançado candidato ao Planalto pelo PSL, o seu sexto partido, antes do anúncio da fusão com o DEM (que vai criar o União Brasil), ele declara que aceitaria o desafio de disputar prévias com outros presidenciáveis como o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Se perder, no entanto, poderia ir para o PDT e aceitar o convite para ser candidato a vice de Ciro Gomes. Em entrevista a VEJA na sede da TV Bandeirantes, no bairro do Morumbi, onde comanda o Brasil Urgente, programa popularesco que é líder de audiência da emissora na Grande São Paulo, Datena faz críticas ao governo Jair Bolsonaro — em especial à economia —, afirma que o capitão chegou ao poder graças aos erros cometidos pelos governos do PT, mas fustiga também João Doria (PSDB) e Sergio Moro (segundo a definição do jornalista, bem ao seu estilo, o ex-juiz não é a freira que entrou na boate).

O senhor já desistiu três vezes de entrar na política. Como acreditar que agora é mesmo para valer? A eleição que eu fiquei mais próximo de disputar foi a última, em 2020, quando, numa reunião na casa do João Doria, com Rodrigo Maia, Baleia Rossi e Bruno Covas, ficou acordado que eu seria candidato a vice-prefeito. E assim foi durante mais ou menos um mês e meio. No caminho, percebi que houve interferências políticas de um lado que não queria que eu fosse o vice do Bruno. Aí eu disse: “Bruno, não dá, tem muita gente contra, não quero criar problema”. Uma vez o Wilson Witzel me perguntou: “Por que você refugou três vezes?”. Eu falei: “Não quero passar o ridículo que o senhor está passando, de ser quase preso, quase levar sua senhora à cadeia e ser impichado”. Foi por isso que não fui para outras eleições. Porque tem o contato inicial, aí você vai conhecendo as pessoas e chega à conclusão de que não eram corretas. Hoje, sou o único candidato do PSL à Presidência, lançado pelo presidente (Luciano Bivar), e continuarei candidato.

Mas, após a fusão com o DEM, haverá outros presidenciáveis nesse páreo… Eu aceito prévias contra Luiz Henrique Mandetta e Rodrigo Pacheco, porque sou um democrata. Posso participar e ganhar. Agora, se eu perder, não quero ficar e ser candidato nem a governador nem ao Senado, porque tenho convites de outros partidos. Gilberto Kassab já me convidou para ser candidato e tive uma conversa com Ciro Gomes (PDT), que me ofereceu a possibilidade de ser candidato a vice dele ou a governador. Então, dessa fusão, eu só saio candidato a presidente.

Tem recebido apoio da Band e da sua família, que já foi contrária em outras ocasiões? Minha família é contra, não quer. A Band é muito democrática nesse aspecto. O Johnny Saad, que é o diretor-presidente da emissora, me deixou tranquilo para concorrer a qualquer coisa. Lógico que eu tenho que sempre fazer consulta a ele, porque afinal é meu empregador. Mas ele é mais do que isso, é um amigo, é um irmão mais velho.

“Há uma rejeição da grande imprensa ao tipo de programa que faço, que seria policialesco. Mas ele hoje é muito mais social do que policial. Não gosto de fazer, mas acho que faço bem”

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O senhor já foi do PT, PP, MDB, DEM, PRP e, agora, PSL. Como se define ideologicamente afinal? Nunca fui engajado na política desses partidos e não se pode dizer que eu tinha a ideologia deles. Minha ideologia é constitucional, independe de direita, esquerda, centro, e parte do princípio básico de um governo para o povo. Sou completamente contra qualquer ideologia que beire o fascismo, seja contra e arranhe a democracia.

Por que acha que pode disputar a Presidência? Só por ser popular? Popularidade não dá voto. Além dela, o que interessa é credibilidade. A televisão mostra sua alma, não estaria exposto há trinta anos se não tivesse credibilidade. Sou um cara que não rouba, sou honesto. Quando o dever público te chama, é importante que atenda. Se não, será governado pelos maus. Diferentemente do que Lula disse, que a eleição estava parecendo um Enem (em referência à busca por uma terceira via), a política está perdendo credibilidade, não porque procura a mim ou ao Luciano Huck ou a outro nome de fora, mas por gente como ele e Bolsonaro.

Como recebe as críticas a respeito do conteúdo do seu programa na TV, Brasil Urgente, que explora dramas pessoais e casos de polícia? Há uma rejeição da grande imprensa ao tipo de programa que faço, que seria policialesco. Ele é policial, mas hoje é muito mais social do que policial. Não sou repórter policial, eu estou apresentador de programa policial porque foi o que sobrou para mim. Já fui repórter esportivo, narrador esportivo, caí num programa policial quando acabou o esporte na Record. Não gosto de fazer, mas acho que faço bem.

Quais são os principais problemas do país? É a fome, o povo desassistido, a divisão de renda injusta. Nosso ministro da Economia, Paulo Guedes, que faz uma péssima gestão, só governou contra o povo. Quando precisava de auxílio emergencial justo, ele propôs 200 reais. O poder de compra está sendo corroído, destruído pela política econômica dele. O brasileiro precisa desesperadamente desse auxílio emergencial miserável, precisa desse auxílio miserável do Bolsa Família, mas o que quer de verdade é emprego.

