Zelensky e Vance se encontram depois do ‘climão’ de Trump ligar primeiro para Putin
Presidente ucraniano e vice dos EUA devem falar das negociações para encerrar guerra na Ucrânia às margens da Conferência de Segurança em Munique

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, deve se encontrar com o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, às margens da Conferência de Segurança de Munique nesta sexta-feira, 14, depois que Donald Trump surpreendeu o mundo ao telefonar para Vladimir Putin e anunciar o início das negociações para o fim da guerra na Ucrânia – antes de consultar o líder do país.
A agenda prevê que Zelensky se reúna com Vance e com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, antes do início do evento internacional anual de líderes políticos, oficiais militares e diplomatas na cidade alemã (que na véspera foi alvo de um ataque, aparentemente não relacionado com a conferência).
A atitude do presidente dos Estados Unidos alimentou temores de que tanto seus aliados na Europa quanto a própria Ucrânia tenha um papel marginal na construção de um acordo para encerrar a guerra, o que pode favorecer a Rússia e minar a segurança do velho continente.
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Na quarta-feira, Trump anunciou ter tido uma conversa por telefone “altamente produtiva” com o presidente russo, dizendo que os dois concordaram em iniciar as negociações “imediatamente”. Só depois de postar sobre o assunto nas redes sociais que ele ligou para Zelensky e o informou dos últimos acontecimentos.
Publicamente, o líder ucraniano foi cordial diante do “climão”, mas também voltou a alertar lideranças internacionais de que não se pode “confiar nas alegações de Putin sobre estar pronto para encerrar a guerra”.
Futuro do apoio americano em questão
Zelensky pode enfrentar desafios para convencer Vance a continuar apoiando com recursos financeiros e militares americanos a resistência de Kiev.
Como senador, Vance foi cético e contrário ao que chamou de “cheques em branco” sendo enviados à Ucrânia. Na conferência de Munique do ano passado, ele disse que as prioridades estratégicas de Washington estavam mais na Ásia e no Oriente Médio do que no Leste Europeu.
Em 2022, numa entrevista a um podcast, ele disse: “Eu realmente não me importo com o que acontece na Ucrânia de uma forma ou de outra.”
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Guinada do novo governo
O telefonema com Putin e a descrição otimista que Trump fez da conversa quebram com o governo do ex-presidente Joe Biden, que tratava o russo como um pária internacional desde sua invasão à Ucrânia em fevereiro 2022.
O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, aumentou o desconforto entre os europeus ao declarar que a Ucrânia teria que desistir de seus objetivos para negociar a paz, descartando um retorno às suas fronteiras pré-2014, quando a Rússia anexou a Crimeia, bem como a adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
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O chefe da Casa Branca indicou que autoridades americanas também se encontrariam com representantes russos em Munique nesta sexta-feira – e que a Ucrânia havia sido convidada. Mas Kiev adiantou que não pretende participar de reuniões com Moscou por hora.
A Rússia não foi convidada para a conferência, que vai até o domingo, 16, sediada em um hotel de luxo no centro da cidade, mas isso não impediria um encontro paralelo em outro local em Munique.