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O próximo presidente pode herdar o país com inflação e desemprego em alta. Quem seria o seu ministro da Economia? Alguém que pensasse a favor do povo. “Ah, mas o cara não está agradando ao mercado financeiro.” Duvido que a turma da Faria Lima esteja satisfeita com o Paulo Guedes. Se eu for eleito por um partido desse tamanho (União Brasil), haverá um plano de governo definido por uma série de cabeças. O presidente não pode ser uma cabeça, uma sentença, ele tem de ser um representante do povo que divida as funções para governar. Mas para ajudar a população é preciso taxar mais os que ganham muito, enxugar o Estado e gastar direito.

O senhor é hoje muito crítico a Bolsonaro. Decepcionou-se com o governo dele? Tive todas as decepções, como todo cidadão que votou nele. Mas não esperava muito, sinceramente. Quem criou Bolsonaro foi a esquerda, o Lula indo para a cadeia, o Lula criando a Dilma, o pior governo de todos os tempos, que jogou o país no nosso pior período recessivo. Bolsonaro não foi eleito pelos méritos dele. Quem o elegeu foi a péssima condução dos regimes de esquerda. A incompetência da esquerda elegeu Bolsonaro, e a incompetência do governo Bolsonaro está agora trazendo Lula de volta.

Bolsonaro cometeu crimes na condução da pandemia? O fato de estimular as pessoas a não tomar vacina é crime? É crime pra caramba, é crime contra a humanidade. O fato de não usar máscara e provocar aglomerações também. Mas quantos como ele cometeram o mesmo crime e foram cínicos se dizendo adeptos da ciência? O que foi feito nas eleições? O Doria, por exemplo, recebeu um comunicado do centro de contingência do coronavírus de que o estado não deveria estar aberto como estava no mês das eleições. Mas ele preferiu arriscar. Eleito o prefeito, o que fez? Passou o estado inteiro para a fase amarela e foi viajar para Miami. Depois pediu desculpas. Quantas pessoas morreram com isso? Isso é negacionismo, e não foi só o Doria. A maioria dos governadores, para eleger seus prefeitos, fez a mesma coisa. Então boa parte desses caras foi negacionista também.

O senhor disse certa vez ter certeza de que Bolsonaro não é “ladrão”. Mantém a confiança na honestidade dele? Não teria capacidade hoje de responder à pergunta com essa convicção. Talvez ele mesmo não tenha roubado nada, duvido que tenha roubado, mas não sei se permitiu que roubassem ou se gente roubou em nome dele sem ele saber, ou com ele sabendo. Que os órgãos competentes apurem.

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Acredita que em 2022 o eleitor vai apostar outra vez em um candidato outsider depois da decepção com Bolsonaro? Primeiro que o Bolsonaro não é um cara de fora da política, está na política há trinta anos. Se tem um cara que é político, na acepção real do termo, com todos os defeitos ou acertos da política, é o Bolsonaro.

Mas ele se apresentou com um discurso de alguém de fora. Ele aproveitou o momento para se apresentar assim, mas não era de fora da política, não era oustsider, foi político a vida toda. Foi mais político do que militar.

“Quem criou Bolsonaro foi a esquerda, o Lula indo para a cadeia, o Lula criando a Dilma, o pior governo de todos os tempos. Bolsonaro não foi eleito pelos méritos dele”

Como avalia uma candidatura do ex-­juiz Sergio Moro, que também pode usar esse discurso antipolítica? Ele é uma pessoa honesta, mas não acho que seria um bom candidato, um bom presidente. Parece que ele julgou mal Lula, trocou informações que não deveria ter trocado com os procuradores. Isso não é uma coisa correta. Acho que ali ele pisou na bola, ainda mais assumindo depois disso o ministério de Bolsonaro. Isso não significa que ele seja desonesto. Às vezes o cara dá um escorregão na vida. Outra coisa é essa história de trabalhar para uma empresa que defende os interesses de uma companhia que ele condenou, como a Odebrecht. Prova que ninguém é anjo, ele não é a freira que entrou na boate.

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É possível quebrar a polarização Lula-­Bolsonaro? A polarização é, acima de tudo, uma estupidez, pregar o ódio. Polarizar é dividir em dois o que pode ser dividido em muitos, dar mais chance para que o brasileiro escolha. Tem de abrir o leque para que a disputa ideológica continue, porém mais aberta. Talvez esse número de indecisos, ou quem está ainda pensando em votar em Lula ou Bolsonaro, mude de posição com alguém que tenha ideias mais próximas de um Brasil que precisa mudar. Com esses dois, não vai.

O senhor vê alguma semelhança entre Lula e Bolsonaro? Ideologicamente, tudo diferente. De parecido, quase todo o resto, tanto que um levou ao outro — e vice-versa.

Qual dos dois o senhor acha que tiraria do segundo turno? Bolsonaro, com certeza. Ele é quem está perdendo voto, é o que dizem as pesquisas. Mais fácil tirar ele do que Lula.

Mas se os dois passarem, em quem afinal o senhor votaria? Não votaria em nenhum deles. Tenho certeza de que vai dar tudo certo e eu serei o próximo presidente da República.

Publicado em VEJA de 20 de outubro de 2021, edição nº 2760

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